Palavras mágicas
Pedro J. Bondaczuk
A reforma
fiscal pretendida pelo governo do presidente Fernando Collor, que
apesar de intensamente debatida por mais de sete meses, na verdade é
pouco conhecida do grande público quanto ao seu alcance e
conseqüências, se tornou o novo “mantra”, a nova palavra
mágica, o mais recente “abre-te Sésamo” para a solução de
todas nossas crises e a retomada do desenvolvimento econômico, com
justiça social.
Antes
dela, foi a Constituição vigente, que foi apresentada à população
como a chave de um novo milagre. Conseguiu-se, com isso, todavia,
apenas gerar a maior das frustrações nacionais dos últimos tempos.
Já
se tornou tradição, ao longo da história brasileira, esse tipo de
comportamento. Quando o Brasil ainda era colônia de Portugal, a
alegação, para justificar o atraso desta complexa sociedade era a
falta de independência. Pois bem, em 1822 ela veio e em menos de
nove anos, em 7 de abril de 1831, já com a imagem desgastada, o
imperador Dom Pedro I abdicou em favor de seu filho menor de idade.
O
País atravessou todo o período de regência falando da “maioridade”
de Dom Pedro II. Sempre que alguma crise política adquiria maiores
proporções – e estas não faltaram – os políticos vinham a
público para reivindicar a antecipação da maioridade do jovem
imperador, como panaceia para todos os males. E o povo, despolitizado
– a despolitização popular sempre foi uma tradição nacional –
acreditava no que lhe diziam.
Depois
da maioridade, já quando o monarca estava em avançada idade, depois
de meio século de governo, a palavrinha mágica que passou a
freqüentar a imprensa foi “República”. Centenas de outras mais
vieram em sucessão, como o “Encilhamento”, iniciado pelo então
ministro da Fazenda, Ruy Barbosa, em 17 de janeiro de 1890 de
resultados desastrosos.
Para
quem não se recorda, este foi o apelido dado a um processo que se
caracterizou por vendas de ações ao público de empresas que ainda
sequer existiam, para obter capitais que permitissem sua
constituição. O termo foi extraído do turfe e fazia analogia com o
ato de encilhar um cavalo antes da corrida.
“Encilhamento”,
portanto, significava pôr arreios num fogoso corcel, no caso o
Brasil, para que este disparasse rumo ao desenvolvimento. Foi um
desastre, um dos maiores golpes já dados no público. A maioria das
“empresas”, na verdade apenas um nome, jamais chegou a ser
constituída.
Outras
palavras mágicas mais freqüentaram as manchetes, sempre com o
caráter de “salvação da Pátria”. Foram os casos do “Estado
Novo”, dos “50 anos em 5”, da “vassoura” de Jânio, apenas
para citar alguns.
Antes
que a reforma fiscal – ou pelo menos o projeto já entregue ao
presidente Collor – passe a ser encarada como “salvação da
lavoura”, é indispensável, portanto, que alguns de seus aspectos,
tendentes a espoliar ainda mais a já sofrida população, sejam
analisados com atenção e inteligência para evitar novas e
dolorosas frustrações.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 8 de julho
de 1992).
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