Invasão do crack
Pedro J. Bondaczuk
O
crack, droga formada por resíduos da cocaína, muito popular nos Estados Unidos,
onde é consumida em larga escala, em especial na cidade de Nova York, está
chegando ao Brasil. Aliás, chegar não seria bem o termo. Está se consolidando
entre os viciados, com uma velocidade altamente preocupante, tendo em vista
seus efeitos.
Médicos
constataram que esse tóxico causa efeitos irreversíveis sobre o coração e
principalmente o cérebro. Os consumidores da substância, portanto, têm uma
expectativa de vida muito curta. Alguns especialistas chegam a arriscar que a
morte sobrevém, no máximo, em um ano e meio. Isto sem contar os óbitos
provocados por brigas entre traficantes ou por tiroteios em que os viciados se
envolvem, durante assaltos para "fianciar" o vício.
A
Primeira Delegacia da Criança e do Adolescente da Divisão de Homicídios da
Polícia Civil de São Paulo realizou um estudo acerca do consumo de crack em sua
jurisdição e dos casos de assassinato provocados direta ou indiretamente por
essa utilização.
Concluiu
que de cada dois menores assassinados na Capital, um é viciado nessa droga. É
verdade que o número de casos analisados foi pequeno, mas permite algumas
conclusões. As vítimas, em 75 homicídios tomados como base para a pesquisa,
tinham entre 14 e 17 anos de idade. Outra constatação é que esses adolescentes
mortos eram oriundos de famílias pobres e sobretudo problemáticas.
Os
que escapar de morrer assassinados por traficantes ou pelos efeitos do crack
acabaram nas mãos dos chamados "Justiceiros", na verdade bandidos
comuns a soldo de comerciantes da periferia das grandes cidades, mormente São
Paulo e Rio de Janeiro, que ordenam essas execuções por uma série de motivos,
que vão desde a vingança à "queima de arquivos".
Esse
tóxico vem juntar-se à cola de sapateiro vastamente consumida por crianças,
algumas de apenas oito anos de idade e se torna uma praga a mais que precisa
ser erradicada. Mas quem o fará? O menor abandonado, a rigor, apenas é lembrado
em épocas de campanha política por candidatos aos vários cargos públicos.
O
tema rende votos, dá cartaz, mas poucos têm se preocupado, e mais do que isso,
feito algo de efetivo para tirar essas pessoas das ruas, lhes dar alguma
perspectiva de vida, que não seja a marginalidade e evitar sua morte precoce.
Além de viciados, muitos desses meninos se transformam em traficantes, em troca
do crack, levando companheiros de infortúnio a compartilhar do vício.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 26 de julho de 1994).
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