Pontos para o parlamentarismo
Pedro J. Bondaczuk
A crise política que o País
atravessa, em decorrência do chamado escândalo PC, envolvendo o
empresário Paulo César Farias e suas alegadas vinculações com o
presidente Fernando Collor, ressalta as virtudes do sistema
parlamentarista. Não, é claro, daquele implantado logo após a
renúncia de Jânio Quadros, em 1961, costurado a toque de caixa para
impedir que o então vice-presidente, João Goulart, assumisse o
poder.
O parlamentarismo que se
pretende é aquele que tem dado certo no mundo todo, com voto
distrital, reformulação partidária que permita a existência de
partidos autênticos, e não meras siglas de aluguel e toda a
regulamentação que acompanha essa forma de gestão.
Tivessem os constituintes
eleitos em 1986 a coragem cívica de optar por esse sistema, ao invés
de barganhá-lo por um ano de mandato de José Sarney, e a crise de
agora não teria a abrangência e a configuração atuais.
Eventuais deslizes do governo
seriam facilmente contornáveis, sem qualquer ameaça institucional.
Bastaria uma moção de desconfiança ao gabinete para que ele
caísse. Caso os partidos não conseguissem uma composição que
agradasse à opinião pública para a formação do novo ministério,
o Parlamento seria, simplesmente, dissolvido, e novas eleições
gerais seriam convocadas em 90 dias.
Tudo isso seria feito sem
sustos, sem traumas e sem muito alarido, dentro das regras
parlamentaristas. Não é por acaso que a grande maioria dos países
do Primeiro Mundo – à exceção dos Estados Unidos – tem tal
sistema.
Todos os 12 integrantes da
Comunidade Europeia, por exemplo, são regidos pelo parlamentarismo,
variando, apenas, no cargo do chefe de Estado. Seis – Grã-Bretanha,
Bélgica, Holanda, Dinamarca, Espanha e Luxemburgo – possuem
monarquias parlamentaristas. Os outros seis – França, Alemanha,
Itália, Portugal, Grécia e Irlanda – têm presidentes. Os
franceses contam com um sistema misto. Ou seja, os chefes de Estado e
de governo dividem responsabilidades na administração do país.
Fora da CE, temos o Japão,
onde o sistema também é parlamentarista. E vários outros povos,
cujas democracias são sólidas e vigorosas, optaram pelo
parlamentarismo e se deram muito bem. São os casos, apenas para
citar alguns, do Canadá, da Austrália, da Suécia, da Noruega, de
Israel e podemos desfilar mais dezenas de países, de variados
portes, que se caracterizam, sobretudo, pela estabilidade
institucional.
Por tudo isso, é preciso que
os brasileiros reflitam muito bem em como votar no plebiscito do
próximo ano. Antes, porém, é necessária uma ampla campanha de
esclarecimento à população. Como sempre, isso está sendo deixado
para a última hora.
O tema já deveria estar, no
mínimo, ocupando as submanchetes dos noticiários, gerando debates,
sendo enfocado em simpósios, conferências e seminários. Que os
últimos acontecimentos do País e um governo que tanto fez que se
tornou impopular sirvam de lição ao eleitorado na hora de votar no
próximo plebiscito.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 5 de julho de 1992).
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