Resgate ou suicídio
Pedro J. Bondaczuk
O atual Congresso, cuja
credibilidade junto aos eleitores chegou a um dos níveis mais baixos
da história parlamentar brasileira, em decorrência do escândalo de
corrupção do Orçamento da União, tem uma chance rara de limpar
sua imagem perante a opinião pública ainda nesta legislatura. Como?
Através de dois caminhos principais.
O primeiro, óbvio, é o de
levar a Comissão Parlamentar de Inquérito, que apura a atuação
dos “sete anões” e de seus asseclas, às últimas conseqüências,
punindo, exemplarmente, os corruptos. Esta é uma obrigação que os
deputados e senadores têm não somente em relação à cidadania,
mas a si próprios.
Eles precisam apagar a imagem
que ficou para os brasileiros de que no Congresso todos seriam
venais, “farinhas do mesmo saco”. Esta colocação, além de
injusta, é irreal. A maioria dos parlamentares, certamente, é
honesta e bem-intencionada.
O segundo caminho seria o
daquilo que o senador Roberto Campos denomina de “higiene
preventiva”, que ele ressalta ser tão importante quanto o
sabonete: a reforma política. E o momento não poderia ser mais
oportuno, já que está em pleno andamento a revisão constitucional.
Este é o instante mais adequado, por exemplo, para reformular a lei
partidária, reinstituindo o instrumento da fidelidade dos
parlamentares aos partidos que os elegeram.
Outro ponto sobre o qual
conviria ponderar cuidadosamente é o da obrigatoriedade do voto. É
certo que se um dispositivo desobrigasse o eleitor de votar fosse
votado, as eleições, pelo menos num primeiro momento, perderiam em
abrangência. Talvez apenas 30% dos brasileiros acorreriam às urnas
por livre e espontânea vontade. Todavia, o que fosse perdido em
quantidade seria para lá de compensado pela qualidade.
O elenco de mudanças poderia
ser bastante extenso, incluindo, por exemplo, o fim da imunidade
parlamentar, acabando com a impunidade dos maus políticos que
confundem a responsabilidade da representação com um eventual
prêmio. Está nas mãos, portanto, do próprio Congresso o resgate
de sua credibilidade ou o suicídio político, que seria deixar tudo
como está para ver como é que fica.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 18 de novembro de 1993)
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