Friday, August 29, 2014

Invasão do crack


Pedro J. Bondaczuk


O crack, droga formada por resíduos da cocaína, muito popular nos Estados Unidos, onde é consumida em larga escala, em especial na cidade de Nova York, está chegando ao Brasil. Aliás, chegar não seria bem o termo. Está se consolidando entre os viciados, com uma velocidade altamente preocupante, tendo em vista seus efeitos.

Médicos constataram que esse tóxico causa efeitos irreversíveis sobre o coração e principalmente o cérebro. Os consumidores da substância, portanto, têm uma expectativa de vida muito curta. Alguns especialistas chegam a arriscar que a morte sobrevém, no máximo, em um ano e meio. Isto sem contar os óbitos provocados por brigas entre traficantes ou por tiroteios em que os viciados se envolvem, durante assaltos para "fianciar" o vício.

A Primeira Delegacia da Criança e do Adolescente da Divisão de Homicídios da Polícia Civil de São Paulo realizou um estudo acerca do consumo de crack em sua jurisdição e dos casos de assassinato provocados direta ou indiretamente por essa utilização.

Concluiu que de cada dois menores assassinados na Capital, um é viciado nessa droga. É verdade que o número de casos analisados foi pequeno, mas permite algumas conclusões. As vítimas, em 75 homicídios tomados como base para a pesquisa, tinham entre 14 e 17 anos de idade. Outra constatação é que esses adolescentes mortos eram oriundos de famílias pobres e sobretudo problemáticas.

Os que escapar de morrer assassinados por traficantes ou pelos efeitos do crack acabaram nas mãos dos chamados "Justiceiros", na verdade bandidos comuns a soldo de comerciantes da periferia das grandes cidades, mormente São Paulo e Rio de Janeiro, que ordenam essas execuções por uma série de motivos, que vão desde a vingança à "queima de arquivos".

Esse tóxico vem juntar-se à cola de sapateiro vastamente consumida por crianças, algumas de apenas oito anos de idade e se torna uma praga a mais que precisa ser erradicada. Mas quem o fará? O menor abandonado, a rigor, apenas é lembrado em épocas de campanha política por candidatos aos vários cargos públicos.

O tema rende votos, dá cartaz, mas poucos têm se preocupado, e mais do que isso, feito algo de efetivo para tirar essas pessoas das ruas, lhes dar alguma perspectiva de vida, que não seja a marginalidade e evitar sua morte precoce. Além de viciados, muitos desses meninos se transformam em traficantes, em troca do crack, levando companheiros de infortúnio a compartilhar do vício.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 26 de julho de 1994).


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