Pacto social
Pedro J. Bondaczuk
O projeto de ajuste fiscal vem
encontrando sérias dificuldades no Congresso, como aliás já era
esperado. O que se refere à modernização dos portos acaba de ser
aprovado, com emendas, no Senado, o que equivale a dizer que deverá
retornar à Câmara de Deputados para novas deliberações.
Da pauta de 17 temas de
fundamental importância para o País, que os congressistas têm para
apreciar neste período de convocação extraordinária, cuja duração
expira em 10 de fevereiro próximo, menos de 10% foram debatidos.
Qual a razão dessa morosidade? É, certamente, o nó político
existente, que torna o País ingovernável na atualidade.
Ninguém prega um sistema de
virtual partido único, como ocorre no México desde a Revolução de
1910. O que se defende, com base nos fatos, é a criação de
organizações partidárias autênticas, programáticas, cujos
membros abracem de fato as teses que fundamentam sua existência.
Agremiações que tenham tradição, história e um passado brilhante
de operosidade, como ocorre nos países do chamado Primeiro Mundo.
O Brasil nunca teve isso.
Carece, portanto, de um pacto fundamental da sociedade. É hora de as
elites políticas pararem de fazer meras manobras em defesa de
interesses exclusivistas. Chegou o momento de os brasileiros
definirem os verdadeiros objetivos nacionais, despidos de retórica
como os constantes no preâmbulo da Constituição, ou de meras
manifestações de boas intenções, jamais consubstanciadas em ações
concretas.
Antes de buscar definir como
fazer, é preciso decidir o que a maioria da população quer, e por
quê. Que País pretendemos forjar para os nossos filhos? Que tipo de
sociedade temos condições de criar neste vasto território? Algo
parecido com o que já existe na Europa ou nos Estados Unidos ou um
simulacro dos paupérrimos reinos e caricatas republiquetas da
África, da Ásia ou da América Central?
Quando se fala em pacto social
--- expressão atualmente desgastada pelo uso inadequado --- o
estudioso de ciência política não está pensando apenas num
compromisso entre empresários, trabalhadores e governo para deter a
ascensão de preços, salários e tributos. Isto será obtido mais
facilmente e com menores traumas com a instituição de um mercado
autêntico, sem cartéis, monopólios ou oligopólios de quaisquer
espécies.
Desde as civilizações mais
remotas, perdidas nas brumas da História --- como a babilônia,
medo-persa, grega ou romana --- esta era a receita infalível para o
relacionamento perfeito entre as diversas classes.
Pacto social é o
estabelecimento de regras mínimas, válidas para todos, consensuais,
a que cada cidadão, integre qual grupo integrar, sinta-se
comprometido a cumprir, sem necessidade de coação ou fiscalização.
Sem isso, jamais teremos um país eu mereça de fato este nome. É o
que se chama "vontade nacional".
Os demais interesses
conflitantes --- e nunca é demais recordar que "democracia é
a administração dos conflitos de uma sociedade" --- é tarefa
para os partidos defenderem. Para tanto, eles não podem se limitar a
ser um mero conjunto de siglas (entre nós são 32 a confundir a
cabeça do cidadão, que raramente se sente comprometido com alguma).
Precisam possuir princípios,
programas, caminhos de viabilização nacional que sejam coerentes,
factíveis e sadios. Sem este pacto social, do qual o País está
muitíssimo distante, não haverá ninguém que nos possa governar.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de janeiro de 1993).
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