Friday, October 06, 2017

Falta flexibilidade a Margareth Thatcher

Pedro J. Bondaczuk

A primeira-ministra britânica, Margareth Thatcher, tem sérias dificuldades trabalhistas pela frente, com o crescente apoio que a greve dos mineiros de seu país está ganhando. São seis meses de paralisação dos trabalhadores desse setor, que se insurgem contra a tentativa de fechamento de minas improdutivas, fato que deixaria vinte mil operários do ramo sem emprego, numa época em que estes não estão sobrando.

Acompanhando à distância o desenrolar dos acontecimentos, nos parece que a dama de ferro não deu maior importância ao movimento em seu nascedouro. Nos seus seis anos incomp0letos de governo, ela já enfrentou situações parecidas. Como por exemplo a greve do setor automobilístico, em 1980, apenas para citar uma. Talvez por isso, tenha dado importância mínima ao movimento dos mineiros. Mesmo quando os portuários resolveram, há um mês e meio, paralisar os principais portos britânicos, a atitude de Thatcher pareceu de pouco caso. Tanto que a premier não se furtou de dar uma escapadinha para a Suíça, para gozo de férias. Excesso de confiança? Pode ser.

Todavia, o teimoso Arthur Scargill, presidente do sindicato dos mineiros, aceitou travar esse braço de ferro com Thatcher. Trata-se de um duelo entre pessoas inflexíveis. Ele sabe, por exemplo, que o estoque de carvão do país está, perigosamente, se esgotando e exatamente num período em que a temperatura começa a baixar de forma brusca, ou seja, no outono britânico, em que os termômetros baixam, geralmente, a níveis que para os brasileiros seriam considerados de um inverno razoavelmente rigoroso. Os mineiros, que suportaram uma paralisação tão longa, têm condições de esperar um pouco mais, antes de negociarem o retorno ao trabalho. Mas o país teria? Afinal, a Inglaterra está a apenas quatro meses do inverno, que lá é muito rigoroso. E na hora em que e4stiver passando frio, o povo pouca importância dará ao fato da greve ser de fundo político (ou não). Ele certamente exigirá o conforto a que, afinal, tem direito.

Nessa oportunidade, a maneira arrogante com que os mineiros foram tratados até aqui, poderá trazer duras consequências para Margareth Thatcher. E a menos que haja alguma salvadora mudança de posição de Arthur Scargill e de outros líderes sindicais, que o apoiam, ou os estoques de carvão sejam, na verdade, maiores do que à primeira vista parecem, a primeira-ministra vai se ver em sérios apuros, fato que pode lhe valer, a exemplo do que aconteceu em 1978 com o ex-premier Edward Heath, a própria carreira política. Afinal, existe limite para a inflexibilidade, ditado pela diplomacia e pelo bom senso.



(Artigo publicado na editoria Internacional do Correio Popular, em 4 de setembro de 1984).

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