Puríssima fantasia
Pedro
J. Bondaczuk
A pergunta que não quer
calar, que é feita pelo homem desde que se conscientizou que a Terra não era o
centro do universo, que existiam outros mundos, provavelmente mais do que os
grãos de areia de todas as praias e desertos do nosso Planeta é: “Estamos sós
no universo?”. A intuição – mas exclusivamente ela, sem que eu tenha (e ninguém
tem) a mais remota comprovação – é sim. Da minha parte não se trata de
convicção. Apenas “intuo” que haja essa possibilidade.
Mesmo que ela exista, a
questão seguinte, que emergirá de imediato, será: essa hipotética vida seria,
mesmo que remotamente, sequer parecida com o que conhecemos? Seria inteligente?
Em caso positivo, constituiria uma civilização, mesmo que em estágio primitivo?
Prosseguindo nessa corrente de suposições, teria tecnologia mais avançada do
que a nossa a ponto de poder se aventurar a explorar outros mundos?
Sei que esse é um
assunto sem nenhum sentido prático. Não vai resolver nenhum dos múltiplos
problemas do nosso cotidiano ou que afetam a humanidade e que, tudo indica,
ameaça nossa sobrevivência, sem que se faça nada para a nossa proteção não mais
em longo prazo, mas no médio, se não no curto, se não mais ainda, no
curtíssimo. Sou um tanto cético a esse propósito e não raro sou alvo de
críticas dos que acreditam em Ovnis, ETs e quejandos, como se tivessem “provas”
do que apregoam com tamanha ênfase que eu não disponho.
Como afirmei acima,
acredito que, na vastidão do universo, haja, de fato, vida. Não tenho, todavia,
nem mesmo remota intuição (e muito menos convicção) de que, caso exista, seja
sequer minimamente inteligente. E supondo que tenha inteligência, que esta seja
superior à nossa. E continuando nessa linha de suposição, que tenha tecnologia
para empreender viagens espaciais. Por fim, no suprassumo da suposição, caso
todas as respostas, a cada uma dessas questões, seja afirmativa, que esses
hipotéticos (na verdade, fantasiosos) extraterrestres venham, algum dia, parar
neste planetazinho azul de um sistema planetário de uma estrela de quinta
grandeza, situada na “periferia” de uma galáxia que denominamos de Via Láctea.
Qual a razão do meu
ceticismo? Todas possíveis. A principal refere-se às distâncias absurdamente
imensas que separam nosso mundinho dos demais. Para se ter uma idéia,
calcula-se que a estrela mais próxima do nosso sistema solar – que justamente
por causa dessa proximidade foi batizada de Proxima Centauri – esteja longe de
nós a 4,22 anos luz. Isso quer dizer que, para chegarmos até ela, viajando à
velocidade da luz, que é de 300 mil quilômetros por segundo, levaríamos 4,22
anos para alcançá-la. Aos desavisados, parece factível. Claro que não é. Se
compararmos essa distância com a velocidade máxima já alcançada por uma nave
terrestre tripulada, o tempo necessário para chegar a Próxima Centauri seria
de, aproximadamente, o número de anos que o ser humano existe. E estou me
referindo, exatamente, à estrela mais perto de nós.
Para que essa noção de
distância fique mais clara, transformemos os 4,22 anos luz em quilômetros.
Teremos a fórmula 4 x 10 elevado à décima terceira potência. Ou seja
40.000.000.000.000 quilômetros. E estou me referindo, reitero, à estrela mais
próxima do nosso Sistema Solar. Façam a comparação com a Lua que, em relação a
essa estrela, fica logo ali. Nosso satélite natural fica a 384.400 quilômetros
da Terra. Notaram a diferença? Ademais, a probabilidade de que Proxima
Centauri, que é uma anã vermelha, tenha planetas ao redor é zero. Pode-se
afirmar, com quase 100% de segurança, que não tem nenhum. E muito menos algum
“habitável” pelo ser humano, com temperatura adequada para que haja água em
estado líquido, além de atmosfera com a exata mistura de gases que a nossa
Terra tem.
Se para se chegar à
estrela mais próxima de nós, na velocidade máxima suportável pelo ser humano,
seria necessária uma viagem com duração de milênios, imaginem chegar às mais
distantes! Nem o homem poderá jamais atingi-las e nem hipotéticos seres
inteligentes, com inteligência e tecnologia absurdamente desenvolvidas, poderão
chegar até nós. Fantasiar a propósito, todos nós podemos (e até devemos, como
saudável exercício de criatividade). Mas é absurdamente ridículo levar essas
fantasias a sério. Portanto, que me perdoem os crédulos, muitos dos quais já
deixaram de ser meus amigos por causa do meu ceticismo a respeito. Deixem dessa
bobagem de naves interestelares que vocês dizem, convictos, que nos visitaram
no passado e que nos visitam com freqüência, esqueça a tolice de
extraterrestres e de abduções e contatos de primeiro, segundo e terceiro graus
e se concentrem, exclusivamente, na tarefa, nada fácil, porém imediata, de
tentar salvar nosso mundinho que está em perigo. Tudo isso que vocês
classificam de “fatos” não passa de puríssima fantasia, prato cheio para escritores
de ficção científica. É questão da mais cristalina e elementar das lógicas, ora
bolas.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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