Agüenta coração
Pedro J. Bondaczuk
O País tem vivido um período
de fortes emoções desde fins de junho, com a introdução da nova
moeda, o real, e o sufoco causado pela performance da seleção
brasileira na Copa do Mundo dos Estados Unidos. É uma época marcada
pela esperança, mas que tem trazido vários sobressaltos.
No campo da economia, apesar
de uma certa revolta em relação aos que abusaram na remarcação de
preços, aos poucos a incerteza inicial vai cedendo lugar a um
comportamento senão de euforia, como ocorreu no Plano Cruzado, pelo
menos de tímida confiança de que desta vez as coisas têm maiores
possibilidades de dar certo.
A população atendeu os
apelos do bom senso e do ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, e não
partiu para a orgia de compras que se verificou em 1986. Revelou
maturidade e, pelo menos por enquanto, conserva uma sadia atitude de
cautela, forçando os gananciosos a cair na realidade e reverter a
onda de remarcações que antecedeu o lançamento do real.
A operação de troca de
moedas, a maior já ocorrida no mundo, embora tenha apresentado
alguns problemas naturais a um processo ousado de tamanha envergadura
(como a falta de troco, por exemplo, ou os arredondamentos de
preços), vem transcorrendo com surpreendente tranqüilidade.
Não existe ainda espaço para
a euforia. Ninguém, a não ser o governo e naturalmente os autores
do plano de estabilização, se atreve a dar um palpite sobre se o
programa vai dar certo ou não.
O sucesso ou o fracasso
dependem de uma série de fatores, alguns objetivos --- como o
controle rígido dos gastos públicos e a emissão de moeda somente
com a existência do correspondente lastro --- e outros subjetivos,
principalmente a questão da credibilidade.
Se os agentes econômicos
acreditarem que desta vez é para valer, e agirem nesse sentido,
finalmente o País poderá deixar de conviver, após décadas, com as
altíssimas e intoleráveis taxas de inflação.
Se no caso do real os
sobressaltos não foram tão grandes como se temia, o mesmo não vale
para o caso da seleção brasileira. Escrevemos estas considerações
antes do jogo do Brasil com a Holanda e não sabemos, portanto, qual
foi o resultado e se a equipe se classificou ou não para a fase
aguda da Copa.
As expectativas, no entanto,
eram de uma partida tensa, difícil e complicada, como foi a contra
os Estados Unidos, que judiou de 150 milhões de brasileiros. Embora
a torcida estivesse irritada com o desempenho dos jogadores, ou pelo
menos da maioria deles, e principalmente com o técnico Carlos
Alberto Parreira, por causa de sua suposta teimosia, todos (mesmo os
que diziam, provavelmente para fazer gênero, que estavam torcendo
contra), esperavam a classificação para as semifinais e finais.
Afinal, a esperança é uma das características do brasileiro.
Nunca é demais passar um
recado para os torcedores, especialmente aqueles mais apaixonados. O
futebol nada mais é do que um esporte, um passatempo, um lazer, uma
diversão. É dessa forma que precisa ser encarado. Não se trata,
portanto, de uma guerra onde a honra da Pátria esteja em jogo, como
alguns equivocadamente entendem.
Uma eventual derrota, com a
conseqüente desclassificação --- que esperamos não ocorra ---
deve ser recebida com "fairplay", com espírito esportivo.
Portanto, moçada fanática, nada de arruaças e de violências, seja
ou não o Brasil tetracampeão mundial!
(Artigo publicado na página
2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 9 de julho de 1994).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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