Mudanças
não eliminam golpes e ditaduras
Pedro
J. Bondaczuk
A tão propalada nova era,
advinda do fim da guerra fria, por enquanto não passa de pomposo
slogan político, de mera manifestação triunfalista do presidente
norte-americano George Bush, de olho na campanha sucessória do seu
país.
É verdade que tensões que
duravam algumas décadas acabaram, mediante acordos. O leste europeu
livrou-se do comunismo, embora sobreviva – e sempre sobreviverá –
o ideal socialista de um mundo justo, onde nenhum ser humano morra
por falta de comida ou de assistência médica e todos tenham pelo
menos a oportunidade de acesso à educação. O Muro de Berlim caiu e
as duas Alemanhas se reunificaram fisicamente, apesar de permanecerem
divididas por invejas e preconceitos recíprocos. A Namíbia
conquistou sua independência, tendo pela frente a árdua tarefa de
queimar etapas para sair do enorme atraso a que ficou relegada
enquanto colônia.
Todavia, seria uma
infantilidade, senão enorme tolice, afirmar que a humanidade caminha
para a concretização dos ideais de liberdade dos povos. Tiranias e
tiranos ain da existem às dezenas, infernizando a vida de milhões,
senão de bilhões de cidadãos. Ditaduras perversas resistem aos
novos tempos e golpes se sucedem nas sociedades mais miseráveis,
cujos povos são totalmente desprotegidos e lembrados apenas a título
de curiosidade, de aberração, quando se se quer exemplificar o
pitoresco. Ódios seculares entre etnias renascem ou despertam,
porquanto estavam apenas adormecidos e não extintos, na esteira de
um nacionalismo irreal, constantemente realimentado por grupos de
interesse e por ideólogos radicais, esfacelando vacilantes e
instáveis federações, como a Iugoslávia e a União Soviética.
A criatura – Estado –
continua ganhando maior importância do que o criador – o indivíduo
– num processo que se não for detido irá impossibilitar qualquer
solução duradoura para os problemas mundiais. O filósofo Arthur
Schopenhauer, em seu livro “O livre arbítrio”, ensinou: “Dizemos
que um povo é livre quando não é governado senão por leis que ele
mesmo formulou, dado que assim obedece à própria vontade. A
liberdade política deve estar, por conseguinte, irmanada à
liberdade física”. Convenhamos, não é isso o que ocorre nem nas
sociedades consensualmente chamadas de “democráticas”. A
democracia representativa, intrinsecamente benéfica e sobretudo
funcional, sofre crescentes distorções na atualidade, levando os
políticos ao absoluto descrédito.
John Naisbitt, em seu livro
“Megatendências” acentua que “as pessoas cujas vidas são
afetadas por uma decisão devem ser parte do processo de se chegar a
essa decisão”. Mas onde isto ocorre? Em que lugar os legisladores
mantêm contato permanente com os que os elegeram para detectar suas
necessidades, aflições e interesses e atuar verdadeiramente em seu
nome? O Prêmio Nobel de Economia de 1974, Friedrich August von
Hayek, acentua: “A antiga definição de lei foi perdida; passou-se
a chamar de lei tudo o que é feito pelo Legislativo, e não
interessa saber se conta com todos os atributos que outrora
caracterizavam uma lei – repito, normas gerais de conduta,
idênticas para todos os cidadãos e aplicáveis num número
desconhecido de casos futuros”.
Uma nova era somente estará
nascendo quando as pessoas forem livres para criar, prosperar e se
desenvolver, respeitando a liberdade alheia. Quando as leis forem
elaboradas tendo em vista o respeito à característica e finalidade
dessa instituição. Caso contrario, dentro de dez, quinze ou
cinquenta anos, se a humanidade não for destruída, será válido o
texto de Confúcio que é milenar e cabe para nossos tempos: “havia
uma moreira tenra e flexível, cujas folhas e ramos sombreavam ao
longe a Terra. Já suas folhas caem amareladas e secas. O povo que
vive debaixo dessa amoreira está oprimido pelas fadigas; sofre
tanto que não acha descanso”.
(Artigo publicado na editoria
Internacional do Correio Popular, em 5 de outubro de 1991).
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