Tuesday, October 31, 2017

A dança das pesquisas

Pedro J. Bondaczuk

Á medida em que se aproxima o primeiro turno das eleições municipais de 3 de outubro próximo, mais e mais as pesquisas de opinião ganham destaque na imprensa. Para uns, elas refletem de fato a intenção do eleitorado. Para outros, são manipuladas e não passam de instrumento disfarçado de propaganda.

Há os que se deixam levar por elas e votam no candidato que as lidera. E existem os eleitores de personalidade, que optam por um programa de governo e fecham questão em torno dele, sem se deixar levar por qualquer outro tipo de argumento. Seriam as pesquisas infalíveis? Evidentemente, não.

Há precedentes, e muitos, em que elas não detectaram corretamente as tendências. Ou em que estas mudaram radicalmente em cima da hora. O caso mais citado é o das eleições de 1988, em São Paulo, quando o atual prefeito Paulo Maluf estava muitos pontos à frente dos seus adversários, mas acabou derrotado pela petista Luiza Erundina.

Outro episódio semelhante, envolvendo o atual presidente Fernando Henrique Cardoso e Jânio Quadros, também na Capital, ocorreu em 1984. Naquela oportunidade, a vitória de FHC era dada como líquida e certa por todas as pesquisas, que apenas variavam quanto à diferença. Na hora da verdade, contudo, não foi o que aconteceu.

O que os institutos detectam é a "intenção" de voto do eleitor e não o sufrágio em si. E nada impede que esta venha a mudar em cima da hora, no momento mesmo do exercício do voto. Não são muito freqüentes essas mudanças de opinião, mas elas ocorrem. Se as pesquisas fossem infalíveis, não seria necessária a votação.

Mas não é a exatidão das consultas que se questiona, e sim a influência que exercem sobre o eleitorado. Em alguns países, elas são proibidas um mês antes da realização das eleições. Entre nós, a legislação não é tão rígida.

As pesquisas eleitorais completam, em 1996, exatos 60 anos. A primeira foi feita em 1936, durante a sucessão presidencial norte-americana. De lá para cá, as entrevistas tornaram-se mais sofisticadas, as tabulações de resultados passaram a ser feitas por computadores e seu grau de exatidão chega a quase 100%.

Mas elas são um retrato das "intenções" do eleitor em dado momento. Não preveem, por mais que se pretenda, o que o cidadão pesquisado vai de fato fazer na hora de exercitar o direito de voto. É aí, nesse momento de enorme responsabilidade, que se recomenda que ele seja absolutamente racional e frio e expresse apenas o seu desejo, de forma livre, democrática e soberana.


(Artigo escrito em 16 de setembro de 1996)


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk:

No comments: