Tuesday, October 17, 2017

Outra surpresa no Nobel de Literatura

Pedro J. Bondaczuk

Acaba de sair o Prêmio Nobel de Literatura de 2017. Como tem ocorrido na maioria das vezes, o ganhador, de novo, não foi nenhum dos eternos favoritos que movimentam as bolsas de apostas da Europa nesta época de cada ano. Nem é preciso destacar que, de novo, nos mais de cem anos de premiação, nenhum brasileiro foi premiado. Alguma surpresa nesse caso? Longe disso! Surpreendente seria se algum escritor tupiniquim convencesse os jurados da Academia Sueca de Ciências que tivesse méritos suficientes para ser laureado. Neste ano, o ganhador não foi nenhum astro pop, como ocorreu em 2016, com o prêmio conferido ao cantor e compositor Bob Dylan. O escolhido da vez foi (rufem os tambores: tam-tam-tam-tam!!!) o nipo-britânico Kazuo Ishiguro.

Mas como?!” - perguntará, intrigado, o atento leitor, mas que ainda não saiba da escolha da Academia Sueca. Afinal, o premiado da vez é japonês ou britânico? Insisto: é nipo-britânico e explico porque. Ishiguro nasceu no Japão – aliás na segunda cidade do mundo a ser destruída por uma bomba atômica, ou seja, Nagasaki, tendo vindo ao mundo nove anos após aquela inominável tragédia (em 8 de novembro de 1954) – em plena época de reconstrução. Ocorre que, quando o ganhador do Nobel de Literatura de 2017 tinha cinco anos, sua família mudou-se, de mala e cuia, para a Inglaterra, onde seu pai assumiu importante cargo ligado à Agricultura. Toda sua educação, por consequência, se deu na terra da raínha. Embora falasse japonês em casa, provavelmente nem sabe escrever na língua materna. Entre outras coisas, Ishiguro é formado em inglês e em filosofia pela tradicional Universidade de Kent. Literariamente, portanto, pode, deve e é considerado britânico.

Confesso que não conheço absolutamente nada desse escritor. Deveria? Sim, deveria! Afinal, os temas que aborda, de acordo com a Academia Sueca, são os que se tornaram verdadeiras obsessões para mim: tempo e memória. Confesso, pois, minha megaignorância a propósito e, na medida do possível (tão logo tenha dinheiro para isso) pretendo consertar isso e adquirir os principais livros de Kazuo Ishiguro. E olhem que ele não é “marinheiro de primeira viagem”. Ganhou prêmios literários importantes, como o “Man Booker Prize”, uma das premiações literárias de maior prestígio no mundo, conquista esta que se deu há já 28 anos, em 1989. Após esse feito, tornou-se best-seller em tudo o que publicou na sequência, vendendo, em média, um milhão de exemplares de cada um de seus oito romances. Com toda informação que tenho do amplo mundo das letras (que não é pequena), neste caso específico “comi mosca”. Nunca, até a presente data, havia sequer ouvido falar de Kazuo Ishiguro. Desconfio que a maioria esmagadora dos críticos literários brasileiros também não tinha conhecimento nem mesmo da existência desse escritor.

E olhem que ele já tem cinco livros publicados no Brasil – todos pela Companhia das Letras – com vendas bastante razoáveis. São os romances: “O gigante enterrado” (2015), “Não me abandone jamais” (2016), “Os vestígios do dia” (2016), “Noturno” (2010) e “Quando éramos órfãos” (2000). Pois é, e nenhum amigo me sugeriu a compra de nenhum deles e muito menos me presenteou com um exemplar de qualquer dessas obras. Havia, porém, um motivo a mais para que eu pelo menos houvesse ouvido falar de Kazuo Ishiguro. E este até bastante forte. Ocorre que alguns livros do escritor nipo-britânico foram adaptados para o cinema. Um deles, “Os vestígios do dia”, dirigido por James Ivory e estrelado por Anthony Hopkins e Emma Thompson, em 1993, chegou a ser indicado para o Oscar. Como cinéfilço inveterado que sou, deveria, portanto, conhecê-lo. Mas… não o conhecia.


A secretária permanente da Academia Sueca, Sara Danius, disse o seguinte sobre o estilo do ganhador do Nobel deste ano: “Trocando em miúdos, se você juntar Jane Austen e Franz Kafka, terá Kazuo Ishiguro, mas terá também que adicionar um pouco de Marcel Proust nessa mistura”. Está explicada, pois, a razão de sua premiação. E Danius aduziu, complementando sua avaliação: “Ao mesmo tempo, ele é um escritor de grande integridade, que desenvolve uma estética só sua”. Por tudo isso, não se pode dizer que a Academia Sueca tenha premiado algum “ilustre desconhecido” (embora, confesso minha ignorância, eu não o conhecesse). Mas pode se afirmar que, mais uma vez, ela surpreendeu o mu8ndo das letras, ao outorgar o Nobel de Literatura a um escritor que não constava em nenhuma lista de favoritos nas casas de apostas sobretudo europeias. E a surpresa maior foi a dos japoneses, com toda certez\a. Eu esperava que desta vez, finalmente, após décadas de favoritismo, Philip Roth seria o premiado. De novo, pela vigésima vez (ou coisa que o valha) não foi. Portanto, ou muito me engano, ou o excelente romancista norte-americano jamais vai conquistar um Nobel de Literatura. Pelo menos, é o que parece.

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