Falta
flexibilidade a Margareth Thatcher
Pedro
J. Bondaczuk
A primeira-ministra britânica,
Margareth Thatcher, tem sérias dificuldades trabalhistas pela
frente, com o crescente apoio que a greve dos mineiros de seu país
está ganhando. São seis meses de paralisação dos trabalhadores
desse setor, que se insurgem contra a tentativa de fechamento de
minas improdutivas, fato que deixaria vinte mil operários do ramo
sem emprego, numa época em que estes não estão sobrando.
Acompanhando à distância o
desenrolar dos acontecimentos, nos parece que a dama de ferro não
deu maior importância ao movimento em seu nascedouro. Nos seus seis
anos incomp0letos de governo, ela já enfrentou situações
parecidas. Como por exemplo a greve do setor automobilístico, em
1980, apenas para citar uma. Talvez por isso, tenha dado importância
mínima ao movimento dos mineiros. Mesmo quando os portuários
resolveram, há um mês e meio, paralisar os principais portos
britânicos, a atitude de Thatcher pareceu de pouco caso. Tanto que a
premier não se furtou de dar uma escapadinha para a Suíça, para
gozo de férias. Excesso de confiança? Pode ser.
Todavia, o teimoso Arthur
Scargill, presidente do sindicato dos mineiros, aceitou travar esse
braço de ferro com Thatcher. Trata-se de um duelo entre pessoas
inflexíveis. Ele sabe, por exemplo, que o estoque de carvão do país
está, perigosamente, se esgotando e exatamente num período em que a
temperatura começa a baixar de forma brusca, ou seja, no outono
britânico, em que os termômetros baixam, geralmente, a níveis que
para os brasileiros seriam considerados de um inverno razoavelmente
rigoroso. Os mineiros, que suportaram uma paralisação tão longa,
têm condições de esperar um pouco mais, antes de negociarem o
retorno ao trabalho. Mas o país teria? Afinal, a Inglaterra está a
apenas quatro meses do inverno, que lá é muito rigoroso. E na hora
em que e4stiver passando frio, o povo pouca importância dará ao
fato da greve ser de fundo político (ou não). Ele certamente
exigirá o conforto a que, afinal, tem direito.
Nessa oportunidade, a maneira
arrogante com que os mineiros foram tratados até aqui, poderá
trazer duras consequências para Margareth Thatcher. E a menos que
haja alguma salvadora mudança de posição de Arthur Scargill e de
outros líderes sindicais, que o apoiam, ou os estoques de carvão
sejam, na verdade, maiores do que à primeira vista parecem, a
primeira-ministra vai se ver em sérios apuros, fato que pode lhe
valer, a exemplo do que aconteceu em 1978 com o ex-premier Edward
Heath, a própria carreira política. Afinal, existe limite para a
inflexibilidade, ditado pela diplomacia e pelo bom senso.
(Artigo publicado na editoria
Internacional do Correio Popular, em 4 de setembro de 1984).
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