Wednesday, August 13, 2014

Agentes da educação

Pedro J. Bondaczuk

A educação é um processo holístico. Tem princípio, mas seu fim somente ocorre com nossa morte. Envolve vários agentes, de acordo com as experiências e conhecimentos úteis e necessários que o educando deva assimilar. Nem todos têm esse privilégio. Aliás, muitos, muitíssimos, não recebem, mundo afora, sequer as instruções elementares, básicas, mínimas e comezinhas para um convívio sadio, equilibrado e sem conflitos em sociedade. Crescem ao Deus dará e não é de se estranhar que se tornem, eventualmente, marginais, quando não perigosos e ferozes bandidos, com ódio de tudo e de todos.

Os primeiros educadores que a lógica diz que devamos ter são, óbvio, os pais. Ocorre que nem todos cumprem a contento esse lógico papel. Pretextos não faltam para que deixem de cumprir essa sagrada obrigação. Alguns, por exemplo, agem assim por não terem sido devidamente educados quando crianças. Portanto, não sabem educar, já que foram privados da devida educação. Aliás, não estão habilitados nem para uma paternidade responsável, embora gerem uma penca de filhos, deixando que “o mundo” os eduque. Não os educará. Para educarem, portanto, esses seres que geraram (na maioria, acidentais e indesejados) teriam, antes de tudo, que serem eles próprios educados por alguém. Óbvio que jamais serão.

Outros tantos pais não educam sua prole a pretexto de “falta de tempo”. Argumentam que precisam trabalhar, para assegurar o sustento da casa. Pai e mãe, não raro, trabalham, com a mudança no tradicional papel da mulher e só vêem os filhos no final do dia, quando cansados da labuta e, portanto, indispostos a diálogos e ás necessárias correções de rumo no comportamento das crianças. Delegam a tarefa, que é sua, para avós, tios ou filhos mais velhos, isso quando o fazem. Claro que, nesses casos, as coisas não funcionam como deveriam e poderiam funcionar, em tais circunstâncias. Há quem coloque a meninada muito cedo em creches e em escolinhas maternais, repassando a terceiros responsabilidades que não se dispõem a assumir, não importa por quais motivos. Aliás, esses casos, se ainda não são maioria, se aproximam muito dela.

Os professores são, sim, agentes importantíssimos no processo de educação. Mas o são, somente,  numa segunda etapa, depois das crianças aprenderem princípios básicos que os pais cultivaram (quando cultivaram) e que têm que lhes transmitir. O mesmo vale para a participação de outros membros da família, posto que em caráter meramente suplementar. Ou, em outra etapa, de  artistas, escritores, psicólogos, filósofos e vai por aí afora. Afinal, reitero, o processo de educação nunca tem fim. Só termina com a morte. O eminente psicólogo austríaco (naturalizado norte-americano) Bruno Bettelheim, falecido em 1990, observou a propósito: “Apesar de todas as experiências, a sociedade humana ainda não conseguiu encontrar um caminho melhor para criar e educar os seus filhos, a não ser dentro da família”. Duvido que algum dia encontre. Não existe!  

Para pautar minhas reflexões a propósito, pincei, em meus arquivos, opiniões de vários intelectuais, de diversas áreas, cada qual com sua visão a respeito, que, em vez de se contradizerem, se complementam. O filósofo norte-americano Will Durant – que dedicou todo um extenso capítulo de seu clássico “Filosofia da vida” ao tema – escreveu, em certo trecho, por exemplo: “Que precioso presente é esta herança que a humanidade oferece ao homem (a educação) – este Eldorado que nos escancara suas portas e nos convida a todos para entrar e à vontade dispor dos seus tesouros”. E não tem razão? Claro que tem! Mas Durant alertou, na sequência: “Nada do que aprendemos nos livros tem o menor valor antes de confirmado pela vida; só depois dessa confirmação é que o ensinado pelo livro pode afetar nossa conduta e influenciar nosso desejo. A vida, sim, educa – e o amor mais que tudo”. Amor este que se espera dos pais.

Quando me refiro à educação, não estou pensando, propriamente (não pelo menos num primeiro instante) nos seus complementos naturais, ou seja, na instrução escolar, que fundamentalmente tem caráter informativo, e no adestramento, aquela série de conhecimentos específicos para preparar o educando para o exercício de determinada profissão para a qual se sinta vocacionado. Penso, isso sim, naquelas instruções básicas transmitidas pelos pais (pelo menos, deveriam sê-lo), referentes a comportamento no lar e na sociedade e, sobretudo, a valores, como cortesia, higiene, respeito, solidariedade etc.etc.etc.

Uma pessoa pode não obter nenhum diploma universitário, ou nem mesmo do ensino fundamental, e ainda assim ser educada e respeitada na comunidade pela sua maneira de proceder, além de habilitada a educar os filhos que vier a gerar. O filósofo norte-americano Alfred Armand Montapert – autor do livro “The supreme philosophy of man: the Law of life” – observou, com pertinência: "Nem todos podem tirar um curso superior. Mas todos podem ter respeito, alta escala de valores e as qualidades de espírito que são a verdadeira riqueza de qualquer pessoa". Este é o tipo de educação que mais está em falta na sociedade, inclusive por parte de muita gente que ostenta um punhado de diplomas acadêmicos, que tem uma infinidade de títulos, mas que é incapaz de agir com um mínimo de civilidade. E sua transmissão é tarefa exclusiva, exclusivíssima  e intransferível, dos pais. Não admite, em circunstância alguma, substitutos.


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