A dança das pesquisas
Pedro J. Bondaczuk
Á medida em que se aproxima o
primeiro turno das eleições municipais de 3 de outubro próximo,
mais e mais as pesquisas de opinião ganham destaque na imprensa.
Para uns, elas refletem de fato a intenção do eleitorado. Para
outros, são manipuladas e não passam de instrumento disfarçado de
propaganda.
Há os que se deixam levar por
elas e votam no candidato que as lidera. E existem os eleitores de
personalidade, que optam por um programa de governo e fecham questão
em torno dele, sem se deixar levar por qualquer outro tipo de
argumento. Seriam as pesquisas infalíveis? Evidentemente, não.
Há precedentes, e muitos, em
que elas não detectaram corretamente as tendências. Ou em que estas
mudaram radicalmente em cima da hora. O caso mais citado é o das
eleições de 1988, em São Paulo, quando o atual prefeito Paulo
Maluf estava muitos pontos à frente dos seus adversários, mas
acabou derrotado pela petista Luiza Erundina.
Outro episódio semelhante,
envolvendo o atual presidente Fernando Henrique Cardoso e Jânio
Quadros, também na Capital, ocorreu em 1984. Naquela oportunidade, a
vitória de FHC era dada como líquida e certa por todas as
pesquisas, que apenas variavam quanto à diferença. Na hora da
verdade, contudo, não foi o que aconteceu.
O que os institutos detectam é
a "intenção" de voto do eleitor e não o sufrágio em si.
E nada impede que esta venha a mudar em cima da hora, no momento
mesmo do exercício do voto. Não são muito freqüentes essas
mudanças de opinião, mas elas ocorrem. Se as pesquisas fossem
infalíveis, não seria necessária a votação.
Mas não é a exatidão das
consultas que se questiona, e sim a influência que exercem sobre o
eleitorado. Em alguns países, elas são proibidas um mês antes da
realização das eleições. Entre nós, a legislação não é tão
rígida.
As pesquisas eleitorais
completam, em 1996, exatos 60 anos. A primeira foi feita em 1936,
durante a sucessão presidencial norte-americana. De lá para cá, as
entrevistas tornaram-se mais sofisticadas, as tabulações de
resultados passaram a ser feitas por computadores e seu grau de
exatidão chega a quase 100%.
Mas elas são um retrato das
"intenções" do eleitor em dado momento. Não preveem, por
mais que se pretenda, o que o cidadão pesquisado vai de fato fazer
na hora de exercitar o direito de voto. É aí, nesse momento de
enorme responsabilidade, que se recomenda que ele seja absolutamente
racional e frio e expresse apenas o seu desejo, de forma livre,
democrática e soberana.
(Artigo escrito em 16 de
setembro de 1996)
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