Tuesday, October 03, 2017

Renovação fica adiada



Pedro J. Bondaczuk



Os resultados parciais das eleições proporcionais (Câmara Federal e assembleias estaduais) do dia 3 passado revelam um dado altamente preocupante, tendo em vista a desastrosa atuação do atual Congresso: cerca de 80% dos atuais deputados garantiram a sua reeleição.

Portanto, a esperada renovação vai ter que ficar para 1998 ou, na pior das hipóteses, para 2002. Dessa forma, foram reconduzidos ao cargo os que se envolveram no escândalo de manipulação do Orçamento da União, os corporativistas e os “turistas”, que nos últimos quatro anos, foram apenas eventualmente a Brasília, participar de raras sessões parlamentares, quase que “a passeio”.

Qual a razão dessa desastrosa escolha? O que levou as velhas raposas da política a conservar seus “feudos eleitorais”? Teriam esses cidadãos tamanho poder de convencimento a ponto de fazer com que os eleitores se esquecessem das mazelas que praticaram, da omissão que mostraram e do pouco caso que tiveram em relação ao cumprimento de suas obrigações?

Conseguiram convencer milhares de brasileiros de que se regeneraram e vão se empenhar na defesa do interesse público e não somente do seu próprio? Claro que não! O que ocorreu foi exatamente aquilo que os analistas e a imprensa em geral temiam: uma enxurrada de votos brancos e nulos nas eleições proporcionais.

Nem todos os que se omitiram o fizeram em caráter de protesto. Muitos confundiram-se na hora de votar e trocaram nomes nas cédulas eleitorais. Outros, não se lembraram de nenhum candidato quando chegaram à cabine. Afinal, nestas eleições, havia mais de 34 milhões de eleitores analfabetos.

Como alguém que não sabe escrever poderia preencher a cédula branca? Como esperar que essa pessoa tenha tirocínio para escolher? Como pretender que entenda o que é uma plataforma, um programa partidário ou a função de um deputado?

Embora o Tribunal Superior Eleitoral tenha permitido o uso de normógrafos, pouquíssimos se utilizaram desse recurso. Provavelmente, por causa do constrangimento. Ninguém gosta de mostrar ais outros suas vulnerabilidades. Muito menos uma pessoa analfabeta.

O TSE estimou que, dos mais de 94 milhões de eleitores inscritos para votar, 70 milhões não o fizeram para a Câmara Federal e assembleias legislativas. Parcela considerável – cerca de 30% em média – sequer compareceu às urnas.

O restante, ou votou em branco (nas eleições proporcionais), ou anulou o voto, preenchendo apenas a cédula amarela, destinada à escolha do presidente da República, dos governadores e de dois senadores. Já que o pior aconteceu, resta agora aos cidadãos o recurso da vigilância.

É preciso exercer rigorosa e constante pressão sobre os 513 deputados eleitos, forçando-os a, pelo menos, trabalhar. Há reformas absolutamente indispensáveis e urgentes que o novo Parlamento terá de fazer. Há muito, muitíssimo trabalho pela frente.

Conhecendo o perfil desses políticos eleitos (por apenas cerca de 24 milhões de eleitores) ninguém pode exigir deles (e nem está exigindo) que sejam brilhantes. Até porque, de nada adiantaria. O mínimo que se espera é que sejam honestos, íntegros e operantes. Em resumo, a exigência principal que se faz é que esses indivíduos, que nos bombardearam com promessas, apelos e juras de fidelidade, pelo menos trabalhem.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 9 de outubro de 1994).



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