Outra
surpresa no Nobel de Literatura
Pedro
J. Bondaczuk
Acaba
de sair o Prêmio Nobel de Literatura de 2017. Como tem ocorrido na
maioria das vezes, o ganhador, de novo, não foi nenhum dos eternos
favoritos que movimentam as bolsas de apostas da Europa nesta época
de cada ano. Nem é preciso destacar que, de novo, nos mais de cem
anos de premiação, nenhum brasileiro foi premiado. Alguma surpresa
nesse caso? Longe disso! Surpreendente seria se algum escritor
tupiniquim convencesse os jurados da Academia Sueca de Ciências que
tivesse méritos suficientes para ser laureado. Neste ano, o ganhador
não foi nenhum astro pop, como ocorreu em 2016, com o prêmio
conferido ao cantor e compositor Bob Dylan. O escolhido da vez foi
(rufem os tambores: tam-tam-tam-tam!!!) o nipo-britânico Kazuo
Ishiguro.
“Mas
como?!” - perguntará, intrigado, o atento leitor, mas que ainda
não saiba da escolha da Academia Sueca. Afinal, o premiado da vez é
japonês ou britânico? Insisto: é nipo-britânico e explico porque.
Ishiguro nasceu no Japão – aliás na segunda cidade do mundo a ser
destruída por uma bomba atômica, ou seja, Nagasaki, tendo vindo ao
mundo nove anos após aquela inominável tragédia (em 8 de novembro
de 1954) – em plena época de reconstrução. Ocorre que, quando o
ganhador do Nobel de Literatura de 2017 tinha cinco anos, sua família
mudou-se, de mala e cuia, para a Inglaterra, onde seu pai assumiu
importante cargo ligado à Agricultura. Toda sua educação, por
consequência, se deu na terra da raínha. Embora falasse japonês em
casa, provavelmente nem sabe escrever na língua materna. Entre
outras coisas, Ishiguro é formado em inglês e em filosofia pela
tradicional Universidade de Kent. Literariamente, portanto, pode,
deve e é considerado britânico.
Confesso
que não conheço absolutamente nada desse escritor. Deveria? Sim,
deveria! Afinal, os temas que aborda, de acordo com a Academia Sueca,
são os que se tornaram verdadeiras obsessões para mim: tempo e
memória. Confesso, pois, minha megaignorância a propósito e, na
medida do possível (tão logo tenha dinheiro para isso) pretendo
consertar isso e adquirir os principais livros de Kazuo Ishiguro. E
olhem que ele não é “marinheiro de primeira viagem”. Ganhou
prêmios literários importantes, como o “Man Booker Prize”, uma
das premiações literárias de maior prestígio no mundo, conquista
esta que se deu há já 28 anos, em 1989. Após esse feito, tornou-se
best-seller em tudo o que publicou na sequência, vendendo, em média,
um milhão de exemplares de cada um de seus oito romances. Com toda
informação que tenho do amplo mundo das letras (que não é
pequena), neste caso específico “comi mosca”. Nunca, até a
presente data, havia sequer ouvido falar de Kazuo Ishiguro. Desconfio
que a maioria esmagadora dos críticos literários brasileiros também
não tinha conhecimento nem mesmo da existência desse escritor.
E
olhem que ele já tem cinco livros publicados no Brasil – todos
pela Companhia das Letras – com vendas bastante razoáveis. São os
romances: “O gigante enterrado” (2015), “Não me abandone
jamais” (2016), “Os vestígios do dia” (2016), “Noturno”
(2010) e “Quando éramos órfãos” (2000). Pois é, e nenhum
amigo me sugeriu a compra de nenhum deles e muito menos me presenteou
com um exemplar de qualquer dessas obras. Havia, porém, um motivo a
mais para que eu pelo menos houvesse ouvido falar de Kazuo Ishiguro.
E este até bastante forte. Ocorre que alguns livros do escritor
nipo-britânico foram adaptados para o cinema. Um deles, “Os
vestígios do dia”, dirigido por James Ivory e estrelado por
Anthony Hopkins e Emma Thompson, em 1993, chegou a ser indicado para
o Oscar. Como cinéfilço inveterado que sou, deveria, portanto,
conhecê-lo. Mas… não o conhecia.
A
secretária permanente da Academia Sueca, Sara Danius, disse o
seguinte sobre o estilo do ganhador do Nobel deste ano: “Trocando
em miúdos, se você juntar Jane Austen e Franz Kafka, terá Kazuo
Ishiguro, mas terá também que adicionar um pouco de Marcel Proust
nessa mistura”. Está explicada, pois, a razão de sua premiação.
E Danius aduziu, complementando sua avaliação: “Ao mesmo tempo,
ele é um escritor de grande integridade, que desenvolve uma estética
só sua”. Por tudo isso, não se pode dizer que a Academia Sueca
tenha premiado algum “ilustre desconhecido” (embora, confesso
minha ignorância, eu não o conhecesse). Mas pode se afirmar que,
mais uma vez, ela surpreendeu o mu8ndo das letras, ao outorgar o
Nobel de Literatura a um escritor que não constava em nenhuma lista
de favoritos nas casas de apostas sobretudo europeias. E a surpresa
maior foi a dos japoneses, com toda certez\a. Eu esperava que desta
vez, finalmente, após décadas de favoritismo, Philip Roth seria o
premiado. De novo, pela vigésima vez (ou coisa que o valha) não
foi. Portanto, ou muito me engano, ou o excelente romancista
norte-americano jamais vai conquistar um Nobel de Literatura. Pelo
menos, é o que parece.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment