Saturday, October 14, 2017

Agüenta coração


Pedro J. Bondaczuk


O País tem vivido um período de fortes emoções desde fins de junho, com a introdução da nova moeda, o real, e o sufoco causado pela performance da seleção brasileira na Copa do Mundo dos Estados Unidos. É uma época marcada pela esperança, mas que tem trazido vários sobressaltos.

No campo da economia, apesar de uma certa revolta em relação aos que abusaram na remarcação de preços, aos poucos a incerteza inicial vai cedendo lugar a um comportamento senão de euforia, como ocorreu no Plano Cruzado, pelo menos de tímida confiança de que desta vez as coisas têm maiores possibilidades de dar certo.

A população atendeu os apelos do bom senso e do ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, e não partiu para a orgia de compras que se verificou em 1986. Revelou maturidade e, pelo menos por enquanto, conserva uma sadia atitude de cautela, forçando os gananciosos a cair na realidade e reverter a onda de remarcações que antecedeu o lançamento do real.

A operação de troca de moedas, a maior já ocorrida no mundo, embora tenha apresentado alguns problemas naturais a um processo ousado de tamanha envergadura (como a falta de troco, por exemplo, ou os arredondamentos de preços), vem transcorrendo com surpreendente tranqüilidade.

Não existe ainda espaço para a euforia. Ninguém, a não ser o governo e naturalmente os autores do plano de estabilização, se atreve a dar um palpite sobre se o programa vai dar certo ou não.

O sucesso ou o fracasso dependem de uma série de fatores, alguns objetivos --- como o controle rígido dos gastos públicos e a emissão de moeda somente com a existência do correspondente lastro --- e outros subjetivos, principalmente a questão da credibilidade.

Se os agentes econômicos acreditarem que desta vez é para valer, e agirem nesse sentido, finalmente o País poderá deixar de conviver, após décadas, com as altíssimas e intoleráveis taxas de inflação.

Se no caso do real os sobressaltos não foram tão grandes como se temia, o mesmo não vale para o caso da seleção brasileira. Escrevemos estas considerações antes do jogo do Brasil com a Holanda e não sabemos, portanto, qual foi o resultado e se a equipe se classificou ou não para a fase aguda da Copa.

As expectativas, no entanto, eram de uma partida tensa, difícil e complicada, como foi a contra os Estados Unidos, que judiou de 150 milhões de brasileiros. Embora a torcida estivesse irritada com o desempenho dos jogadores, ou pelo menos da maioria deles, e principalmente com o técnico Carlos Alberto Parreira, por causa de sua suposta teimosia, todos (mesmo os que diziam, provavelmente para fazer gênero, que estavam torcendo contra), esperavam a classificação para as semifinais e finais. Afinal, a esperança é uma das características do brasileiro.

Nunca é demais passar um recado para os torcedores, especialmente aqueles mais apaixonados. O futebol nada mais é do que um esporte, um passatempo, um lazer, uma diversão. É dessa forma que precisa ser encarado. Não se trata, portanto, de uma guerra onde a honra da Pátria esteja em jogo, como alguns equivocadamente entendem.

Uma eventual derrota, com a conseqüente desclassificação --- que esperamos não ocorra --- deve ser recebida com "fairplay", com espírito esportivo. Portanto, moçada fanática, nada de arruaças e de violências, seja ou não o Brasil tetracampeão mundial!

(Artigo publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 9 de julho de 1994).



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