Perdas irreparáveis
Pedro J. Bondaczuk
A aliança que dá sustentação
ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso acaba de sofrer
duas perdas irreparáveis, embora ninguém seja insubstituível, ou
não deveria ser. O ministro das Comunicações, Sérgio Motta, além
de ser um dos homens da maior confiança de FHC, na qualidade de seu
amigo pessoal, era tido como peça-chave na campanha para a
reeleição, que a despeito de pesquisas (prematuras neste momento),
promete ser das mais acirradas dos últimos tempos.
Já o líder do governo na
Câmara, o deputado Luís Eduardo Magalhães, era um dos principais
articuladores na votação das reformas do Estado, em andamento no
Congresso desde o início da atual administração (que caminhou com
extrema lentidão, nos quatro anos em que vem sendo debatida). Aos 43
anos de idade, era uma figura política em franca e veloz ascensão,
para quem se previa um futuro dos mais brilhantes e promissores, não
apenas no âmbito do Legislativo, mas principalmente do Executivo.
Era candidatíssimo ao governo
da Bahia onde, só por uma dessas incríveis surpresas (raras por
sinal), que muitas vezes emergem das urnas e atropelam os favoritos,
deixaria de ser eleito, dada a inegável preponderância do seu pai,
o senador Antonio Carlos Magalhães, nesse Estado. Mas aspirava voos
muito mais altos do que esse. Queria o Planalto. Era consenso, em
Brasília, que o parlamentar baiano vinha sendo cuidadosamente
preparado para ser o sucessor do próprio Fernando Henrique, nas
eleições presidenciais de 2002.
Com as mortes, e enquanto não
encontra substitutos à altura, o próprio presidente assume a
coordenação política das reformas, virtualmente paralisadas antes
mesmo das duas infaustas ocorrências. Fica sobrecarregado num
momento crítico, quando as campanhas presidenciais estão em vias de
ganhar as ruas e o País --- notadamente São Paulo --- vê-se
mergulhado no maior desemprego dos últimos 50 anos.
Apesar de FHC contar, a seu
favor, com a estabilização da economia, é visível o
descontentamento nacional diante da atual paralisia econômica e da
falta de perspectiva, a curto prazo, de uma reversão da situação.
Nestas circunstâncias, qualquer candidato que tiver um programa
minimamente consistente de geração de empregos, que não seja
inflacionário e que se afigure factível, tem condições de
"atropelar" o presidente, na reta final, e frustrar seu
sonho de reeleição. Difícil? Pode ser! Impossível? De forma
alguma!
A história recente, aqui
mesmo na América do Sul, apresenta vários exemplos de favoritos nas
pesquisas e que acabaram derrotados por francos "azarões".
O caso mais notável foi o do escritor Mário Vargas Llosa, no Peru,
em fins da década passada. Durante mais de um ano, os vários
institutos peruanos davam-lhe mais de 70% das intenções de votos do
eleitorado. Mesmo às vésperas das eleições, detinha 65% das
preferências, o dobro de todos seus adversários somados. Tudo
indicava que a votação seria apenas um "passeio", mera
formalidade. Mas não foi.
Eis que surgiu um candidato
desconhecido, descendente de japoneses, com uma campanha bastante
agressiva, embora carente de recursos e visto com desconfiança tanto
pela esquerda, quanto pela direita, com uma plataforma confusa de
governo, eivada de populismo, motivo de chacota na imprensa.
Para surpresa geral, no
entanto, Alberto Fujimori, ridicularizado por expressiva parcela da
opinião pública, conseguiu votos suficientes para provocar um
segundo turno. E neste, foi eleito presidente. Em eleições,
portanto, nunca se pode menosprezar os adversários e se julgar
ganhador por antecedência. FHC já tem uma experiência amarga nesse
sentido quando, favorito à prefeitura de São Paulo --- tendo
inclusive tirado fotos na cadeira de prefeito --- foi batido, na reta
final, pelo ex-presidente Jânio Quadros.
(Artigo escrito em 27 de abril
de 1998)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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