Pedro J. Bondaczuk
O plano de paz para a América Central, elaborado pelo presidente costarriquenho, Oscar Arias Sanchez, e aprovado pelos cinco mandatários centro-americanos, em 7 de agosto de 1987, na Guatemala, tem como su pilar o cessar-fogo nas guerras civis de El Salvador e da Nicarágua.
Em nenhum desses dois países, no entanto, a trégua foi obtida e em ambos os casos o obstáculo tem sido comum: a interferência norte-americana no conflito, colocando, em primeiríssimo lugar, seu próprio interesse, em detrimento daqueles da região.
Só que Washington assumiu posições diferentes em relação ao apoio que empresta em cada um desses conflitos. No caso salvadorenho, a Casa Branca respalda o títere José Napoleón Duarte, contestado pela esquerda, pela direita e pelo centro e que se equilibra no poder apenas escorado pelos dólares de “Tio Sam”. E estes costumam ser generosos quando se trata de ajuda militar.
Já na Nicarágua a situação se inverte. O mesmo governo que deblatera em todos os organismos internacionais contra grupos terroristas, financia, treina e até expõe a própria “cabeça” (como no escândalo “Irã-contras”) por uma guerrilha sanguinária e incompetente, à qual denomina de “combatentes da liberdade”.
O interessante de tudo é que estes que se dizem paladinos da democracia, nada fizeram para derrubar o ditador Anastásio Somoza, que havia transformado o país num feudo particular. É que, à sombra do poder, se regalavam com as sobras da mesa dos poderosos do dia. Não houvesse, portanto, a interferência indevida norte-americana na América Central, e provavelmente a paz estaria restaurada na região.
É como disse um líder rebelde, que abandonou recentemente a luta armada: “Ser contra é um grande negócio”. E deve ser mesmo, tamanho foi o volume de dinheiro jogado nas mãos da guerrilha, para que atacasse aldeias, queimasse plantações e matasse pessoas, as mesmas que perante a opinião pública eles garantem que “querem libertar”.
Apesar da Câmara de Deputados norte-americana haver rejeitado uma ajuda militar aos anti-sandinistas, os canais de financiamento, através de entidades particulares interessadas na manutenção do “status quo” centro-americano, permanecem abertos.
Isto torna os rebeldes irredutíveis na mesa de negociações, à qual não estão acostumados. Afinal, no tempo de Somoza não havia tal possibilidade de se negociar. Só que eles podem estar cometendo um grave erro estratégico. Ninguém garante que o próximo presidente norte-americano tenha a mesma “fixação” que Reagan possui por essa miserável área.
Se os “contras” mantiverem a atual intransigência, poderão estar perdendo a chance de reintegração na sociedade do seu país e correm o risco de permanecer sendo vistos pelo resto do mundo como apátridas, ávidos por dinheiro.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 19 de fevereiro de 1988).
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