Objetivos
da educação
Pedro J. Bondaczuk
A
educação é processo contínuo, ininterrupto, que só termina com nossa morte.
Passamos a vida toda aprendendo, tanto o útil quanto o inútil, tanto o que diz
respeito exclusivamente a nós mesmos, quanto o que não tem nada a ver conosco.
Enfim, vivemos aprendendo e também ensinando. Tudo isso é óbvio, embora nem
sempre tenhamos consciência dessa realidade. Aquela educação que iremos
transmitir um dia às novas gerações – aos filhos, caso os venhamos a gerar, e a
pessoas que não integrem nossas famílias, se formos professores – dependerá da
maneira que formos educados. Ninguém ensina aos outros, óbvio, o que não sabe.
Todavia, há muitos que acham que isso seja possível e que contribuem,
decisivamente, para “deformar” a personalidade alheia, em vez de formá-la.
O
filósofo e historiador norte-americano, Will Durant, personalidade que admiro
por suas idéias e, sobretudo, pela conduta, escreveu, a propósito, no seu
célebre livro “Filosofia da vida”: “A educação não se resume à tarefa dum certo
período – é uma felicidade da vida inteira, uma nobre intimidade com os grandes
homens, uma calma excursão pelos reinos da beleza e da sabedoria”. Não há quem
não seja absolutamente educado. Todos são, em sentido lato. O que há é educação
incompleta, truncada e/ou abruptamente interrompida em determinado momento da
vida. Por mais broncos e despreparados que sejam os pais, sempre ensinam alguma
coisa aos filhos, pelo menos o que é elementar, como a falar, a andar e a
respeitá-los, por exemplo. Isso também integra o processo de educação, embora
não baste a ninguém se não tiver o natural complemento. Afirmo, todavia, que
não há pessoas não educadas. Há (e aos bilhões, sem nenhum exagero), as
mal-educadas.
"A
educação é um processo social, é desenvolvimento”, escreveu o filósofo e
pedagogo norte-americano John Dewey, em um de seus tantos ensaios. Discordo
desse tipo de limitação imposto pelo ilustre educador. Educar é processo holístico. Envolve as relações
do indivíduo consigo próprio, num primeiro estágio, e depois sim com terceiros:
pais, irmãos, parentes, amigos e a sociedade. Eu diria que a educação é
“também” processo social e não “só” ele Creio que, nesse assunto, não cabem
particularizações. Concordo plenamente, todavia, com esta outra afirmação de
Dewey: “A educação não é a preparação para a vida, é a própria vida".
Por falar em
discordância, discordo de uma das citações do escritor Oscar Wilde – aquele que
foi punido com prisão, no século XIX, pela prática do homossexualismo, que era
crime na Inglaterra vitoriana – que li quando pesquisava opiniões alheias para
redigir estas reflexões. Entendo que ele cometeu o pecado da generalização, ao
escrever: "A educação é uma coisa admirável, mas é bom recordar que nada
do que vale a pena saber pode ser ensinado". Claro que minha discordância
é em relação à segunda parte do que escreveu. Nem tudo o que vale a pena saber
não pode ser ensinado. Basta que quem ensina tenha pleno conhecimento disso.
Há,
todavia, uma generalização, feita por Leon Tolstoi, em seu clássico “Guerra e
paz”, com a qual não ouso discordar. É essa afirmação, que ele colocou na boca
de um dos personagens desse conhecidíssimo romance, que diz: “Todo conhecimento é apenas adaptação da
ciência da vida às leis da razão”. E não é?! Outra opinião, a propósito de
educação, com a qual concordo liminarmente, é esta, do sociólogo Domenico de
Mais: “O trabalho físico é feito pelas máquinas e o mental, pelos
computadores. Ao homem cabe a tarefa na qual é insubstituível: ser criativo, ter
idéias”. É para isso que devemos ser
educados. Ou, para ser coerente, “também” para isso. Infelizmente, poucos são.
Insisto
em dizer que a educação é, ou tem que ser, processo holístico. Deve envolver o
ser humano em sua totalidade. Precisa prepará-lo não apenas para a vida em
sociedade, mas, sobretudo, para ser feliz, até onde essa felicidade seja
possível. Tem que formar não somente o cidadão, útil, responsável e cumpridor
de seus deveres, mas, principalmente, o ser humano, consciente de sua racionalidade.
E não somente isso, mas em paz consigo mesmo e com o mundo. Para isso, entendo,
como Mauro Santayana, que a “educação
para a vida deveria incluir aulas de solidão”. E como deveria! Claro que essa é a educação ideal, mas que
deve se colocada como objetivo prioritário, perseguido, o tempo todo, sem
cessar, e transmitido diligentemente às novas gerações.
Todo esse processo começa em casa, na tenra
infância, embora se trate apenas de um início e não do fim. A educadora Tânia
Zagury escreveu no artigo “Quem ama o feio, bonito lhe parece”: “A
responsabilização de crianças e jovens pelos seus atos é a chave que
possibilita o surgimento, no futuro, de
cidadãos responsáveis por si próprios e por todos seus semelhantes”. E
complementa: “Como pais, podemos e devemos ser democráticos e modernos, mas
jamais deixar de lado nosso papel de formadores da ética das novas gerações”.
Pense nisso, paciente leitor.
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