Friday, October 13, 2017

O povo escolheu


Pedro J. Bondaczuk


O Brasil viveu, ontem, um espetáculo de civismo pelo qual milhões de pessoas se empenharam durante anos para que acontecesse: as eleições diretas, em especial para a Presidência da República. Foram as segundas desde o fim da ditadura.

A julgar pelo que ocorreu em Campinas, a votação foi relativamente tranqüila e ordeira. Os incidentes registrados foram os previstos, negligenciáveis, num país gigantesco como o nosso, de dimensões continentais, com tantas diferenças regionais.

Estudos divulgados durante a semana passada previam que apenas 12% dos deputados federais eleitos seriam novatos, que jamais exerceram mandato parlamentar. Pode ser. Mas a julgar pelo desencanto causado pelo atual Congresso, essa limpeza pode ser muito maior.

Isto, se o eleitor exerceu com consciência seu direito de escolha, sem votar em branco ou anular o voto. Campanhas de esclarecimento para evitar a ocorrência dessa desastrosa omissão não faltaram. Quem agiu de forma inconsciente, portanto, não terá desculpas e nem poderá reclamar de nada a partir do ano que vem, quando os eleitos de ontem forem empossados.

A grande expectativa, antes do início das apurações, é se haverá ou não um segundo turno para a Presidência. As pesquisas de opinião foram unânimes em prever que não. Está em jogo a credibilidade dos institutos que as fizeram e as divulgaram. Até porque, a diferença apontada por todas, com variações inexpressivas entre uma e outra, envolvendo os candidatos de ponta, foi grande demais para que se possa atribuir qualquer surpresa à margem de erro, cujo limite é de até cinco pontos percentuais.

Caso as eleições tenham sido, de fato, definidas na votação de ontem, chegou o momento de se tentar unir todas as correntes políticas em torno de um projeto comum, que tire o País, de vez, da crise. Faz-se indispensável um sólido programa de retomada do desenvolvimento, que resgate a imensa dívida social brasileira.

É também urgente prover de empregos milhões de pais de família e jovens que querem entrar no mercado de trabalho. É inadiável a revisão do sucateado sistema de saúde pública e do decadente ensino, em especial o básico.

O déficit habitacional é tão grande, que não há mais como adiar soluções nesse campo. A segurança pública requer atenção especial, pois a violência nas grandes cidades faz mais vítimas do que a guerra civil da Bósnia.

Enfim, há muito que fazer, para que as várias correntes políticas nacionais continuem divididas, brigando por picuinhas. O sucessor eleito de Itamar Franco, seja quem for, deve se conscientizar de que não será o presidente do seu partido, ou apenas dos cidadãos que votaram nele, mas de todos os brasileiros. A hora é de diálogo e união.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 4 de outubro de 1994).


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