Crise
sem fim na educação
Pedro J. Bondaczuk
A educação é valor básico e
imprescindível do homem, certo? Certíssimo! Creio que não há quem conteste esta
constatação, para lá de óbvia. Nessa condição, tem que ser, portanto,
prioridade das prioridades, primeiríssima, absoluta e insubstituível de qualquer
sociedade que se preze (e não me refiro apenas a governos, mas às pessoas que a
integram), caso se deseje não apenas progredir material e espiritualmente, mas,
sobretudo, sobreviver. Sem ela, o homem não é nada. É mais frágil e vulnerável
que a maioria das feras broncas. O filósofo norte-americano, Will Durant,
dedica a esse processo essencial e imprescindível todo um capítulo em seu
memorável livro “Filosofia da vida”, tema e abordagem a que me proponho a
comentar, hoje e nos próximos dias, e refletir com você, caríssimo leitor.
Advirto, todavia, que minha visão a propósito não é a de especialista na
matéria, que não sou, mas de mero observador, embora atento ao o que ocorre ao
meu redor e diretamente interessado no assunto que também me diz respeito.
A educação está em crise e não é
de hoje. Pode parecer afirmação acaciana, mas não é. Sempre esteve na corda
bamba. Sua ostensiva inadequação é a principal causa de violência e de
descontentamento social, que não raro resultaram e resultam em catástrofes. Os
problemas passados e presentes que determinam a crise centram-se nos mesmos
motivos: na lentidão de educadores –, no caso pais, mestres, líderes
religiosos, filósofos etc. – em acompanharem a evolução humana em outros campos
de atividade, que, aliás é mais (se não exclusivamente) material do que
espiritual, aspecto em que tenho observado, salvo engano, até certa estagnação,
quando não retrocesso. Antes de qualquer tentativa de detectar as causas da
interminável crise educacional é necessário definir alguns conceitos.
Will Durant vai ao cerne, à raiz
do significado, ao afirmar: “A educação é a causa de nos comportarmos como
seres humanos. Não nascemos humanos; nascemos uns animaizinhos malcheirosos e
grotescos; tornamo-nos humanos, assimilamos a humanidade pelos mil canais por
onde o presente recebe a herança cultural cuja acumulação, preservação e
transmissão colocam o homem de hoje, apesar do peso morto dos deficientes, em
plano mais alto que o atingido em qualquer outro momento da história”. Educar,
portanto, significa moldar o indivíduo, como um diligente escultor molda uma
escultura, empenhando-se em torná-la a mais perfeita possível, de sorte a
conferir a este animal tão frágil o que lhe dá superioridade sobre os demais
seres viventes: racionalidade, ou seja, “humanidade”.
A educação, portanto, não se
restringe ao ensino nas escolas ou ao adestramento para o exercício de
atividades essenciais para sua sobrevivência e a do grupo que integra. Não é
“só” isso, claro, posto que seja “também” isso. É um processo global,
holístico, envolvendo corpo e mente, intelecto e espírito, enfim, a totalidade
do homem. Hoje, todavia, até por questão de quantidade de educandos (ou seja,
todos nós, já que nos educamos, ou deveríamos nos educar do nascimento à
morte), a educação está anos-luz distante do minimamente aceitável, ou
desejável, quanto mais do ideal.
Cristalizada em dogmas, não acompanha, reitero, a evolução da
humanidade – da passagem de uma sociedade industrial para outra de informação,
por exemplo. Não satisfaz, portanto, as necessidades sociais, em um mundo
assoberbado por novas questões e crescentes problemas. O fenômeno ocorre tanto
no Ocidente, quanto no Oriente. Verifica-se quer em países altamente evoluídos
política, econômica, social e tecnologicamente, quer em Estados carentes, até
inviáveis (nestes, logicamente, de forma mais intensa). É necessário exigir e
trabalhar pelo seu resgate, com enfoque que é imprescindível: ético e
humanístico.
É preciso que valores duramente conquistados ao longo de milênios –
como respeito, lealdade, honra, fidelidade, amor, amizade e solidariedade,
entre outros – sejam resgatados (alguns se perderam), ampliados, consolidados e
transmitidos, para que não se transformem, como hoje, em palavras vazias de
significado, talvez pomposas, posto que despidas de conteúdo. Roger William
Riis lembra que "somente nós, entre as coisas vivas, descobrimos a Beleza,
a amamos e criamo-la para os nossos olhos e para os nossos ouvidos".
Nessa mesma linha de raciocínio, o autor teatral Thornton Wilder, na
peça "Our Town" (Nossa Cidade), coloca na boca de um personagem:
"Oh, Terra, és maravilhosa demais para que alguém te perceba. Acaso os
seres humanos têm consciência da vida enquanto vivem? Da vida em todos os seus
minutos?". Certamente que não têm.
O ideal de beleza, de cultura, de harmonia e de inteligência plena tem
que ser cultivado no dia-a-dia, por sua transcendência e importância e
transmitido às novas gerações, para que estas façam o mesmo, em um processo
contínuo e sem fim. Essa transmissão também integra o elenco desse processo
holístico conhecido, genericamente, como educação.
Para o líder
budista japonês Tsunessaburo Makiguti, fundador da organização Sokka Gakai,
educar é, principalmente, “criar, consolidar e transmitir valores”. É o que
enfatiza no livro "Educação para uma vida criativa": “A criação de
valores é, na realidade, a essência da natureza humana. Quando elogiamos
pessoas por sua 'força de caráter' estamos, na verdade, reconhecendo sua
capacidade superior de criar valores", acentua em determinado trecho. A
exemplo do líder japonês, entendo que um dos pilares da educação, se não o
principal, é não somente a criação, mas a consolidação, perpetuação e
transmissão dos citados valores.Voltarei, certamente, ao assunto.
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