Inflação
e desemprego
Pedro J. Bondaczuk
Os políticos, ao traçar suas estratégias de governo,
deveriam sempre ter em mente que estão lidando com pessoas, como eles, com
necessidades básicas imperiosas, ambições pessoais de toda a sorte e carências
de vários tipos. Especialmente aqueles que postulam (e conquistam) a
presidência dos diversos países existentes hoje na comunidade internacional (e
há, atualmente, 159 com assento nas Nações Unidas) têm que entender que vão
gerir uma sociedade integrada por seres humanos, e não por dados estatísticos.
Por isso, devem contar com programas sólidos, a
salvo de aventuras, que confiram um mínimo de justiça social aos seus povos.
Que, na pior das hipóteses, os cidadãos válidos de suas comunidades nacionais
possam contar com pelo menos uma fonte de renda, um trabalho de onde tirar o
sustento próprio e de seus familiares. Ou, se isso não for possível, contem com
alguma espécie de seguro-desemprego, que não os deixe à míngua.
A afluência de fiéis, ontem, à Igreja de São
Caetano, situada no extremo Oeste da zona metropolitana de Buenos Aires,
mostrou o desespero dos argentinos em relação a essa angustiante questão.
Afinal, este santo, que é o padroeiro do país vizinho, também é considerado
patrono do trabalho.
Objetividade à parte, a concentração que se formou
em torno do templo é um dos indicadores mais seguros da crise que afeta essa
sociedade nacional. Estima-se que 14% da sua força trabalhista esteja, na
atualidade, desocupada ou subocupada. Ou seja, pelo menos 1,3 milhão de
indivíduos, a maioria pais de família, não têm como assegurar o seu sustento,
mesmo dispostos a trabalhar.
O desemprego, em situações de inflação normal (que
na América Latina seria um índice de até 5% mensais, o que em outras regiões
seria intolerável), já é doloroso. Implica, até mesmo, na desagregação de
muitos lares e em sofrimentos físicos e sobretudo morais terríveis.
Imagine o leitor o que ele significa num país com
taxas centenárias por mês! Como alimentar, pagar aluguéis, dar escola, roupas e
lazer para os filhos? Sobreviver de que forma? Em geral, tal sobrevivência se
torna possível com o amparo da família, não sem que o amparado tenha que
engolir humilhações tremendas.
Quem já esteve nessa situação sabe que é assim. Por
isso, requer-se um mínimo de humanidade dos políticos. Exige-se que eles se
lembrem dos cidadãos não apenas na condição de eleitores, quando vão lhes pedir
votos, mas como seres humanos, como gente. Até porque é impossível a existência
de um país forte, se o povo que o integra for fraco. É uma afirmação óbvia, mas
que a maioria, sequer, conseguiu atinar o quanto é verdadeira.
(Artigo publicado na página 14, Internacional, do
Correio Popular, em 8 de agosto de 1989)
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