Sunday, October 08, 2017

Mudanças não eliminam golpes e ditaduras

Pedro J. Bondaczuk

A tão propalada nova era, advinda do fim da guerra fria, por enquanto não passa de pomposo slogan político, de mera manifestação triunfalista do presidente norte-americano George Bush, de olho na campanha sucessória do seu país.

É verdade que tensões que duravam algumas décadas acabaram, mediante acordos. O leste europeu livrou-se do comunismo, embora sobreviva – e sempre sobreviverá – o ideal socialista de um mundo justo, onde nenhum ser humano morra por falta de comida ou de assistência médica e todos tenham pelo menos a oportunidade de acesso à educação. O Muro de Berlim caiu e as duas Alemanhas se reunificaram fisicamente, apesar de permanecerem divididas por invejas e preconceitos recíprocos. A Namíbia conquistou sua independência, tendo pela frente a árdua tarefa de queimar etapas para sair do enorme atraso a que ficou relegada enquanto colônia.

Todavia, seria uma infantilidade, senão enorme tolice, afirmar que a humanidade caminha para a concretização dos ideais de liberdade dos povos. Tiranias e tiranos ain da existem às dezenas, infernizando a vida de milhões, senão de bilhões de cidadãos. Ditaduras perversas resistem aos novos tempos e golpes se sucedem nas sociedades mais miseráveis, cujos povos são totalmente desprotegidos e lembrados apenas a título de curiosidade, de aberração, quando se se quer exemplificar o pitoresco. Ódios seculares entre etnias renascem ou despertam, porquanto estavam apenas adormecidos e não extintos, na esteira de um nacionalismo irreal, constantemente realimentado por grupos de interesse e por ideólogos radicais, esfacelando vacilantes e instáveis federações, como a Iugoslávia e a União Soviética.

A criatura – Estado – continua ganhando maior importância do que o criador – o indivíduo – num processo que se não for detido irá impossibilitar qualquer solução duradoura para os problemas mundiais. O filósofo Arthur Schopenhauer, em seu livro “O livre arbítrio”, ensinou: “Dizemos que um povo é livre quando não é governado senão por leis que ele mesmo formulou, dado que assim obedece à própria vontade. A liberdade política deve estar, por conseguinte, irmanada à liberdade física”. Convenhamos, não é isso o que ocorre nem nas sociedades consensualmente chamadas de “democráticas”. A democracia representativa, intrinsecamente benéfica e sobretudo funcional, sofre crescentes distorções na atualidade, levando os políticos ao absoluto descrédito.

John Naisbitt, em seu livro “Megatendências” acentua que “as pessoas cujas vidas são afetadas por uma decisão devem ser parte do processo de se chegar a essa decisão”. Mas onde isto ocorre? Em que lugar os legisladores mantêm contato permanente com os que os elegeram para detectar suas necessidades, aflições e interesses e atuar verdadeiramente em seu nome? O Prêmio Nobel de Economia de 1974, Friedrich August von Hayek, acentua: “A antiga definição de lei foi perdida; passou-se a chamar de lei tudo o que é feito pelo Legislativo, e não interessa saber se conta com todos os atributos que outrora caracterizavam uma lei – repito, normas gerais de conduta, idênticas para todos os cidadãos e aplicáveis num número desconhecido de casos futuros”.

Uma nova era somente estará nascendo quando as pessoas forem livres para criar, prosperar e se desenvolver, respeitando a liberdade alheia. Quando as leis forem elaboradas tendo em vista o respeito à característica e finalidade dessa instituição. Caso contrario, dentro de dez, quinze ou cinquenta anos, se a humanidade não for destruída, será válido o texto de Confúcio que é milenar e cabe para nossos tempos: “havia uma moreira tenra e flexível, cujas folhas e ramos sombreavam ao longe a Terra. Já suas folhas caem amareladas e secas. O povo que vive debaixo dessa amoreira está oprimido pelas fadigas; sofre tanto que não acha descanso”.

(Artigo publicado na editoria Internacional do Correio Popular, em 5 de outubro de 1991).



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