Algumas
formas de educar
Pedro J. Bondaczuk
A
educação é uma ciência e reputo-a como a mais importante de todas elas, por ser
fonte das demais. É um processo empírico, que se dá na base de tentativa e
erro. Embora especialistas contestem, é individual. Funciona ou deixa de
funcionar de formas muito diversas. O que dá certo para uns, não dará,
necessariamente, para outros. Afinal, se está lidando com pessoas,
caracterizadas pela diversidade e não somente física, mas mental, intelectual e
sentimental. Concordo, pois, com esta conclusão dos autores do livro
“Reeducação”, a dupla Antonio Bias Bueno Guillon e Victor Mirshawka: “Está bem
claro hoje que não existem dois seres humanos que aprendam da mesma maneira”.
Por que? Porque não há quem ensine de forma igual.
Há
métodos e mais métodos de educação, cada qual com suas peculiaridades e com as
respectivas variantes. Alguns educadores, por exemplo, entendem que o processo
somente será eficiente “pela dor”. Ou seja, defendem a aplicação de castigos
físicos, quando necessários, para colocar uma criança recalcitrante (teimosa)
“na linha”. Outros, contudo, opõem-se a esse procedimento. Apostam,
exclusivamente, no diálogo como a única forma eficaz de educar alguém. Uma
terceira corrente propõe que o educador, além de dialogar com o educando, deve
dar exemplos para que sua tarefa se cumpra com eficácia. Poderia citar, ainda,
formas e mais formas de educação, mesclando as vertentes que citei e tantas
outras, em diferentes intensidades.
Observo
que sou visceralmente contrário aos castigos físicos como forma de corrigir, e
assim supostamente educar, uma criança. “Nem uma palmadinha?”, perguntam-me,
amiúde, sempre que menciono o assunto. “Nem mesmo esta”, afirmo e reafirmo.
Trata-se de ato violento. E quem é submetido a essa violência, ou a outras bem
piores, firma, em seu subconsciente, a convicção de que esta se justifica em
determinadas circunstâncias. Não se justifica nunca. Não se educa pela dor, mas
somente pelo amor. O filósofo grego Aristóteles defendia essa prática e
justificava: "A educação tem raízes amargas, mas os
seus frutos são doces". Nem sempre, para não dizer raramente, se obtém
essa “doçura”. Esta é, isto sim, a estratégia mais segura para a formação de
adultos revoltados, insensíveis e, sobretudo, violentos.
Sócrates tinha
posição diametralmente oposta à de Aristóteles. Afirmava: "Aquele a quem a
palavra não educar, também o pau não educará". A experiência e a
observação mostraram-me que o mestre de Platão estava coberto de razão. Costumo
dizer, quando me refiro a isso, mesmo que em tom de brincadeira, que se pancada
ensinasse algo a alguém, burro não puxaria carroça, mas seria doutor.
A educadora
Tânia Zagury dá-me razão, ao afirmar, em artigo publicado em 6 de maio de 2004,
intitulado “Quem ama o feio, bonito lhe parece”: “Ouçam seus filhos, sem pré-julgamentos.
Ensinem seus filhos a saber ouvi-los. É importante ouvir os filhos,
verbalmente, mas também física e emocionalmente. Em contrapartida, demonstrem
seus sentimentos e sofrimentos, para que seus filhos os encarem como pessoas
com as mesmas dificuldades que eles têm na vida”. Isso é compreensão, é o que
chamo de “educar pelo amor”.
Não quer dizer, óbvio, que os pais não devam impor
limites às crianças. Devem, e sempre. Mas convencendo-as de que determinadas
coisas são inadequadas, ou perigosas, ou imorais, ou ruins em qualquer outro
aspecto. Se forem incapazes disso, estarão inabilitados para educar quem quer
que seja. O pai da psicanálise, Sigmund Freud, era absolutamente cético quanto
à nossa capacidade de darmos uma educação rigorosamente perfeita aos nossos
filhos. Chegou a dizer, em determinada ocasião: "Eduque-o
como quiser; de qualquer maneira há de educá-lo mal". Discordo dessa
postura tão radical do ilustre psicanalista.
Um dos maiores erros que muitos pais cometem na
educação dos filhos é a tentativa de determinarem seus gostos, preferências e
aptidões. Muitos projetam neles os próprios sonhos irrealizados e desafios que
não conseguiram superar, notadamente no que diz respeito a profissões. Querem,
por exemplo, que o garoto (ou garota) seja médico (ou médica) quando a aptidão
dele ou dela é, por exemplo, para as artes. Há pai que sonha que o filho se
torne um jogador de futebol de muito talento e fama, quando a vocação dele é,
digamos, ser bailarino. Não raro, conseguem impor sua vontade. Conseguem, com
isso, apenas criar profissionais fracassados, desinteressados e frustrados.
Há quem diga que nenhuma imposição é suficiente para
que alguém deixe de seguir sua verdadeira vocação. Quem pensa assim, está
equivocado. Basta observar o que ocorre ao redor. O psicólogo John B. Watson,
desafiou, no longínquo ano de 1925, os educadores, afirmando: “Dêem-me uma dúzia de bebês sãos e farei de todos eles,
ao acaso, e sem seguir seus dotes ou inclinações, médicos, advogados, artistas,
comerciantes, ou vagabundos e ladrões”.
O
procedimento correto e racional neste caso é o proposto pelo sociólogo francês,
Edgar Morin, no artigo “Os sete saberes necessários à educação do futuro”,
publicado em um boletim da Unesco, no ano 2000: “A educação deve favorecer a aptidão natural da mente em formular e
resolver problemas essenciais e, de forma correlata, estimular o uso total da
inteligência geral. Este uso total pede o livre exercício da curiosidade, a
faculdade expandida e a mais viva durante a infância e a adolescência, que com
freqüência a instrução extingue e que, ao contrário, se trata de estimular ou,
caso esteja adormecida, de despertar”.
E
o eminente sociólogo complementou: “Defendo
que a educação do futuro deverá velar a idéia da unidade da espécie humana,
unidade que não encobre a sua diversidade e diversidade que não encobre a sua
unidade. Há uma unidade humana, que não é dada somente pelos traços biológicos
do homo sapiens. A diversidade não é somente marcada pelos traços psicológicos,
culturais, sociais do ser humano. Há uma diversidade biológica no seio da
humanidade, há uma unidade não somente cerebral, mas mental, psicológica e
afetiva”.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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