O povo escolheu
Pedro J. Bondaczuk
O Brasil viveu, ontem, um
espetáculo de civismo pelo qual milhões de pessoas se empenharam
durante anos para que acontecesse: as eleições diretas, em especial
para a Presidência da República. Foram as segundas desde o fim da
ditadura.
A julgar pelo que ocorreu em
Campinas, a votação foi relativamente tranqüila e ordeira. Os
incidentes registrados foram os previstos, negligenciáveis, num país
gigantesco como o nosso, de dimensões continentais, com tantas
diferenças regionais.
Estudos divulgados durante a
semana passada previam que apenas 12% dos deputados federais eleitos
seriam novatos, que jamais exerceram mandato parlamentar. Pode ser.
Mas a julgar pelo desencanto causado pelo atual Congresso, essa
limpeza pode ser muito maior.
Isto, se o eleitor exerceu com
consciência seu direito de escolha, sem votar em branco ou anular o
voto. Campanhas de esclarecimento para evitar a ocorrência dessa
desastrosa omissão não faltaram. Quem agiu de forma inconsciente,
portanto, não terá desculpas e nem poderá reclamar de nada a
partir do ano que vem, quando os eleitos de ontem forem empossados.
A grande expectativa, antes do
início das apurações, é se haverá ou não um segundo turno para
a Presidência. As pesquisas de opinião foram unânimes em prever
que não. Está em jogo a credibilidade dos institutos que as fizeram
e as divulgaram. Até porque, a diferença apontada por todas, com
variações inexpressivas entre uma e outra, envolvendo os candidatos
de ponta, foi grande demais para que se possa atribuir qualquer
surpresa à margem de erro, cujo limite é de até cinco pontos
percentuais.
Caso as eleições tenham
sido, de fato, definidas na votação de ontem, chegou o momento de
se tentar unir todas as correntes políticas em torno de um projeto
comum, que tire o País, de vez, da crise. Faz-se indispensável um
sólido programa de retomada do desenvolvimento, que resgate a imensa
dívida social brasileira.
É também urgente prover de
empregos milhões de pais de família e jovens que querem entrar no
mercado de trabalho. É inadiável a revisão do sucateado sistema de
saúde pública e do decadente ensino, em especial o básico.
O déficit habitacional é tão
grande, que não há mais como adiar soluções nesse campo. A
segurança pública requer atenção especial, pois a violência nas
grandes cidades faz mais vítimas do que a guerra civil da Bósnia.
Enfim, há muito que fazer,
para que as várias correntes políticas nacionais continuem
divididas, brigando por picuinhas. O sucessor eleito de Itamar
Franco, seja quem for, deve se conscientizar de que não será o
presidente do seu partido, ou apenas dos cidadãos que votaram nele,
mas de todos os brasileiros. A hora é de diálogo e união.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 4 de outubro de 1994).
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