Municípios perdem outra vez
Pedro J. Bondaczuk
O tradicional recenseamento,
ou seja, a contagem de quantos e como somos, o que fazemos, onde
moramos etc. foi adiado, no corrente ano, pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística, IBGE, por alegada falta de condições
para ser realizado.
Quem perde com isso são os
municípios, cujo repasse federal de recursos é baseado na
população. Dessa maneira, cidades como Londrina, Campinas e
Nilópolis, por exemplo, para citar apenas as que ostensivamente
tiveram um crescimento populacional muito maior do que o constatado
(ou intuído) pelas estimativas (feitas ao sabor de quem as realiza),
vão ter, mais uma vez, prejuízos. Ficarão privadas de preciosas
verbas, indispensáveis para o seu desenvolvimento, que de fato lhes
pertencem.
A direção do órgão, em
manifestações públicas de seus representantes, nega que haja uma
componente política na decisão do adiamento do Censo. Todavia, a
própria Associação de Funcionários do IBGE, através do seu
diretor Francisco José Freire, se opõe, duramente, à
transferência. Acusa, inclusive, o órgão de “incompetência
administrativa”. E assegura que a verba foi liberada em tempo hábil
para a contratação de recenseadores.
Como se observa, o Censo
oficial tem uma função muito mais nobre do que a maioria dos
brasileiros possa imaginar. Até 1980, foram realizados nove deles. O
primeiro ocorreu em 1872 e constatou que o Brasil tinha 9.930.478
cidadãos. O seguinte iria acontecer apenas em 1890, quando os
habitantes do País já somavam 14.333.915 indivíduos.
Na virada do século, a
população apurada foi de 17.438.434. Em 1910, não houve
recenseamento, fato que voltaria a se repetir, somente, em 1930, por
causa do Estado Novo, e agora, em 1990. Se o adiamento atual foi ou
não jogada política, não é possível de se comprovar. Afinal, as
reais intenções das pessoas nunca estão estampadas em suas testas.
Vários prefeitos e inclusive
a Associação dos Funcionários do IBGE acham que se agiu, no
mínimo, com má fé. Se por uma eventualidade a razão foi esta, é
lamentável, por demonstrar que o País continua praticando um
municipalismo às avessas. Que o Governo Federal segue drenando os
recursos (que seriam úteis e proveitosos nas comunidades) para o
“saco sem fundo” de um Estado que, a despeito de certa melhoria,
continua ainda sendo ineficiente e perdulário.
Tal procedimento não somente
fere o preceito do genuíno federacionismo, consubstanciado na
Constituição, como até mesmo foge à lógica nas prioridades
nacionais, num país que não pode mais cometer qualquer erro na
promoção do seu desenvolvimento, principalmente depois de ter
andado tanto para trás ao longo da deprimente década de 1980. Que o
Congresso instaure uma Comissão Parlamentar de Inquérito para
apurar quem e porque adiou o Censo de 1990.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 18 de agosto de 1990)
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