Pedro J. Bondaczuk
A eleição do reformista radical Boris Yeltsin para a Presidência da Rússia, a maior, mais rica e mais populosa República da União Soviética, vem gerando uma série de especulações em alguns setores políticos, que vêem no fato o princípio do fim da liderança de Mikhail Gorbachev.
Todavia, os comentaristas de temas internacionais mais experientes sabem que a coisa não é bem assim. O dissidente comunista, muito dado a lances teatrais e a declarações bombásticas, verá, a partir de agora, que uma coisa é criticar as ações de administradores e outra é fazer melhor do que os criticados.
Yeltsin fala em implantar na Rússia uma reforma mais radical do que aquela que Gorbachev vem propondo para toda a União Soviética. Apenas não revela o milagre que vai adotar para fazer com que a população aceite passivamente a enorme carga de sacrifícios com que terá de arcar.
Enquanto candidato (inicialmente ao Parlamento Nacional, em março de 1989, e posteriormente ao da sua República, meses atrás, quando representou, justamente, Sverdlovsk, a cidade natal do presidente soviético), ele bateu recordes de popularidade no país. E isto já era esperado.
Afinal, ao ser expurgado, em 1988, da direção do PC de Moscou, posou de vítima perante a opinião pública. Conquistou as simpatias dos descontentes, a maioria. Polarizou, dessa forma, o descontentamento popular, que agora flui como uma irresistível torrente, após ter sido represado por sete décadas.
Falar mal do governo, em qualquer país do mundo, rende, em geral, altos dividendos em eleições. Na União Soviética, isto não poderia ser diferente. Ocorre que, quanto maior for a quantidade de votos conquistados por um político, mais elevada será a responsabilidade dele no exercício da função para a qual vier a ser escolhido.
Doravante, caberá, pois, a Yeltsin não mais o papel de crítico da administração, mas de executor de medidas que solucionem os problemas russos. A primeira providência impopular que tomar, descobrirá o quanto o povo costuma ser volúvel.
As mesmas pessoas que endeusam um candidato quando se impressionam com suas promessas, são as que lhe atiram pedras depois de eleito, quando, por alguma razão, ele não as pode cumprir. Não vai demorar muito, portanto, para o reformista radical perceber isso. Para entender que Gorbachev não é o adversário a ser atacado, mas sim os integrantes da linha dura do Partido Comunista, que defendem a manutenção da perdulária, corrupta, ineficiente e pesada máquina burocrática, que emperra qualquer administração.
Quando isto acontecer, Yeltsin vai parar de se empolgar com as manchetes na imprensa, moderar suas atuais declarações bufas e trabalhar com seriedade por aquilo que realmente importa: a reconstrução econômica do país.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 1º de junho de 1990).
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