Inteligência e coração
Pedro J. Bondaczuk
O escritor russo, Máximo Gorky, afirmou, certa ocasião, que “a
ciência é a inteligência do mundo; a arte, o seu coração”. De
fato, ambas atividades refletem, antes e acima de tudo, o poder de
criatividade do homem, além de seu insaciável desejo de
conhecimentos.
As duas disciplinas, se atentarmos bem, se relacionam e se
entrelaçam. Ou melhor, se complementam. São como irmãs siamesas
que convivem num mesmo corpo, posto que com cabeças diferentes. A
ciência tem muito de emoção, de sonho e de fantasia, a despeito da
precisão de seus métodos.
O físico Albert Einstein assegurou, com a autoridade de eminente e
reconhecido cientista que foi, que toda conquista científica começa,
invariavelmente, com a imaginação, o sonho e a fantasia. Estes,
todavia, são testados ao extremo em laboratórios, e com o máximo
rigor, até que o pesquisador se convença da sua realidade. Para
isso, no entanto, tem que “descobrir”, e expor, as inflexíveis
leis que regem os fenômenos estudados.
Todavia, para se tornar verdade científica, só isso não basta. É
indispensável que o cientista reproduza o que quer demonstrar que é
verdadeiro dez, vinte, mil, quantas vezes forem necessárias, para
que seja tido como real para a ciência.
As artes têm caminhos inversos. O artista, via de regra, parte do
concreto, do palpável, do real, do verdadeiro para desembocar no
sonho, no virtual e na fantasia. Seu instrumento predileto (diria
indispensável) é a verossimilhança. Ou seja, fazer com que o fruto
da sua imaginação se “pareça” com a realidade, mesmo que não
integralmente. O escritor, por exemplo, quando escreve alguma
história de ficção científica, procura jamais contrariar leis e
princípios da física, da química, da biologia etc. Ou seja, tenta
tornar os personagens, cenários, diálogos e circunstâncias os mais
verossímeis possíveis, mesmo em se tratando de notórias e
delirantes fantasias.
Guardadas as devidas proporções, as demais artes seguem a mesma
trilha. Como as ciências, têm, igualmente, suas leis, suas
técnicas, seus procedimentos, seus testes, suas verificações
etc.etc.etc. Assemelham-se, pois, na forma e na substância.
Não vejo conflito algum entre ciência e arte. Vejo
complementaridade. O cientista enxerga o mundo como ele é, tendo
como ponto de partida como o imagina. A arte, por seu turno,
enxerga-o como poderia ser, partindo de como ele, de fato, é. Nada
impede, portanto, que um cientista competente e rigoroso seja,
simultaneamente, um artista talentoso e criativo e vice-versa. Aliás,
o ideal seria que todas as pessoas fossem um pouquinho de ambos.
As duas atividades geram, sempre, conseqüências práticas. A
ciência desemboca na tecnologia, que, por seu turno, viabiliza as
descobertas feitas em laboratório, facilitando a vida das pessoas. A
arte induz seus destinatários à reflexão, à meditação, às
verdades fundamentais do que e quem são, onde estão e quais são
seus objetivos e metas. Não se trata, pois, de nenhuma inutilidade,
como alguns desavisados (ou néscios?) são tentados a achar.
O que seria do mundo sem a ciência? O homem ainda estaria habitando
em cavernas (caso a espécie não desaparecesse), vivendo da caça e
da coleta de alimentos, exposto às mais banais doenças, como ser
semi selvagem, aterrorizado por fenômenos naturais que atribuiria a
“deuses” existentes apenas em sua primitivíssima imaginação.
Não saberia, sequer, como produzir fogo (técnica que pode ser
considerada como “científica”, sem dúvida). Não teria
inventado a roda, não criaria a agricultura, a pecuária, não teria
absolutamente nada do que tem. Pense nisso, querido leitor.
E o que seria do mundo sem as artes? O homem, certamente, não
contaria com esta fabulosa capacidade de “estocar” pensamentos,
sentimentos e experiências para utilização de gerações que
sucedessem à sua, pois não contaria com esta maravilha do
intelecto, que é a escrita.
Lembrem-se que todos os alfabetos, sem exceção, surgiram de
símbolos pictóricos. Ou seja, da pintura, que nada mais é do que
uma das artes. O homem não teria como expressar emoções. Seria
tomado por angústia tão intensa, que o conduziria à absoluta
insanidade.
Não haveria música e nem dança para expressar alegria, tristeza,
paixão, amor etc. Não existiriam pintura e nem escultura. E, claro,
inexistiria a literatura. O mundo seria sombrio, pavoroso, chato,
tedioso e sem graça. Sem a ciência, não haveria inteligência. Sem
a arte, a emoção, sem válvulas de escape, findaria por fazer o
homem explodir em ira e violência, avassaladoras e destrutivas.
Seria o caos! Pense nisso.
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