A
equivocada postura de Gringo Honasan
Pedro
J. Bondaczuk
O
governo democrático da presidente filipina, Corazón Aquino, está
mais em perigo agora, depois que a rebelião militar de fins de
agosto passado foi sufocada, do que durante aqueles dramáticos dois
dias vividos pelo povo daquele sofrido país asiático. Enquanto o
líder golpista, coronel Gregório “Gringo” Honasan, permanecer
solto, nenhuma autoridade conseguirá saber de onde virá o próximo
ataque e quando isso acontecerá. Elas só podem ter uma certeza:
haverá novo e decisivo confronto entre as partes. O ousado oficial,
da nova geração de militares das Filipinas, é um tanto quanto
carismático e por isso empolga a imaginação da juventude, que se
identifica com ele, e o transforma automaticamente em herói.
É
preciso que a população compreenda que o jovem oficial rebelde não
está sozinho em suas sangrentas sortidas, a última das quais
causadora de 55 mortes. Tem alguém por trás, manobrando os
“cordões” e este não é outro senão o próprio ex-ditador
Ferdinand Marcos, que não vai sossegar enquanto não derrubar a
presidente Aquino. Já tentou seis vezes, tendo fracassado em todas.
Mas o ex-tirano tem muito dinheiro (subtraído dos cofres do país
que comandou, com mão de ferro, por vinte e um anos, como se fosse
seu feudo particular). Estima-se que ele tenha desviado a “bagatela”
de US$ 11 bilhões para diversas de suas contas e as da esposa
Imelda, em bancos localizados em vários paraísos fiscais espalhados
mundo afora.
Uma
grande parte deste patrimônio é proveniente de empréstimos
externos, que fazem das Filipinas o oitavo devedor mundial da
atualidade, com uma conta para o seu povo pagar de US$ 26 bilhões.
Por trás de Honasan também estaria Juan Ponce Enrille, ministro da
Defesa, por 17 anos consecutivos, de Ferdinand Marcos. Em fevereiro
do ano passado ele mostrou qual é o seu “senso de lealdade”.
Quando viu o ex-ditador em flagrante desvantagem perante, inclusive,
a opinião pública mundial, bandeou-se para o lado de Corazón
Aquino e ajudou-a a levar a bom termo o movimento que escorraçou do
país o seu ex-chefe.
Meses
depois, entretanto, a sede pelo poder subiu-lhe à cabeça.
Encabeçou, então, um dos muitos complôs golpistas contra a sua
nova aliada, sendo demitido por ela. Caso uma rebelião fosse,
agora, bem sucedida, que chances “Gringo” teria? Virtualmente
nenhuma! Teria que competir com duas “cobras criadas”. A disputa
seria, certamente, entre Ferdinand Marcos e Juan Ponce Enrille,
ex-braço direito do ditador (que acabou ficando torto quando isso se
tornou conveniente). Por isso, é preciso que a juventude filipina
reflita muito bem sobre a quem deve apoiar.
(Artigo
publicado na editoria Internacional do Correio Popular, em 6 de
setembro de 1987).
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