Thursday, August 14, 2014

Turismo sexual



Pedro J. Bondaczuk


A exploração sexual de crianças e adolescentes é uma praga mundial que governos e organizações ligadas às Nações Unidas, ou entidades defensoras de direitos humanos, buscam, a todo o custo, combater. Mas estão perdendo essa guerra.

Tragédias são noticiadas, com certa freqüência, envolvendo pedófilos – como o belga Mark Dutreux, por exemplo –, alguns até ocupando posições de responsabilidade na sociedade, em que crimes bárbaros são cometidos contra menores. Tais episódios, porém, só vêm à tona quando nada mais pode ser feito pelas vítimas.

No Brasil, fazer sexo com garotinhas ou garotinhos tornou-se "atração turística". Há muito que se conhece essa prática, mas pouca coisa (ou nada) foi feito até aqui para evitar essa aberração. Apenas os artistas – notadamente a cantora Daniela Mercury – vinham empreendendo, solitariamente, campanhas para punir exploradores sexuais de menores.

Desde quarta-feira, o governo entrou nessa "guerra". Talvez não o faça da maneira ideal, mas já é uma atitude. A "Campanha de Combate à Exploração do Turismo Sexual Infantil", lançada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, tem o mérito, pelo menos, de "pôr o dedo nessa chaga", publicamente.

Objetiva, sobretudo, conscientizar a sociedade dos prejuízos que essa prática traz para a imagem do País lá fora e que não é das melhores. Foi colocado, inclusive, um número telefônico à disposição da população (0800-990500) para que denuncie os responsáveis pela prostituição de meninos e meninas.

A rigor, não existem medidas preventivas para evitar que as crianças sejam sexualmente exploradas. Não há  uma cultura de preservação da sua integridade física e emocional. Falta uma consciência generalizada de que todos somos responsáveis por todos. De que aquilo que acontece ao nosso vizinho pode, de alguma forma, nos afetar.

As pessoas preferem ignorar o problema. Apenas ficam indignadas quando crimes bárbaros, como o de Dutreux ou do casal West na Grã-Bretanha (o da "casa dos horrores"), são noticiados. Essa indignação, no entanto, tem muito de hipocrisia.

Há senhores que posam de empresários respeitáveis e amorosos pais de família que atravessam continentes para fazer "turismo sexual". E o Brasil torna-se, crescentemente, um dos países mais procurados para o exercício dessa perversão. E por que? Porque tem fama de não tratar com dignidade e seriedade suas crianças. E não trata. Com certa freqüência, documentários são exibidos no Exterior mostrando como vivem nossos meninos e meninas de rua.

Isto não quer dizer que tais cenas não devam ser mostradas. Não devem é existir. E para que isso aconteça é indispensável que se mude a mentalidade. Claro que não serão uma ou duas campanhas transitórias que vão fazer isso. Mas elas podem ser um início. É preciso que venham acompanhadas de medidas práticas que, sobretudo, eliminem, ou pelo menos atenuem, a vergonhosa miséria que atinge a grande maioria dos brasileiros.


(Artigo publicado no Correio Popular em 17 de abril de 1997). 


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