Renovação fica adiada
Pedro J. Bondaczuk
Os
resultados parciais das eleições proporcionais (Câmara Federal e
assembleias estaduais) do dia 3 passado revelam um dado altamente
preocupante, tendo em vista a desastrosa atuação do atual
Congresso: cerca de 80% dos atuais deputados garantiram a sua
reeleição.
Portanto,
a esperada renovação vai ter que ficar para 1998 ou, na pior das
hipóteses, para 2002. Dessa forma, foram reconduzidos ao cargo os
que se envolveram no escândalo de manipulação do Orçamento da
União, os corporativistas e os “turistas”, que nos últimos
quatro anos, foram apenas eventualmente a Brasília, participar de
raras sessões parlamentares, quase que “a passeio”.
Qual
a razão dessa desastrosa escolha? O que levou as velhas raposas da
política a conservar seus “feudos eleitorais”? Teriam esses
cidadãos tamanho poder de convencimento a ponto de fazer com que os
eleitores se esquecessem das mazelas que praticaram, da omissão que
mostraram e do pouco caso que tiveram em relação ao cumprimento de
suas obrigações?
Conseguiram
convencer milhares de brasileiros de que se regeneraram e vão se
empenhar na defesa do interesse público e não somente do seu
próprio? Claro que não! O que ocorreu foi exatamente aquilo que os
analistas e a imprensa em geral temiam: uma enxurrada de votos
brancos e nulos nas eleições proporcionais.
Nem
todos os que se omitiram o fizeram em caráter de protesto. Muitos
confundiram-se na hora de votar e trocaram nomes nas cédulas
eleitorais. Outros, não se lembraram de nenhum candidato quando
chegaram à cabine. Afinal, nestas eleições, havia mais de 34
milhões de eleitores analfabetos.
Como
alguém que não sabe escrever poderia preencher a cédula branca?
Como esperar que essa pessoa tenha tirocínio para escolher? Como
pretender que entenda o que é uma plataforma, um programa partidário
ou a função de um deputado?
Embora
o Tribunal Superior Eleitoral tenha permitido o uso de normógrafos,
pouquíssimos se utilizaram desse recurso. Provavelmente, por causa
do constrangimento. Ninguém gosta de mostrar ais outros suas
vulnerabilidades. Muito menos uma pessoa analfabeta.
O
TSE estimou que, dos mais de 94 milhões de eleitores inscritos para
votar, 70 milhões não o fizeram para a Câmara Federal e
assembleias legislativas. Parcela considerável – cerca de 30% em
média – sequer compareceu às urnas.
O
restante, ou votou em branco (nas eleições proporcionais), ou
anulou o voto, preenchendo apenas a cédula amarela, destinada à
escolha do presidente da República, dos governadores e de dois
senadores. Já que o pior aconteceu, resta agora aos cidadãos o
recurso da vigilância.
É
preciso exercer rigorosa e constante pressão sobre os 513 deputados
eleitos, forçando-os a, pelo menos, trabalhar. Há reformas
absolutamente indispensáveis e urgentes que o novo Parlamento terá
de fazer. Há muito, muitíssimo trabalho pela frente.
Conhecendo
o perfil desses políticos eleitos (por apenas cerca de 24 milhões
de eleitores) ninguém pode exigir deles (e nem está exigindo) que
sejam brilhantes. Até porque, de nada adiantaria. O mínimo que se
espera é que sejam honestos, íntegros e operantes. Em resumo, a
exigência principal que se faz é que esses indivíduos, que nos
bombardearam com promessas, apelos e juras de fidelidade, pelo menos
trabalhem.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 9 de outubro
de 1994).
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