Palanque eletrônico
Pedro J. Bondaczuk
A propaganda política por
rádio e televisão começa hoje. Portanto, as campanhas, objetivando
as eleições de 3 de outubro próximo, têm início, para valer,
apenas agora. No mundo contemporâneo, o palanque eletrônico tem
eficácia muito maior do que centenas de comícios e contatos
políticos, aqueles que se convencionou classificar de "corpo a
corpo".
Dependendo do desempenho dos
candidatos na telinha, pesquisas de opinião podem ser revertidas,
inclusive nas vésperas da votação, e quem a princípio parecia não
ter a mínima chance, acaba, muitas vezes, se elegendo, caso consiga
estabelecer empatia com o eleitor. Ou seja, saiba torná-lo uma
espécie de cúmplice das suas ideias e propostas.
E este fenômeno não se
restringe ao Brasil. Ocorre, principalmente, nos Estados Unidos e na
Europa Ocidental. Temos defendido, há tempos, o exercício político
em que preponderem os partidos, os princípios e os programas, e não
as pessoas.
Todavia, a tendência que se
observa, hoje em dia, nas várias partes do mundo em que as eleições
são para valer e não se restrinjam a mero jogo de cena (como
ocorria nos países comunistas), é uma preponderância crescente,
quase absoluta, de indivíduos.
O jornalista francês
François-Henri de Virieu constatou, em ensaio publicado há cerca de
quatro anos: "A TV tornou o discurso político mais simples, e
mesmo simplista: as pequenas frases e fórmulas breves substituíram
os longos discursos, que correriam o risco de levar o telespectador a
mudar de canal".
Essa simplificação ficará
mais caracterizada ainda, entre nós, neste ano, dada a proibição
da lei eleitoral da exibição de cenas externas durante a propaganda
pela televisão. Dessa forma, ou o candidato tem alguma coisa
interessante a dizer, ou corre o risco de falar sozinho.
Claro que todos contam com
assessorias competentes e têm, atrás de si, todo um trabalho, um
vasto e bem planejado aparato de "marketing político". As
imagens de homens públicos são vendidas, hoje em dia, com as mesmas
e avançadas técnicas utilizadas para convencer o consumidor a
comprar, por exemplo, determinado dentifrício, ou certa marca de
sabonete, ou presunto da empresa "x" ou "y".
Compete ao eleitor, que não
quiser se deixar trair meramente pelas aparências e pretenda acertar
na escolha, ficar atento ao conteúdo das mensagens e saber
"peneirar" as ideias da mera retórica eleitoreira.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 2 de agosto de 1994).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment