Nova geração chega ao poder
Pedro J. Bondaczuk
O presidente Fernando Collor
de Mello, com a autoridade que lhe foi conferida nas urnas, está
colocando, com cristalina clareza, a posição do Brasil perante a
comunidade internacional, no seu atual giro pelos Estados Unidos, que
vai culminar com a reunião que ele irá sustentar, no domingo, com o
governante norte-americano George Bush.
O crítico pode até discordar
de algumas de suas colocações, mas nunca negar a sua clareza,
objetividade e, sobretudo, coerência. Por exemplo, o jovem político
não abre mão de dois pontos que consideramos essenciais: a
modernização do País e a sua inserção na economia mundial. Isto,
evidentemente, não se obtém sem sacrifícios – caso contrário,
seus antecessores certamente teriam tentado a empreitada – e Collor
está consciente de tal realidade.
Mas ao contrário dos
presidentes que ocuparam o Palácio do Planalto nos últimos e
turbulentos 29 anos, ele conta com algo precioso, absolutamente
indispensável, que se torna a maior das armas para enfrentar esta
batalha: a legitimidade. Foi eleito livre, direta e soberanamente
pela maioria dos brasileiros, conquistando, com isso, o direito de
apelar por ajuda. De requerer a cumplicidade da cidadania.
O presidente ressaltou que a
sua escolha para o cargo foi um marco na vida pública nacional.
Representou a ascensão de uma nova geração ao poder, exatamente
aquela que na década de 1960 revolucionou os costumes no mundo todo
e expressou, de todas as formas possíveis, através de manifestações
de toda a sorte, entre as quais a arte “underground”, seu
absoluto comprometimento com a paz. Sua repulsa ao sistema então
vigente – bastante suavizado neste início de nova década, mas
ainda assim presente – que quase conduziu a humanidade ao
holocausto nuclear.
Todo estadista autêntico é
aquele que, no dizer do legendário Winston Churchill, tem coragem de
tomar as decisões mais difíceis e impopulares no presente, de olho
no futuro, tendo o passado apenas por referencial, para não repetir
os erros nele cometidos. E as ideias manifestadas pelo jovem
presidente, tanto durante a campanha – a ponto de sensibilizar a
maioria do eleitorado – quanto nos seis meses que ocupa o cargo,
lhe conferem este perfil.
Resta que ele não perca de
vista seu compromisso maior com aqueles que nele confiaram. Tal
tarefa consiste no combate incansável e persistente à miséria, que
salta aos olhos por toda a parte, através do País e não é somente
vista pelos cínicos e pelos que não querem ver; e a colocação do
jovem e da criança no topo da sua lista de prioridades. Ou seja, um
comprometimento com o futuro do Brasil, que sempre foi o ideal maior
da geração que ele representa, na qualidade de presidente com menor
idade da nossa história.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de setembro de 1990)
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