Friday, August 08, 2014

Inflação e desemprego


Pedro J. Bondaczuk


Os políticos, ao traçar suas estratégias de governo, deveriam sempre ter em mente que estão lidando com pessoas, como eles, com necessidades básicas imperiosas, ambições pessoais de toda a sorte e carências de vários tipos. Especialmente aqueles que postulam (e conquistam) a presidência dos diversos países existentes hoje na comunidade internacional (e há, atualmente, 159 com assento nas Nações Unidas) têm que entender que vão gerir uma sociedade integrada por seres humanos, e não por dados estatísticos.

Por isso, devem contar com programas sólidos, a salvo de aventuras, que confiram um mínimo de justiça social aos seus povos. Que, na pior das hipóteses, os cidadãos válidos de suas comunidades nacionais possam contar com pelo menos uma fonte de renda, um trabalho de onde tirar o sustento próprio e de seus familiares. Ou, se isso não for possível, contem com alguma espécie de seguro-desemprego, que não os deixe à míngua.

A afluência de fiéis, ontem, à Igreja de São Caetano, situada no extremo Oeste da zona metropolitana de Buenos Aires, mostrou o desespero dos argentinos em relação a essa angustiante questão. Afinal, este santo, que é o padroeiro do país vizinho, também é considerado patrono do trabalho.

Objetividade à parte, a concentração que se formou em torno do templo é um dos indicadores mais seguros da crise que afeta essa sociedade nacional. Estima-se que 14% da sua força trabalhista esteja, na atualidade, desocupada ou subocupada. Ou seja, pelo menos 1,3 milhão de indivíduos, a maioria pais de família, não têm como assegurar o seu sustento, mesmo dispostos a trabalhar.

O desemprego, em situações de inflação normal (que na América Latina seria um índice de até 5% mensais, o que em outras regiões seria intolerável), já é doloroso. Implica, até mesmo, na desagregação de muitos lares e em sofrimentos físicos e sobretudo morais terríveis.

Imagine o leitor o que ele significa num país com taxas centenárias por mês! Como alimentar, pagar aluguéis, dar escola, roupas e lazer para os filhos? Sobreviver de que forma? Em geral, tal sobrevivência se torna possível com o amparo da família, não sem que o amparado tenha que engolir humilhações tremendas.

Quem já esteve nessa situação sabe que é assim. Por isso, requer-se um mínimo de humanidade dos políticos. Exige-se que eles se lembrem dos cidadãos não apenas na condição de eleitores, quando vão lhes pedir votos, mas como seres humanos, como gente. Até porque é impossível a existência de um país forte, se o povo que o integra for fraco. É uma afirmação óbvia, mas que a maioria, sequer, conseguiu atinar o quanto é verdadeira.  

(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 8 de agosto de 1989)


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