Para guerra há recursos
Pedro J. Bondaczuk
O
corrente ano foi dedicado pelas Nações Unidas para a promoção de um esforço
internacional objetivando acabar com o analfabetismo, que atinge a cerca de um
quinto da humanidade, virtualmente um bilhão de pessoas, das quais 75%
mulheres.
Falta
apenas um mês para o término de 1990 e não se observa nenhuma movimentação,
diversa da usual, nesse sentido. O que se percebe, isto sim, é uma agitação
diplomática quase sem precedentes para arregimentar o maior apoio possível para
uma nova guerra, não importa se motivada ou imotivada, justa ou injusta ---
para todas, sempre foram arranjadas justificativas, com os mesmos resultados
desastrosos --- colocando o mundo à beira de um desastre de grandes proporções,
de caráter ambiental, econômico e de perda de vidas humanas.
Com
isso, apenas está sendo dada seqüência a uma lógica cruel, da preponderância do
mais forte (e não do mais útil ou produtivo) sobre o mais fraco ou insensato,
que marcou os 13 mil anos de história que se tem registro.
Desse
período de 13 milênios --- e para se constatar isso basta que se pesquise um
bom compêndio da matéria --- 95% foram gastos no ato de matar. Ora em guerras
de conquistas, ora para impor ou derrubar tiranos, ora para proteger agricultores
contra ataques de bandos nômades, ora para expulsar invasores de territórios
que não lhes pertenciam. Enfim, motivos nunca faltaram para guerrear.
O
resultado de tudo isso sequer seria necessário apontar, por fazer parte da
nossa realidade cotidiana. A humanidade dividiu-se em castas estabelecidas não
através dos critérios do "ser", mas do "ter". Recursos
sempre escasseiam quando se trata de educar pessoas, quando se destinam a
evitar a fome de populações desassistidas ou atingidas por catástrofes climáticas,
quando se tenta erradicar doenças simples e de baixo custo em seu combate.
Esse
mesmo dinheiro sobra, todavia, nos eufemisticamente chamados "Orçamentos
de Defesa". Curioso é que nenhum país admite que gasta fábulas em arsenais
que se destinam a atacar outros povos. Para todos os efeitos, os equipamentos
bélicos sempre são de caráter "defensivo".
Mas
armamentos só têm uma, e única, serventia: matar. Não alfabetizam pessoas, não
erradicam doenças, não extinguem a fome. Somente suprimem vidas, cada vez em
maior quantidade, dada a crescente sofisticação armamentista, mostrando que o
homem somente substituiu os machados de silex ou os arcos e flechas de madeira,
dos tempos das cavernas, por outro instrumental. Mas o sentimento de fera que o
movia na ocasião permanece exatamente o mesmo.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 30 de novembro de 1990).
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