Agentes
da educação
Pedro J. Bondaczuk
A
educação é um processo holístico. Tem princípio, mas seu fim somente ocorre com
nossa morte. Envolve vários agentes, de acordo com as experiências e
conhecimentos úteis e necessários que o educando deva assimilar. Nem todos têm
esse privilégio. Aliás, muitos, muitíssimos, não recebem, mundo afora, sequer
as instruções elementares, básicas, mínimas e comezinhas para um convívio
sadio, equilibrado e sem conflitos em sociedade. Crescem ao Deus dará e não é
de se estranhar que se tornem, eventualmente, marginais, quando não perigosos e
ferozes bandidos, com ódio de tudo e de todos.
Os
primeiros educadores que a lógica diz que devamos ter são, óbvio, os pais.
Ocorre que nem todos cumprem a contento esse lógico papel. Pretextos não faltam
para que deixem de cumprir essa sagrada obrigação. Alguns, por exemplo, agem
assim por não terem sido devidamente educados quando crianças. Portanto, não
sabem educar, já que foram privados da devida educação. Aliás, não estão
habilitados nem para uma paternidade responsável, embora gerem uma penca de
filhos, deixando que “o mundo” os eduque. Não os educará. Para educarem,
portanto, esses seres que geraram (na maioria, acidentais e indesejados)
teriam, antes de tudo, que serem eles próprios educados por alguém. Óbvio que
jamais serão.
Outros
tantos pais não educam sua prole a pretexto de “falta de tempo”. Argumentam que
precisam trabalhar, para assegurar o sustento da casa. Pai e mãe, não raro,
trabalham, com a mudança no tradicional papel da mulher e só vêem os filhos no
final do dia, quando cansados da labuta e, portanto, indispostos a diálogos e
ás necessárias correções de rumo no comportamento das crianças. Delegam a
tarefa, que é sua, para avós, tios ou filhos mais velhos, isso quando o fazem.
Claro que, nesses casos, as coisas não funcionam como deveriam e poderiam
funcionar, em tais circunstâncias. Há quem coloque a meninada muito cedo em
creches e em escolinhas maternais, repassando a terceiros responsabilidades que
não se dispõem a assumir, não importa por quais motivos. Aliás, esses casos, se
ainda não são maioria, se aproximam muito dela.
Os
professores são, sim, agentes importantíssimos no processo de educação. Mas o
são, somente, numa segunda etapa, depois
das crianças aprenderem princípios básicos que os pais cultivaram (quando
cultivaram) e que têm que lhes transmitir. O mesmo vale para a participação de
outros membros da família, posto que em caráter meramente suplementar. Ou, em
outra etapa, de artistas, escritores,
psicólogos, filósofos e vai por aí afora. Afinal, reitero, o processo de
educação nunca tem fim. Só termina com a morte. O eminente psicólogo austríaco
(naturalizado norte-americano) Bruno Bettelheim, falecido em 1990, observou a
propósito: “Apesar de todas as experiências, a sociedade humana ainda não
conseguiu encontrar um caminho melhor para criar e educar os seus filhos, a não
ser dentro da família”. Duvido que algum dia encontre. Não existe!
Para
pautar minhas reflexões a propósito, pincei, em meus arquivos, opiniões de
vários intelectuais, de diversas áreas, cada qual com sua visão a respeito,
que, em vez de se contradizerem, se complementam. O filósofo norte-americano
Will Durant – que dedicou todo um extenso capítulo de seu clássico “Filosofia
da vida” ao tema – escreveu, em certo trecho, por exemplo: “Que precioso
presente é esta herança que a humanidade oferece ao homem (a educação) – este
Eldorado que nos escancara suas portas e nos convida a todos para entrar e à
vontade dispor dos seus tesouros”. E não tem razão? Claro que tem! Mas Durant
alertou, na sequência: “Nada do que aprendemos nos livros tem o menor valor
antes de confirmado pela vida; só depois dessa confirmação é que o ensinado
pelo livro pode afetar nossa conduta e influenciar nosso desejo. A vida, sim,
educa – e o amor mais que tudo”. Amor este que se espera dos pais.
Quando
me refiro à educação, não estou pensando, propriamente (não pelo menos num
primeiro instante) nos seus complementos naturais, ou seja, na instrução
escolar, que fundamentalmente tem caráter informativo, e no adestramento,
aquela série de conhecimentos específicos para preparar o educando para o
exercício de determinada profissão para a qual se sinta vocacionado. Penso,
isso sim, naquelas instruções básicas transmitidas pelos pais (pelo menos,
deveriam sê-lo), referentes a comportamento no lar e na sociedade e, sobretudo,
a valores, como cortesia, higiene, respeito, solidariedade etc.etc.etc.
Uma
pessoa pode não obter nenhum diploma universitário, ou nem mesmo do ensino
fundamental, e ainda assim ser educada e respeitada na comunidade pela sua
maneira de proceder, além de habilitada a educar os filhos que vier a gerar. O
filósofo norte-americano Alfred Armand Montapert – autor do livro “The supreme
philosophy of man: the Law of life” – observou, com pertinência: "Nem todos podem tirar um curso
superior. Mas todos podem ter respeito, alta escala de valores e as qualidades
de espírito que são a verdadeira riqueza de qualquer pessoa". Este é o
tipo de educação que mais está em falta na sociedade, inclusive por parte de
muita gente que ostenta um punhado de diplomas acadêmicos, que tem uma
infinidade de títulos, mas que é incapaz de agir com um mínimo de civilidade. E
sua transmissão é tarefa exclusiva, exclusivíssima e intransferível, dos pais. Não admite, em
circunstância alguma, substitutos.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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