Sunday, October 01, 2017

Nova geração chega ao poder



Pedro J. Bondaczuk


O presidente Fernando Collor de Mello, com a autoridade que lhe foi conferida nas urnas, está colocando, com cristalina clareza, a posição do Brasil perante a comunidade internacional, no seu atual giro pelos Estados Unidos, que vai culminar com a reunião que ele irá sustentar, no domingo, com o governante norte-americano George Bush.

O crítico pode até discordar de algumas de suas colocações, mas nunca negar a sua clareza, objetividade e, sobretudo, coerência. Por exemplo, o jovem político não abre mão de dois pontos que consideramos essenciais: a modernização do País e a sua inserção na economia mundial. Isto, evidentemente, não se obtém sem sacrifícios – caso contrário, seus antecessores certamente teriam tentado a empreitada – e Collor está consciente de tal realidade.

Mas ao contrário dos presidentes que ocuparam o Palácio do Planalto nos últimos e turbulentos 29 anos, ele conta com algo precioso, absolutamente indispensável, que se torna a maior das armas para enfrentar esta batalha: a legitimidade. Foi eleito livre, direta e soberanamente pela maioria dos brasileiros, conquistando, com isso, o direito de apelar por ajuda. De requerer a cumplicidade da cidadania.

O presidente ressaltou que a sua escolha para o cargo foi um marco na vida pública nacional. Representou a ascensão de uma nova geração ao poder, exatamente aquela que na década de 1960 revolucionou os costumes no mundo todo e expressou, de todas as formas possíveis, através de manifestações de toda a sorte, entre as quais a arte “underground”, seu absoluto comprometimento com a paz. Sua repulsa ao sistema então vigente – bastante suavizado neste início de nova década, mas ainda assim presente – que quase conduziu a humanidade ao holocausto nuclear.

Todo estadista autêntico é aquele que, no dizer do legendário Winston Churchill, tem coragem de tomar as decisões mais difíceis e impopulares no presente, de olho no futuro, tendo o passado apenas por referencial, para não repetir os erros nele cometidos. E as ideias manifestadas pelo jovem presidente, tanto durante a campanha – a ponto de sensibilizar a maioria do eleitorado – quanto nos seis meses que ocupa o cargo, lhe conferem este perfil.

Resta que ele não perca de vista seu compromisso maior com aqueles que nele confiaram. Tal tarefa consiste no combate incansável e persistente à miséria, que salta aos olhos por toda a parte, através do País e não é somente vista pelos cínicos e pelos que não querem ver; e a colocação do jovem e da criança no topo da sua lista de prioridades. Ou seja, um comprometimento com o futuro do Brasil, que sempre foi o ideal maior da geração que ele representa, na qualidade de presidente com menor idade da nossa história.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de setembro de 1990)



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