Ocidente
neutraliza triângulo dos radicais
Pedro J. Bondaczuk
O rompimento de relações diplomáticas da
Grã-Bretanha com a Síria, decidido ontem, como conseqüência de uma alegada
participação do regime de Damasco no planejamento de um frustrado atentado a
bomba contra um avião da empresa aérea israelense El Al, ocorrido em 17 de
abril passado, no aeroporto londrino de Heathrow, era algo há algum tempo
esperado. Talvez não em decorrência desse incidente, especificamente, por cuja
responsabilidade um jornalista jordaniano (que foi o seu autor) foi condenado a
45 anos de prisão.
Mas o caso serviu bem aos propósitos britânicos,
para manifestar sua posição de força contra os terroristas e os Estados que,
segundo afirmam, os patrocinam. Após a ruptura com o governo de Damasco, os
aliados dos Estados Unidos e de Israel fecharam o cerco contra os três Estados
radicais, que formam uma espécie de triângulo com vértices em regiões
diferentes da área: Líbia, no Norte da África; Síria, no Oriente Médio e Irã,
no Golfo Pérsico.
Os primeiros a serem isolados foram, obviamente, os
iranianos, ainda no calor dos acontecimentos da ocupação da embaixada
norte-americana em Teerã, por parte de estudantes fundamentalistas xiitas, que
mantiveram 53 reféns em seu poder por tormentosos 444 dias.
O pólo seguinte a ser neutralizado foi o regime do
coronel líbio Muammar Khadafy, que começou a ser segregado ainda em 1984 (em
abril daquele ano), quando um tiro, que teria partido do interior da sua
embaixada, em Londres, ceifou a vida da policial inglesa Yvonne Fletcher, fato
que levou o gabinete da primeira-ministra Margaret Thatcher a determinar o
rompimento de relações diplomáticas com Trípoli.
Posteriormente, foi a vez dos Estados Unidos
hostilizarem a Líbia. Primeiro, usando como pretexto o fato desse país
considerar como sendo suas águas territoriais uma vasta extensão do Golfo de
Sidra, que Washington, para criar um estado de conflito, passou a jurar que
eram internacionais. Posteriormente, não se sabe surgidas de que maneira e baseadas
em que comprovações, o governo de Khadafy passou a ser acusado pela Casa Branca
pela onda de terrorismo que grassava na Europa no início do ano.
A gota que faltava para justificar uma !exemplar
represália”, no entanto, foi a explosão ocorrida na boate “La Belle”, em Berlim
Ocidental, que causou a morte de um soldado norte-americano, que prestava
serviços em território germânico, e de sua acompanhante, verificada em 2 de
abril passado.
Não as sabe por quais mágicas, o ato terrorista
acabou relacionado à Líbia. E duas semanas depois, as cidades de Trípoli e
Benghazi foram bombardeadas, sem esta ou mais aquela, ante os olhares passivos
da comunidade internacional.
Para completar o triângulo, faltava, ainda, um
vértice para ser isolado: a Síria. É o que a Grã-Bretanha acaba de fazer,
rompendo com Damasco, aliás, de conformidade com o que já havia sido
previamente decidido na reunião de cúpula dos líderes dos sete países mais
industrializados do mundo, realizada em maio, em Tóquio, no Japão.
Após aquele encontro, os analistas tinham certeza
que qualquer tipo de represália aos sírios era, apenas, questão de tempo e de
oportunidade. Só não sabiam a que país caberia essa tarefa. Se aos Estados
Unidos, cujo governo tem uma dívida com Hafez Assad, por ele ter interferido
junto aos xiitas libaneses e conseguido a libertação dos reféns
norte-americanos aprisionados em junho de 1985, quando do seqüestro do Boeing
da TWA; se a Israel ou se a algum aliado europeu. Coube aos amigos de
Washington na Europa (por sinal, ao mais leal deles) pôr em execução o que já
havia sido há muito decidido.
Se mais esse rompimento vai resolver a questão do
terrorismo, é coisa para se conferir mais para frente. Tudo indica que não. Ao
contrário, a Síria, virtualmente, detém o controle de fato sobre o Líbano, onde
atualmente se concentra a maioria dos grupos radicais.
Se Damasco é, de fato, um Estado que patrocina
facções extremistas, o que se espera, assim que a poeira baixar, é uma grande
profusão de atentados. Se não é, as possibilidades também são nesse sentido, já
que há três países virtualmente eleitos para levar a culpa. Não é através desse
tipo de estratégia, com certeza, que o problema será resolvido. É só conferir,
mais para a frente, para constatar essa realidade.
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do
Correio Popular, em 25 de outubro de 1986)
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