Thursday, October 05, 2017

A equivocada postura de Gringo Honasan

Pedro J. Bondaczuk

O governo democrático da presidente filipina, Corazón Aquino, está mais em perigo agora, depois que a rebelião militar de fins de agosto passado foi sufocada, do que durante aqueles dramáticos dois dias vividos pelo povo daquele sofrido país asiático. Enquanto o líder golpista, coronel Gregório “Gringo” Honasan, permanecer solto, nenhuma autoridade conseguirá saber de onde virá o próximo ataque e quando isso acontecerá. Elas só podem ter uma certeza: haverá novo e decisivo confronto entre as partes. O ousado oficial, da nova geração de militares das Filipinas, é um tanto quanto carismático e por isso empolga a imaginação da juventude, que se identifica com ele, e o transforma automaticamente em herói.

É preciso que a população compreenda que o jovem oficial rebelde não está sozinho em suas sangrentas sortidas, a última das quais causadora de 55 mortes. Tem alguém por trás, manobrando os “cordões” e este não é outro senão o próprio ex-ditador Ferdinand Marcos, que não vai sossegar enquanto não derrubar a presidente Aquino. Já tentou seis vezes, tendo fracassado em todas. Mas o ex-tirano tem muito dinheiro (subtraído dos cofres do país que comandou, com mão de ferro, por vinte e um anos, como se fosse seu feudo particular). Estima-se que ele tenha desviado a “bagatela” de US$ 11 bilhões para diversas de suas contas e as da esposa Imelda, em bancos localizados em vários paraísos fiscais espalhados mundo afora.

Uma grande parte deste patrimônio é proveniente de empréstimos externos, que fazem das Filipinas o oitavo devedor mundial da atualidade, com uma conta para o seu povo pagar de US$ 26 bilhões. Por trás de Honasan também estaria Juan Ponce Enrille, ministro da Defesa, por 17 anos consecutivos, de Ferdinand Marcos. Em fevereiro do ano passado ele mostrou qual é o seu “senso de lealdade”. Quando viu o ex-ditador em flagrante desvantagem perante, inclusive, a opinião pública mundial, bandeou-se para o lado de Corazón Aquino e ajudou-a a levar a bom termo o movimento que escorraçou do país o seu ex-chefe.

Meses depois, entretanto, a sede pelo poder subiu-lhe à cabeça. Encabeçou, então, um dos muitos complôs golpistas contra a sua nova aliada, sendo demitido por ela. Caso uma rebelião fosse, agora, bem sucedida, que chances “Gringo” teria? Virtualmente nenhuma! Teria que competir com duas “cobras criadas”. A disputa seria, certamente, entre Ferdinand Marcos e Juan Ponce Enrille, ex-braço direito do ditador (que acabou ficando torto quando isso se tornou conveniente). Por isso, é preciso que a juventude filipina reflita muito bem sobre a quem deve apoiar.

(Artigo publicado na editoria Internacional do Correio Popular, em 6 de setembro de 1987).


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