Otimismo
x pessimismo
Pedro J. Bondaczuk
Os significados das palavras
otimismo e pessimismo nem sempre são devidamente compreendidos. Ouso dizer que
raramente são. As duas expressões têm a ver com o futuro, com o que ainda não
aconteceu, mais propriamente, com expectativas. O que cada um desses termos
significa já está sugerido, para não dizer explicitado, na sua própria raiz.
Otimista é o indivíduo que espera o “ótimo”, o excelente, o muito bom. Por
conseqüência, o pessimista é o oposto. Ou seja, é o que espera, posto que não
deseje, o péssimo, o muito ruim, o desastroso.
São palavras que, ao contrário do
que se pensa, não avaliam a realidade. Não expressam nenhum juízo a propósito.
Refletem, reitero, expectativas. É certo que a realidade tem muito a ver com as
posturas dos dois lados. Ela pode ser péssima e, ainda assim, o otimista irá
“esperar” que sofra reversão e se torne ótima. E o mesmo ocorre no caso oposto.
Ou seja, face uma realidade bastante favorável, o pessimista insiste em manter
um pé atrás e esperar o pior. Sofre muito, portanto. Sofre com o que aconteceu
de ruim e com o que não aconteceu e pode nunca acontecer, mas que ele acha que
acontecerá. E que será ruim. Não consigo ser assim e não entendo quem o seja,
quem aposta no negativo, no sofrimento e na infelicidade.
A definição mais exata de
pessimismo, a que consta dos melhores dicionários, é: “Estado de espírito dos
que pensam que tudo caminha para o pior”. Há várias outras, mas entendo que
esta é a mais precisa. Cito uma segunda, cujo significado é o mesmíssimo, posto
que com outras palavras “Pessimismo é a
disposição de espírito que leva o indivíduo a encarar tudo pelo lado negativo,
a esperar de tudo o pior”. Já a definição de otimismo, lógico, é exatamente o
contrário, sem tirar e nem pôr. Nos dois casos, porém, a chave é a esperança. O
otimista “espera” o ótimo, enquanto o pessimista aguarda o péssimo.
Essa análise semântica, na
verdade conceitual, desses dois tipos de comportamento, é pretexto para
discordar, posto que com elegância, de alguns leitores, que me questionaram, por
e-mail, a propósito especificamente dos dois últimos textos que escrevi, sobre
escravidão infantil e sobre minha intuição de que esteja em andamento uma
revolução global, posto que não pacífica e nem construtiva. Ambos comentários
foram considerados bastante “pessimistas”, o que causou estranheza a esses
gentis críticos que têm em mim um escritor otimista. E, de fato, sou.
Esclareço que otimismo não é
sinônimo de alienação. Não posso e não devo identificar uma realidade perversa
como sendo positiva e ideal, por mais desinformado que seja, poderia ser
qualquer coisa, menos otimista. Só que esses leitores não levaram em conta o
que é essencial nesses conceitos: o fator “esperança”. Em momento algum
declarei que “espero” o “pior”, em ambos os casos. E a expectativa de melhoria
fica implícita no próprio fato de eu haver tratado desses temas. Se não
acreditasse na possibilidade de uma evolução positiva, por ínfima que fosse,
sequer abordaria as questões. Manteria o silêncio a respeito que, ademais, é a
atitude da maioria dos intelectuais do nosso tempo. Ou não é?
Não, esclarecido leitor, não sou
pessimista, até porque concordo com o psicólogo e filósofo norte-americano
William James, que concluiu que “pessimismo é fraqueza e otimismo é poder”. A
realidade mundial é a maravilha das maravilhas? Óbvio que não. É fácil de
observar que o mais profundo pessimismo permeia as relações humanas. Que
raríssimos são os que crêem em um mundo melhor, mais justo, equilibrado e
humano, sem os enormes contrastes e aberrações econômicos, sociais e
comportamentais da atualidade. Mas se
ninguém fizer nada para mudar, as coisas ou permanecerão como estão, ou, o que
é o mais provável, tenderão a piorar. Como sou otimista, “espero” que muitos se
disponham a agir concretamente em sentido positivo. Notaram a diferença?
Admito, como qualquer pessimista, que a realidade é ruim, viciosa, dramática e
quase insustentável. Mas, ao contrário dele, “espero” o melhor (embora –
confesso – minhas esperanças não raro se vejam abaladas face tanta violência,
maldade, sofrimento e injustiças).
Portanto, quando eu, na função de
jornalista, menciono o desequilíbrio climático, por exemplo, não estou sendo
“catastrofista”, como pode parecer aos desavisados, e nem sequer derrotista,
que é superlativo de pessimista. Que não me encarem, pois, como um neurótico,
ou como alguém fora da realidade, de mal com tudo e c om todos. Essa alienação
(das pessoas e não minha) que conta com a aliança dos que devastam o patrimônio
da humanidade em proveito próprio, transformando matas seculares em montinhos
de carvão, é extremamente perigosa e não sou seu adepto.
Não me incluo, pois, entre esses
alienados. O que critico nessa questão é o fato de se levar o desequilíbrio
ambiental para o terreno ideológico. Se o sujeito quer viver num mundo limpo,
que não se assemelhe às nauseabundas cloacas romanas, é tido por agitador,
perturbador da ordem pública e outras coisas, até mesmo mais depreciativas. E
essa é, sem dúvida, uma perigosa burrice e não a atitude de denunciar as
agressões à natureza. Quem denuncia pode ser confundido com o pessimista?. Não
é!. Se o fosse, se limitaria a resmungar, até a se desesperar, mas sem agir
para deter, de alguma forma, o desequilíbrio ambiental.
A vida das grandes metrópoles, eu
sei porque sinto na carne, é caracterizada pela angústia. Torna-se cada vez
mais raro surpreender-se alguém com um sorriso de genuína satisfação nos
lábios. O cotidiano é composto por correrias, preocupações com contas, luta por
uma posição melhor, verdadeira batalha por esse lema, extremamente vago e de
sentido ambíguo, que se denomina “vencer na vida”. Para cada pessoa, isto tem
um significado diferente. Os meios de comunicação, por outro lado, a pretexto
de pintarem o quadro do que se convencionou classificar de realidade, passam,
na verdade, mensagens negativas.
Certos profissionais entendem que
a comunidade está ávida somente por notícias ruins; por crimes, escândalos,
aberrações sexuais e outras tantas distorções de comportamento do animal homem.
Alguns, é verdade, se “deliciam” com isso. Para estes, só o negativo é digno de
manchete. Por quê? Dificilmente alguém conseguirá explicar isto de maneira
racional e minimamente lógica. É verdade que meus colegas de profissão, os
jornalistas cumprem seu papel de retratar a realidade. Fazem-no, porém, de
forma apenas parcial. Sonegam o lado positivo da realidade. São, portanto,
pessimistas, e fazem apologia do pessimismo (posto que nas entrelinhas), não
pelos seus relatos, mas por suas expectativas que, salvo exceções, são quase
sempre pelo “pior”. Ficou claro?
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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