Friday, August 15, 2014

Objetivos da educação

Pedro J. Bondaczuk

A educação é processo contínuo, ininterrupto, que só termina com nossa morte. Passamos a vida toda aprendendo, tanto o útil quanto o inútil, tanto o que diz respeito exclusivamente a nós mesmos, quanto o que não tem nada a ver conosco. Enfim, vivemos aprendendo e também ensinando. Tudo isso é óbvio, embora nem sempre tenhamos consciência dessa realidade. Aquela educação que iremos transmitir um dia às novas gerações – aos filhos, caso os venhamos a gerar, e a pessoas que não integrem nossas famílias, se formos professores – dependerá da maneira que formos educados. Ninguém ensina aos outros, óbvio, o que não sabe. Todavia, há muitos que acham que isso seja possível e que contribuem, decisivamente, para “deformar” a personalidade alheia, em vez de formá-la.

O filósofo e historiador norte-americano, Will Durant, personalidade que admiro por suas idéias e, sobretudo, pela conduta, escreveu, a propósito, no seu célebre livro “Filosofia da vida”: “A educação não se resume à tarefa dum certo período – é uma felicidade da vida inteira, uma nobre intimidade com os grandes homens, uma calma excursão pelos reinos da beleza e da sabedoria”. Não há quem não seja absolutamente educado. Todos são, em sentido lato. O que há é educação incompleta, truncada e/ou abruptamente interrompida em determinado momento da vida. Por mais broncos e despreparados que sejam os pais, sempre ensinam alguma coisa aos filhos, pelo menos o que é elementar, como a falar, a andar e a respeitá-los, por exemplo. Isso também integra o processo de educação, embora não baste a ninguém se não tiver o natural complemento. Afirmo, todavia, que não há pessoas não educadas. Há (e aos bilhões, sem nenhum exagero), as mal-educadas.

"A educação é um processo social, é desenvolvimento”, escreveu o filósofo e pedagogo norte-americano John Dewey, em um de seus tantos ensaios. Discordo desse tipo de limitação imposto pelo ilustre educador.  Educar é processo holístico. Envolve as relações do indivíduo consigo próprio, num primeiro estágio, e depois sim com terceiros: pais, irmãos, parentes, amigos e a sociedade. Eu diria que a educação é “também” processo social e não “só” ele Creio que, nesse assunto, não cabem particularizações. Concordo plenamente, todavia, com esta outra afirmação de Dewey: “A educação não é a preparação para a vida, é a própria vida".

Por falar em discordância, discordo de uma das citações do escritor Oscar Wilde – aquele que foi punido com prisão, no século XIX, pela prática do homossexualismo, que era crime na Inglaterra vitoriana – que li quando pesquisava opiniões alheias para redigir estas reflexões. Entendo que ele cometeu o pecado da generalização, ao escrever: "A educação é uma coisa admirável, mas é bom recordar que nada do que vale a pena saber pode ser ensinado". Claro que minha discordância é em relação à segunda parte do que escreveu. Nem tudo o que vale a pena saber não pode ser ensinado. Basta que quem ensina tenha pleno conhecimento disso.

Há, todavia, uma generalização, feita por Leon Tolstoi, em seu clássico “Guerra e paz”, com a qual não ouso discordar. É essa afirmação, que ele colocou na boca de um dos personagens desse conhecidíssimo romance, que diz: “Todo conhecimento é apenas adaptação da ciência da vida às leis da razão”. E não é?! Outra opinião, a propósito de educação, com a qual concordo liminarmente, é esta, do sociólogo Domenico de Mais: “O trabalho físico é feito pelas máquinas e o mental, pelos computadores. Ao homem cabe a tarefa na qual é insubstituível: ser criativo, ter idéias”. É para isso que devemos ser educados. Ou, para ser coerente, “também” para isso. Infelizmente, poucos são.

Insisto em dizer que a educação é, ou tem que ser, processo holístico. Deve envolver o ser humano em sua totalidade. Precisa prepará-lo não apenas para a vida em sociedade, mas, sobretudo, para ser feliz, até onde essa felicidade seja possível. Tem que formar não somente o cidadão, útil, responsável e cumpridor de seus deveres, mas, principalmente, o ser humano, consciente de sua racionalidade. E não somente isso, mas em paz consigo mesmo e com o mundo. Para isso, entendo, como Mauro Santayana, que a “educação para a vida deveria incluir aulas de solidão”. E como deveria!  Claro que essa é a educação ideal, mas que deve se colocada como objetivo prioritário, perseguido, o tempo todo, sem cessar, e transmitido diligentemente às novas gerações.  

Todo esse processo começa em casa, na tenra infância, embora se trate apenas de um início e não do fim. A educadora Tânia Zagury escreveu no artigo “Quem ama o feio, bonito lhe parece”: “A responsabilização de crianças e jovens pelos seus atos é a chave que possibilita o surgimento, no futuro,  de cidadãos responsáveis por si próprios e por todos seus semelhantes”. E complementa: “Como pais, podemos e devemos ser democráticos e modernos, mas jamais deixar de lado nosso papel de formadores da ética das novas gerações”. Pense nisso, paciente leitor.


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