Tuesday, October 17, 2017

País das contradições



Pedro J. Bondaczuk


O ministro da Economia, Marcílio Marques Moreira, e os secretários de Ciência e Tecnologia, Hélio Jaguaribe, e de Assuntos Estratégicos, Eliezer Batista, esqueceram, durante o feriado de Corpus Christi, na quinta-feira, a crise que assola o Brasil contemporâneo, para projetar o País de 2010, portanto, daqui a 18 anos.

Trata-se de um projeto ambicioso, que se destina a retirar o Estado brasileiro de seu atual estágio de subdesenvolvimento e fazer com que ocupe uma posição como a vivida pela Espanha. Planeja-se, portanto, para a geração seguinte, embora para que as coisas não fiquem meramente no terreno das elucubrações, é indispensável que se resolva o caos social de hoje.

Antes de aspirar ascender ao seleto Primeiro Mundo, o Brasil – ou um dos Brasis, já que há dois países totalmente distintos convivendo num mesmo território – precisará voltar ao menos ao Terceiro Mundo, de onde há muito já caiu, resgatando um contingente de cerca de 100 milhões de pessoas da miséria absoluta.

Todavia, não será com desemprego recorde, com brutal concentração de renda e com a decadência acentuada da educação, da moral e dos costumes que isso irá acontecer. O Estado brasileiro, hoje, está doente, e não apenas economicamente.

As promessas mirabolantes, jamais cumpridas, as sucessivas frustrações e o cancro da corrupção fizeram com que fossem ofuscados os objetivos nacionais, outrora tão decantados e hoje desacreditados, a ponto de serem motivo até de galhofa.

Anteontem, Marcílio, numa entrevista à “Agência Estado”, acentuou: “Cada um deve contribuir com o seu tijolo na construção do País e, para isso é preciso ter uma visão clara da obra que se quer fazer”. Mas como, por exemplo, um pai de família, que há seis meses faz uma peregrinação diária, frustrada, em busca de um trabalho, objetivando não mais qualquer investimento no amanhã, mas pôr o pão na mesa de seus filhos hoje, pode contribuir para esse Brasil dos sonhos? (Ou de delírios?).

Temos que planejar o futuro, isso é inegável, mas nosso compromisso maior é com a sobrevivência, com o hoje, com o aqui e agora. E este presente, convenhamos, é terrível. O jornalista Alberto Dines, em entrevista publicada no “Caderno de Sábado”, do “Jornal da Tarde”, da semana passada, expressou com exatidão sua preocupação, que certamente é a de todo cidadão bem-intencionado, que ainda confia – embora já muito desconfiado – no amanhã deste País: “Me preocupa o espetáculo de fúria que o Brasil apresenta. É uma pessoa loucamente contra a outra. É uma coisa irracional, não tem lógica, estão todos brigando. Se não tomarmos cuidado, isso pode descambar em um processo de destruição”. Que tal, portanto, cuidarmos logo do Brasil de hoje?

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 22 de junho de 1992)



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