Thursday, August 28, 2014

Para guerra há recursos


Pedro J. Bondaczuk


O corrente ano foi dedicado pelas Nações Unidas para a promoção de um esforço internacional objetivando acabar com o analfabetismo, que atinge a cerca de um quinto da humanidade, virtualmente um bilhão de pessoas, das quais 75% mulheres.

Falta apenas um mês para o término de 1990 e não se observa nenhuma movimentação, diversa da usual, nesse sentido. O que se percebe, isto sim, é uma agitação diplomática quase sem precedentes para arregimentar o maior apoio possível para uma nova guerra, não importa se motivada ou imotivada, justa ou injusta --- para todas, sempre foram arranjadas justificativas, com os mesmos resultados desastrosos --- colocando o mundo à beira de um desastre de grandes proporções, de caráter ambiental, econômico e de perda de vidas humanas.

Com isso, apenas está sendo dada seqüência a uma lógica cruel, da preponderância do mais forte (e não do mais útil ou produtivo) sobre o mais fraco ou insensato, que marcou os 13 mil anos de história que se tem registro.

Desse período de 13 milênios --- e para se constatar isso basta que se pesquise um bom compêndio da matéria --- 95% foram gastos no ato de matar. Ora em guerras de conquistas, ora para impor ou derrubar tiranos, ora para proteger agricultores contra ataques de bandos nômades, ora para expulsar invasores de territórios que não lhes pertenciam. Enfim, motivos nunca faltaram para guerrear.

O resultado de tudo isso sequer seria necessário apontar, por fazer parte da nossa realidade cotidiana. A humanidade dividiu-se em castas estabelecidas não através dos critérios do "ser", mas do "ter". Recursos sempre escasseiam quando se trata de educar pessoas, quando se destinam a evitar a fome de populações desassistidas ou atingidas por catástrofes climáticas, quando se tenta erradicar doenças simples e de baixo custo em seu combate.

Esse mesmo dinheiro sobra, todavia, nos eufemisticamente chamados "Orçamentos de Defesa". Curioso é que nenhum país admite que gasta fábulas em arsenais que se destinam a atacar outros povos. Para todos os efeitos, os equipamentos bélicos sempre são de caráter "defensivo".

Mas armamentos só têm uma, e única, serventia: matar. Não alfabetizam pessoas, não erradicam doenças, não extinguem a fome. Somente suprimem vidas, cada vez em maior quantidade, dada a crescente sofisticação armamentista, mostrando que o homem somente substituiu os machados de silex ou os arcos e flechas de madeira, dos tempos das cavernas, por outro instrumental. Mas o sentimento de fera que o movia na ocasião permanece exatamente o mesmo.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 30 de novembro de 1990).


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