Bomba de tempo
Pedro J. Bondaczuk
A campanha para as eleições
presidenciais brasileiras de 15 de novembro próximo, as primeiras
após 29 longos anos de jejum das urnas da nossa população, deve
começar a pegar fogo a partir da segunda metade do próximo mês.
Por isso, candidatos e público não se impressionam com as pesquisas
de opinião divulgadas até agora, que podem não estar revelando
tendência alguma.
Todavia, uma coisa já começa
a ficar bem clara para todos. Trata-se do fato dos partidos
tradicionais, que predominaram, nas últimas duas décadas e meia na
política brasileira, se mostrarem em franco declínio de
popularidade. PMDB e PDS terão que fazer muita força para mudar
essa situação, à primeira vista bastante adversa para a pretensão
dos seus candidatos: Ulysses Guimarães e Paulo Maluf,
respectivamente.
É claro que fazer qualquer
prognóstico, a esta altura, quando tudo ainda é provisório e mal
se encerraram as convenções partidárias, definindo postulações,
alianças e apoios, é extremamente prematuro, senão ingenuidade.
Muita água ainda vai rolar por baixo da ponte até as vésperas da
votação, com subidas, descidas, surpresas e confirmações no
ranking dos mais cotados.
Uma coisa, no entanto, parece
estar clara: nenhum dos concorrentes deverá obter 50% dos votos mais
um, necessários para que seja dispensado o segundo turno. É em
torno dessa realidade que as estratégias de campanha dos partidos
deverão girar.
Por enquanto, as disputas de
bastidores acontecem acerca do precioso tempo de televisão e rádio,
gratuito, que cada agremiação com representação no Congresso vai
poder dispor. A tendência das eleições modernas, não somente no
Brasil, como em todo o mundo, é a de concentrar toda a força da
propaganda na TV, que além de atingir um número infinitamente maior
de eleitores (num país que possui dimensões continentais) permite
que os candidatos trabalhem com mais folga nos grandes centros, onde
está concentrada a maioria dos votos.
Uma boa performance no vídeo
pode levar, às vezes, um mau concorrente à vitória. E a recíproca,
por sua vez, também é verdadeira. Muito político já perdeu
eleição, virtualmente, por bobagens ditas no ar.
O caso mais evidente é o do
senador Fernando Henrique Cardoso, em 1986, quando num debate
televisionado, enrolou-se numa pergunta que lhe foi feita, acerca de
suas convicções religiosas, e deixou escapar, na última hora, uma
vitória que o seu partido considerava líquida e certa.
Por outro lado, convém
ressaltar que esta eleição presidencial traz, embutida, uma
armadilha, que pode, e deve, trazer muita dor de cabeça em 1990.
Ocorre que ela deveria ser realizada simultaneamente com a renovação
do Congresso, para que o futuro presidente pudesse contar com o
indispensável respaldo parlamentar para governar.
Mas, para que isso ocorresse,
os deputados e senadores teriam que abrir mão de parte de seu
mandato, com o que eles não concordaram. Diante disso, abre-se a
certeza de que o eleito (provavelmente em segundo turno) não vai
contar com apoio no Legislativo para governar, qualquer que ele seja.
E isto pode ser trágico, quando se sabe que ele terá que adotar
medidas de emergência, diante da crise, que tende a se agravar daqui
até o fim do ano, com um processo hiperinflacionário se avizinhando
por aí e o País todo esperando uma solução salvadora que o evite.
Fala-se muito em negociação
política. Apregoam-se pactos. Mas será que as feridas, que
certamente a próxima campanha vai deixar, serão fechadas em tempo,
que ressentimentos sejam deixados de lado e os partidos perdedores
fechem um acordo com o vencedor? É ou não é uma bomba de tempo
montada para explodir nas mãos do preferido de mais de 40 milhões
de brasileiros?
(Artigo publicado sob
pseudônimo na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 16 de
julho de 1989)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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