Obras da natureza
Pedro J. Bondaczuk
O homem ainda está muito longe da compreensão dos conceitos básicos
que cercam a sua existência, como quem é, de onde veio, onde está,
qual a finalidade da sua existência e de tudo o que o cerca, e vai
por aí afora. Todavia, em sua arrogância, acha que tudo sabe e tudo
pode e age de forma destrutiva e imprudente, tentando modificar o que
sequer entende como funciona e, em cujo funcionamento, portanto, não
deveria interferir.
Refiro-me, claro, às pessoas excepcionais, com níveis de
compreensão, conhecimentos e informações acima da média, que
constituem, no correr das gerações, irrisória minoria. A grande
maioria é constituída por indivíduos com nível mental pouco acima
dos chimpanzés, por exemplo. Tenho lá minhas dúvidas se vários
deles não são mais tapados do que grande parte dos símios.
O Planeta atravessa fase rara, em que suas condições são
totalmente propícias à vida, não somente de animais e vegetais,
mas, sobretudo, a humana. Trata-se de um sistema vital, com imenso e
delicadíssimo equilíbrio, em que um fator depende do outro e que,
portanto, nada pode ser alterado.
Para desequilibrá-lo, nem é preciso fazer muita força. Um
desmatamento aqui, uma poluição das águas e do ar ali e pronto.
Podem ser desencadeadas catástrofes, de conseqüências
imprevisíveis e totalmente fora do controle desse animal tão
frágil, mas que se julga tão hábil e invulnerável.
Estudos indicam que a Terra passou por fases de transformações
cataclísmicas com duração não de milhares, nem de milhões, mas
de bilhões de anos, para chegar ao estágio atual, em que se vê
povoada por tamanha variedade de vida.
Esse período de equilíbrio, com temperatura ideal, com a mistura
adequada de gases na atmosfera, com a camada protetora dos mortais
raios cósmicos ainda quase intacta e com a distribuição adequada
de água, nas exatas proporções das necessidades dos seres vivos, é
coisa de parcos pares de milênios.
Para desequilibrar tudo isso, basta um piscar de olhos. E o que o
homem vem fazendo? Cuidando dos ecossistemas? Preservando os fatores
vitais essenciais? Não!!! Vem fazendo exatamente o que não devia.
Ou seja, agredindo quem lhe deu origem e garante sua subsistência: a
natureza.
Julga-se acima desta e crê ter poderes para modificá-la ao seu bel
prazer, impunemente, sem que isso lhe traga consequências daninhas,
catastróficas, letais. Mas não tem esse poder. Como não conta com
qualquer meio para sequer tentar escapar da extinção, quer a
pessoal, quer a da espécie.
Subitamente, de um momento para outro, por exemplo, as forças de
temperatura e pressão, relativamente calmas e equilibradas agora no
núcleo do Planeta, podem se descontrolar. Milhares de vulcões,
tidos como extintos, mas meramente “adormecidos”, podem entrar,
subitamente, em erupção, todos ao mesmo tempo, lançando bilhões
de toneladas de cinzas e gases tóxicos na atmosfera, cobrindo a
totalidade do globo terrestre e impedindo que recebamos a
indispensável luz do sol. Nessas circunstâncias, a vida se
extinguiria talvez em questão de dias, quando não de horas ou até
minutos, sem que pudéssemos ter a menor reação.
De repente, por outro lado, as frágeis placas que constituem a parte
sólida da Terra podem se mover, enlouquecidas, e se chocar,
violentamente, umas com as outras, provocando pavorosos e
devastadores terremotos – como nunca antes vistos, por não
propiciarem condições para a existência de testemunhas –
acompanhados de aterrorizantes tsunamis, com vagalhões imensos, de
quarenta metros ou mais de altura. Qual a escapatória para isso? Não
há nenhuma, obviamente.
E ainda assim, o homem se julga invulnerável. Destrói florestas e
mais florestas, indiferente ao papel de filtro que a densa vegetação
tem, para garantir a pureza e integridade da mistura gasosa conhecida
como “ar”.
Lança, diariamente, bilhões de toneladas de poluentes à atmosfera,
o que provoca um provavelmente irreversível processo de aumento de
temperatura. Geleiras e mais geleiras, com centenas de milhares de
anos de existência, começam a se derreter, aceleradamente,
aumentando, logicamente, o nível das águas dos oceanos e pondo em
risco milhões de quilômetros quadrados de solo costeiro, em que
habitam 60% da população do Planeta.
Fosse um pouquinho mais inteligente, tivesse raciocínio prático e
fosse menos arrogante, o homem se daria conta do que o explorador
norueguês, Thor Heyerdahl, membro da famosíssima “Expedição
Kon-tiki” (em que demonstrou que boa parte das ilhas do Pacífico
foi povoada por autóctones sul-americanos) escreveu em um de seus
livros: “Somos obra da natureza, seja com ajuda de Deus ou seja
acreditando que Deus é a própria natureza”.
Tenho a intuição de que ainda não compreendemos, sequer
minimamente, essa megaforça estupenda, que criou e vem criando o
universo, cujas dimensões não cabem em nossa compreensão, e que
chamamos, genericamente, de Deus. Não evoluímos, ainda, o
suficiente para chegarmos a esse entendimento, já não digo total,
mas no seu aspecto mais elementar.
Afinal, o maior dos gênios utiliza, no curto tempo de vida que tem,
no máximo 5% do potencial do seu cérebro, se tanto. As pessoas
comuns devem utilizar por volta de 2 a 3%. E os broncos,
possivelmente, não mais do que 1%.
Quando a espécie puder utilizar melhor a capacidade de raciocínio
de que é dotada, é possível (mesmo não havendo certeza), que
conclua que o Ser, poderoso, infinito e eterno, que denomina de Deus,
pode, perfeitamente, ser chamado de “Natureza”, sem que haja a
menor impropriedade nessa denominação. Isso, óbvio, caso lhe reste
tempo para essa evolução e não promova, de vez, o que já está em
pleno andamento: um suicídio generalizado, levando consigo, para a
morte, todos os seres vivos deste pequeno, mas tão
surpreendentemente especial Planeta.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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