Nascem três bebês por segundo
O presidente do Fundo de População das Nações Unidas
(Nuap), Tatsuro Kunugi, esteve em Brasília, no início de agosto de 1990, para
debater com as autoridades brasileiras questões relativas à crescente devastação
da Amazônia. Alguém poderia perguntar: o que a ecologia tem a ver com questões
populacionais? Não parece, mas tem tudo.
O crescimento desordenado dos
habitantes de um país, que não possui recursos para absorver novos e crescentes
contingentes de pessoas, conduz à ocupação de todos os seus espaços, com
crescente desmatamento e progressiva degradação do solo.
De acordo com o Nuap, nascem,
atualmente, em média, três bebês por segundo no Planeta. Descontando todos os
indivíduos que morrem – por doenças, assassinatos, acidentes, guerras, fome ou
por velhice – a espaçonave Terra ganha, diariamente, cerca de 250 mil
passageiros.
O trágico de tudo isso é que 90%
desse explosivo crescimento populacional se verifica exatamente onde a
prudência mande que se limite a natalidade, ou seja, nas regiões mais pobres do
mundo, chamadas, até de uma forma um tanto irônica, de países em
desenvolvimento, quando na verdade o que se observa neles é uma crescente
miserabilidade.
A ONU informa que dos 5,3 bilhões
de habitantes terrestres, um bilhão, ou quase um quinto da humanidade, vive em
estado de absoluta pobreza. Essa situação é definida como sendo aquela em que o
indivíduo não dispõe de nenhuma espécie de renda ou tenha uma tão baixa que
seja incapaz de satisfazer as necessidades mínimas para uma sobrevivência
digna, como alimentação, moradia, vestuário, saúde, educação, cultura e lazer.
Os povos que convivem com esta
realidade findam por lançar mão de todos os recursos de que dispõem. Para
alimentar tantas bocas, que aumentam numa velocidade vertiginosa, mais terras
são necessárias para o plantio.
Agindo mais por desespero do que
mediante alguma espécie de planejamento, áreas verdes imensas são postas
abaixo, a maioria, como é o caso específico da Amazônia, detentora de solos
paupérrimos, para o plantio. Dessa maneira, o mundo vai ficando cada vez mais
devastado, poluído e emporcalhado, ameaçando toda a humanidade.
Exige-se ajuda dos países ricos,
como se eles fossem obrigados a fazer benemerência constante para aqueles que
nunca procuraram se ajudar. Basta que se examine a relação dos grandes
compradores de armas da atualidade para se concluir que os clientes por
excelência dos “mercadores da morte” são exatamente as nações mais atrasadas,
com estruturas sociais mais injustas e por conseqüência mais violentas do
chamado Terceiro Mundo.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 1 de
agosto de 1990).
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