O
que separa Damasco de Bagdá
Pedro
J. Bondaczuk
O rei Hussein, da Jordânia,
está em Damasco, tentando dar cumprimento a uma missão que, se não
é impossível, pelo menos envolve imensas dificuldades. Ele pretende
aproximar a Síria do Iraque, após oito anos de profundo antagonismo
rntre esses dois países do mundo árabe. Ambos são governados por
militares da Força Aérea, os dois são do Partido Baath e têm
personalidades até certo ponto semelhantes.
É verdade que Hafez Assad tem
se mostrado muito mais político do que Saddam Hussein,
principalmente quando se trata de manter contato com o Ocidente. O
presidente sírio, conforme assi9nalamos em comentários anteriores,
neste espaço, tem, inclusive, desconcertado os dirigentes ocidentais
vezes sem conta, ora mostrando perfil radical, ora agindo como
moderado, advogando a causa dos reféns ocidentais no Líbano.
Já o general iraquiano tem
demonstrado ser mais intempestivo, talvez por causa da situação
muito especial que seu país tem vivido nos últimos sete anos,
depois de ter entrado numa guerra em que suas chances de ganhar a
cada dia mais se estreitam. É verdade que o Iraque dispõe de armas
mais sofisticadas que o seu adversário e conta com amplo apoio
europeu, especialmente da União Soviética e da França.
Todavia, os iranianos têm o
que em qualquer tipo de confronto tende a ser decisivo: a
determinação de vencer. Os persas contam com o fator humano a seu
favor. Têm uma população que é praticamente o dobro da iraquiana.
E despachos internacionais da semana passada revelaram que os
aiatolás já estão pensamndo em treinar, a todo o vapor, um super
exército, de 21 milhões de soldados, para tentar uma arrancada
decisiva no campo de batalha.
Uma das grandes dificuldades
para a aproximação entre Hafez Assad e Saddam Hussein é o apoio
sírio à República Islâmica do Irã, fazendo com que se constitua
em voz dissonante na comunidade árabe (embora Muammar Khadafy, não
faz muito, o estivesse acompanhando de perto nessa posição
política). Mas enganam-se os que acham que este seja o único
obstáculo para a aproximação entre Damasco e Bagdá.
Por trás de tudo está a
pretensão dos dois presidentes em deter a hegemonia militar da
comunidade árabe. Ambos querem assumir o papel que um dia foi dos
próprios iranianos, nos tempos em que O irã era uma monarquia, no
reinado do xá Rhezza Pahlevi. E os dois pretendem ir, até mesmo,
muito além. Aspiram ocupar o espaço atualmente ocupado pelo Egito
no Oriente Médio. Por isso, tudo leva a crer que a missão do rei da
Jordânia não passará de mera manifestação de boa intenção, a
menos que ocorra alguma surpresa que fuja por completo à observação
do mais atento dos analistas.
(Artigo publicado na editoria
Internacional do Correio Popular em 2 de setembro de 1987).
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