País das contradições
Pedro J. Bondaczuk
O ministro da Economia,
Marcílio Marques Moreira, e os secretários de Ciência e
Tecnologia, Hélio Jaguaribe, e de Assuntos Estratégicos, Eliezer
Batista, esqueceram, durante o feriado de Corpus Christi, na
quinta-feira, a crise que assola o Brasil contemporâneo, para
projetar o País de 2010, portanto, daqui a 18 anos.
Trata-se de um projeto
ambicioso, que se destina a retirar o Estado brasileiro de seu atual
estágio de subdesenvolvimento e fazer com que ocupe uma posição
como a vivida pela Espanha. Planeja-se, portanto, para a geração
seguinte, embora para que as coisas não fiquem meramente no terreno
das elucubrações, é indispensável que se resolva o caos social de
hoje.
Antes de aspirar ascender ao
seleto Primeiro Mundo, o Brasil – ou um dos Brasis, já que há
dois países totalmente distintos convivendo num mesmo território –
precisará voltar ao menos ao Terceiro Mundo, de onde há muito já
caiu, resgatando um contingente de cerca de 100 milhões de pessoas
da miséria absoluta.
Todavia, não será com
desemprego recorde, com brutal concentração de renda e com a
decadência acentuada da educação, da moral e dos costumes que isso
irá acontecer. O Estado brasileiro, hoje, está doente, e não
apenas economicamente.
As promessas mirabolantes,
jamais cumpridas, as sucessivas frustrações e o cancro da corrupção
fizeram com que fossem ofuscados os objetivos nacionais, outrora tão
decantados e hoje desacreditados, a ponto de serem motivo até de
galhofa.
Anteontem, Marcílio, numa
entrevista à “Agência Estado”, acentuou: “Cada um deve
contribuir com o seu tijolo na construção do País e, para isso é
preciso ter uma visão clara da obra que se quer fazer”. Mas como,
por exemplo, um pai de família, que há seis meses faz uma
peregrinação diária, frustrada, em busca de um trabalho,
objetivando não mais qualquer investimento no amanhã, mas pôr o
pão na mesa de seus filhos hoje, pode contribuir para esse Brasil
dos sonhos? (Ou de delírios?).
Temos que planejar o futuro,
isso é inegável, mas nosso compromisso maior é com a
sobrevivência, com o hoje, com o aqui e agora. E este presente,
convenhamos, é terrível. O jornalista Alberto Dines, em entrevista
publicada no “Caderno de Sábado”, do “Jornal da Tarde”, da
semana passada, expressou com exatidão sua preocupação, que
certamente é a de todo cidadão bem-intencionado, que ainda confia –
embora já muito desconfiado – no amanhã deste País: “Me
preocupa o espetáculo de fúria que o Brasil apresenta. É uma
pessoa loucamente contra a outra. É uma coisa irracional, não tem
lógica, estão todos brigando. Se não tomarmos cuidado, isso pode
descambar em um processo de destruição”. Que tal, portanto,
cuidarmos logo do Brasil de hoje?
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 22 de junho de 1992)
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