Thursday, August 14, 2014

Algumas formas de educar

Pedro J. Bondaczuk

A educação é uma ciência e reputo-a como a mais importante de todas elas, por ser fonte das demais. É um processo empírico, que se dá na base de tentativa e erro. Embora especialistas contestem, é individual. Funciona ou deixa de funcionar de formas muito diversas. O que dá certo para uns, não dará, necessariamente, para outros. Afinal, se está lidando com pessoas, caracterizadas pela diversidade e não somente física, mas mental, intelectual e sentimental. Concordo, pois, com esta conclusão dos autores do livro “Reeducação”, a dupla Antonio Bias Bueno Guillon e Victor Mirshawka: “Está bem claro hoje que não existem dois seres humanos que aprendam da mesma maneira”. Por que? Porque não há quem ensine de forma igual.

Há métodos e mais métodos de educação, cada qual com suas peculiaridades e com as respectivas variantes. Alguns educadores, por exemplo, entendem que o processo somente será eficiente “pela dor”. Ou seja, defendem a aplicação de castigos físicos, quando necessários, para colocar uma criança recalcitrante (teimosa) “na linha”. Outros, contudo, opõem-se a esse procedimento. Apostam, exclusivamente, no diálogo como a única forma eficaz de educar alguém. Uma terceira corrente propõe que o educador, além de dialogar com o educando, deve dar exemplos para que sua tarefa se cumpra com eficácia. Poderia citar, ainda, formas e mais formas de educação, mesclando as vertentes que citei e tantas outras, em diferentes intensidades.

Observo que sou visceralmente contrário aos castigos físicos como forma de corrigir, e assim supostamente educar, uma criança. “Nem uma palmadinha?”, perguntam-me, amiúde, sempre que menciono o assunto. “Nem mesmo esta”, afirmo e reafirmo. Trata-se de ato violento. E quem é submetido a essa violência, ou a outras bem piores, firma, em seu subconsciente, a convicção de que esta se justifica em determinadas circunstâncias. Não se justifica nunca. Não se educa pela dor, mas somente pelo amor. O filósofo grego Aristóteles defendia essa prática e justificava: "A educação tem raízes amargas, mas os seus frutos são doces". Nem sempre, para não dizer raramente, se obtém essa “doçura”. Esta é, isto sim, a estratégia mais segura para a formação de adultos revoltados, insensíveis e, sobretudo, violentos.

Sócrates tinha posição diametralmente oposta à de Aristóteles. Afirmava: "Aquele a quem a palavra não educar, também o pau não educará". A experiência e a observação mostraram-me que o mestre de Platão estava coberto de razão. Costumo dizer, quando me refiro a isso, mesmo que em tom de brincadeira, que se pancada ensinasse algo a alguém, burro não puxaria carroça, mas seria doutor.

A educadora Tânia Zagury dá-me razão, ao afirmar, em artigo publicado em 6 de maio de 2004, intitulado “Quem ama o feio, bonito lhe parece”: “Ouçam seus filhos, sem pré-julgamentos. Ensinem seus filhos a saber ouvi-los. É importante ouvir os filhos, verbalmente, mas também física e emocionalmente. Em contrapartida, demonstrem seus sentimentos e sofrimentos, para que seus filhos os encarem como pessoas com as mesmas dificuldades que eles têm na vida”. Isso é compreensão, é o que chamo de “educar pelo amor”.

Não quer dizer, óbvio, que os pais não devam impor limites às crianças. Devem, e sempre. Mas convencendo-as de que determinadas coisas são inadequadas, ou perigosas, ou imorais, ou ruins em qualquer outro aspecto. Se forem incapazes disso, estarão inabilitados para educar quem quer que seja. O pai da psicanálise, Sigmund Freud, era absolutamente cético quanto à nossa capacidade de darmos uma educação rigorosamente perfeita aos nossos filhos. Chegou a dizer, em determinada ocasião: "Eduque-o como quiser; de qualquer maneira há de educá-lo mal". Discordo dessa postura tão radical do ilustre psicanalista.      

Um dos maiores erros que muitos pais cometem na educação dos filhos é a tentativa de determinarem seus gostos, preferências e aptidões. Muitos projetam neles os próprios sonhos irrealizados e desafios que não conseguiram superar, notadamente no que diz respeito a profissões. Querem, por exemplo, que o garoto (ou garota) seja médico (ou médica) quando a aptidão dele ou dela é, por exemplo, para as artes. Há pai que sonha que o filho se torne um jogador de futebol de muito talento e fama, quando a vocação dele é, digamos, ser bailarino. Não raro, conseguem impor sua vontade. Conseguem, com isso, apenas criar profissionais fracassados, desinteressados e frustrados.

Há quem diga que nenhuma imposição é suficiente para que alguém deixe de seguir sua verdadeira vocação. Quem pensa assim, está equivocado. Basta observar o que ocorre ao redor. O psicólogo John B. Watson, desafiou, no longínquo ano de 1925, os educadores, afirmando: “Dêem-me uma dúzia de bebês sãos e farei de todos eles, ao acaso, e sem seguir seus dotes ou inclinações, médicos, advogados, artistas, comerciantes, ou vagabundos e ladrões”.

O procedimento correto e racional neste caso é o proposto pelo sociólogo francês, Edgar Morin, no artigo “Os sete saberes necessários à educação do futuro”, publicado em um boletim da Unesco, no ano 2000: “A educação deve favorecer a aptidão natural da mente em formular e resolver problemas essenciais e, de forma correlata, estimular o uso total da inteligência geral. Este uso total pede o livre exercício da curiosidade, a faculdade expandida e a mais viva durante a infância e a adolescência, que com freqüência a instrução extingue e que, ao contrário, se trata de estimular ou, caso esteja adormecida, de despertar”.  

E o eminente sociólogo complementou: “Defendo que a educação do futuro deverá velar a idéia da unidade da espécie humana, unidade que não encobre a sua diversidade e diversidade que não encobre a sua unidade. Há uma unidade humana, que não é dada somente pelos traços biológicos do homo sapiens. A diversidade não é somente marcada pelos traços psicológicos, culturais, sociais do ser humano. Há uma diversidade biológica no seio da humanidade, há uma unidade não somente cerebral, mas mental, psicológica e afetiva”.


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