Ingovernabilidade explícita
Pedro J. Bondaczuk
Os últimos
episódios registrados no Congresso, referentes à apreciação e
votação das medidas provisórias que integram o plano de
estabilização econômica do ministro da Fazenda, Fernando Henrique
Cardoso, e, especialmente, o impasse depois superado, na revisão
constitucional, em torno do Fundo Social de Emergência, desnudaram,
por completo, para aqueles que ainda pudessem ter alguma dúvida, a
ineficácia do atual sistema político brasileiro.
É
nessa distorção, inclusive, que reside o ponto central da crise que
há tanto tempo abala o País e freia o seu desenvolvimento. Falta
consistência aos partidos, os homens públicos carecem de um sentido
acerca do real significado da representatividade e o eleitorado
permanece despolitizado, sendo levado ao sabor das marés e de
arroubos demagógicos.
Note-se
que para acentuar a inadequação do sistema, sequer se mencionou a
corrupção, esse cancro que corrói as entranhas do poder, não
apenas no Brasil, mas, em medidas variáveis, em virtualmente todos
os países do mundo.
É
inconcebível, por exemplo, a existência de 37 agremiações
partidárias, a maioria meras siglas, sem ideologia ou programa, 18
das quais com representação no Parlamento. Quem é governo
atualmente? Quem está contra? Tais definições nunca ficaram
claras, pelo menos depois da penosa redemocratização, nos três
últimos governos.
Os
partidos agem como franco-atiradores, apoiando ou rejeitando
propostas, ao sabor de seus interesses ou de grupos a que representam
(quando não lhes conferem vantagens muitas vezes ilícitas). E a
governabilidade, como fica?
Itamar
Franco assumiu como aqueles goleiros, no futebol, que estão na
reserva e entram no momento mais crítico de uma partida decisiva,
substituindo o titular, quando o seu time sofre o maior assédio, ou
seja, na “fogueira”.
O
problema do Brasil, portanto, não é de nomes. É de absoluta
inadequação de seu sistema político, que torna o País
virtualmente ingovernável.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 10 de
fevereiro de 1994).
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