Turismo
sexual
Pedro J.
Bondaczuk
A exploração sexual de crianças e adolescentes é uma
praga mundial que governos e organizações ligadas às Nações Unidas, ou
entidades defensoras de direitos humanos, buscam, a todo o custo, combater. Mas
estão perdendo essa guerra.
Tragédias são noticiadas, com certa freqüência,
envolvendo pedófilos – como o belga Mark Dutreux, por exemplo –, alguns até
ocupando posições de responsabilidade na sociedade, em que crimes bárbaros são
cometidos contra menores. Tais episódios, porém, só vêm à tona quando nada mais
pode ser feito pelas vítimas.
No Brasil, fazer sexo com garotinhas ou garotinhos
tornou-se "atração turística". Há muito que se conhece essa prática,
mas pouca coisa (ou nada) foi feito até aqui para evitar essa aberração. Apenas
os artistas – notadamente a cantora Daniela Mercury – vinham empreendendo,
solitariamente, campanhas para punir exploradores sexuais de menores.
Desde quarta-feira, o governo entrou nessa
"guerra". Talvez não o faça da maneira ideal, mas já é uma atitude. A
"Campanha de Combate à Exploração do Turismo Sexual Infantil",
lançada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, tem o mérito, pelo menos, de
"pôr o dedo nessa chaga", publicamente.
Objetiva, sobretudo, conscientizar a sociedade dos prejuízos
que essa prática traz para a imagem do País lá fora e que não é das melhores.
Foi colocado, inclusive, um número telefônico à disposição da população
(0800-990500) para que denuncie os responsáveis pela prostituição de meninos e
meninas.
A rigor, não existem medidas preventivas para evitar
que as crianças sejam sexualmente exploradas. Não há uma cultura de
preservação da sua integridade física e emocional. Falta uma consciência
generalizada de que todos somos responsáveis por todos. De que aquilo que
acontece ao nosso vizinho pode, de alguma forma, nos afetar.
As pessoas preferem ignorar o problema. Apenas ficam
indignadas quando crimes bárbaros, como o de Dutreux ou do casal West na
Grã-Bretanha (o da "casa dos horrores"), são noticiados. Essa indignação,
no entanto, tem muito de hipocrisia.
Há senhores que posam de empresários respeitáveis e
amorosos pais de família que atravessam continentes para fazer "turismo
sexual". E o Brasil torna-se, crescentemente, um dos países mais
procurados para o exercício dessa perversão. E por que? Porque tem fama de não
tratar com dignidade e seriedade suas crianças. E não trata. Com certa
freqüência, documentários são exibidos no Exterior mostrando como vivem nossos
meninos e meninas de rua.
Isto não quer dizer que tais cenas não devam ser
mostradas. Não devem é existir. E para que isso aconteça é indispensável que se
mude a mentalidade. Claro que não serão uma ou duas campanhas transitórias que
vão fazer isso. Mas elas podem ser um início. É preciso que venham acompanhadas
de medidas práticas que, sobretudo, eliminem, ou pelo menos atenuem, a
vergonhosa miséria que atinge a grande maioria dos brasileiros.
(Artigo publicado no Correio Popular em 17 de abril
de 1997).
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