Sunday, October 22, 2017

Palanque eletrônico


Pedro J. Bondaczuk


A propaganda política por rádio e televisão começa hoje. Portanto, as campanhas, objetivando as eleições de 3 de outubro próximo, têm início, para valer, apenas agora. No mundo contemporâneo, o palanque eletrônico tem eficácia muito maior do que centenas de comícios e contatos políticos, aqueles que se convencionou classificar de "corpo a corpo".

Dependendo do desempenho dos candidatos na telinha, pesquisas de opinião podem ser revertidas, inclusive nas vésperas da votação, e quem a princípio parecia não ter a mínima chance, acaba, muitas vezes, se elegendo, caso consiga estabelecer empatia com o eleitor. Ou seja, saiba torná-lo uma espécie de cúmplice das suas ideias e propostas.

E este fenômeno não se restringe ao Brasil. Ocorre, principalmente, nos Estados Unidos e na Europa Ocidental. Temos defendido, há tempos, o exercício político em que preponderem os partidos, os princípios e os programas, e não as pessoas.

Todavia, a tendência que se observa, hoje em dia, nas várias partes do mundo em que as eleições são para valer e não se restrinjam a mero jogo de cena (como ocorria nos países comunistas), é uma preponderância crescente, quase absoluta, de indivíduos.

O jornalista francês François-Henri de Virieu constatou, em ensaio publicado há cerca de quatro anos: "A TV tornou o discurso político mais simples, e mesmo simplista: as pequenas frases e fórmulas breves substituíram os longos discursos, que correriam o risco de levar o telespectador a mudar de canal".

Essa simplificação ficará mais caracterizada ainda, entre nós, neste ano, dada a proibição da lei eleitoral da exibição de cenas externas durante a propaganda pela televisão. Dessa forma, ou o candidato tem alguma coisa interessante a dizer, ou corre o risco de falar sozinho.

Claro que todos contam com assessorias competentes e têm, atrás de si, todo um trabalho, um vasto e bem planejado aparato de "marketing político". As imagens de homens públicos são vendidas, hoje em dia, com as mesmas e avançadas técnicas utilizadas para convencer o consumidor a comprar, por exemplo, determinado dentifrício, ou certa marca de sabonete, ou presunto da empresa "x" ou "y".

Compete ao eleitor, que não quiser se deixar trair meramente pelas aparências e pretenda acertar na escolha, ficar atento ao conteúdo das mensagens e saber "peneirar" as ideias da mera retórica eleitoreira.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 2 de agosto de 1994).



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