Pedro J. Bondaczuk
A América Latina, nesta primeira reunião de cúpula de seus integrantes de maior expressão, que se realiza em Acapulco, no México (onde falta apenas o Chile, dos países mais relevantes da região) só tem fatos negativos e dados depressivos para apresentar.
A tônica dos discursos, pronunciados pelos oito presidentes presentes ao encontro, como não poderia deixar de ser, foi a miséria que nos atinge; a dívida social que os governos têm com a maioria esmagadora da população, que vive abaixo dos limites da pobreza e que, inclusive, já chegou às raias da indigência. E, principalmente, - um aspecto muito bem lembrado pelo presidente José Sarney, em seu brilhante pronunciamento – “os messianismos eternamente postergados”.
Essa expressão define, com meridiana clareza, o maior dos vícios latino-americanos: o caudilhismo. A tendência, até doentia, para os golpes de Estado e as chamadas “revoluções salvadoras” (ou messiânicas), que nada salvam e apenas adiam soluções, agravando problemas que ficam, de ano para ano, mais complicados. Ninguém fará por nós a tarefa que precisa ser feita.
A instabilidade unstitucional exacerbada nos acostumou a uma atitude paternalista que se tornou viciosa. Deblateramos contra os governos quando eles interferem nas atividades tipicamente da iniciativa privada, mas a todo o instante esperamos soluções miraculosas, mágicas, tiradas das cartolas deles, para questões que cabem somente a nós resolvermos. Com isso, entregamos o destino de nossas vidas em mãos alheias.
Outro vício irresistível de todos nós, latino-americanos, é considerarmos as controvérsias geradas pela prática democrática, nas raras vezes em que temos tal oportunidade, como sendo baderna, anarquia e violência. E, sem percebermos, estimulamos a morte dessa flor tão frágil, que tem que ser regada com tolerância todos os dias e ser cultivada incansavelmente, a cada instante, para que não venha a sucumbir, que é a democracia.
Parecemos amar o caudilhismo, masoquisticamente, embora muitas vezes venhamos a público para falar contra ele. Com isso, estamos regredindo em todos os sentidos. Nos indicadores sociais, por exemplo, a América Latina já está em vias de ser ultrapassada pela Ásia, superpovoada e caótica. E se não cuidarmos de mudar o nosso comportamento, seremos deixados para trás até pela África, cujos países (a maioria inviáveis economicamente) têm apenas 27 anos de independência ou menos.
O momento para a grande virada latino-americana é agora, quando tudo parece perdido e chegamos ao fundo do poço. Ou empreendemos uma reação corajosa, honesta e sincera, ou nos afogaremos num manancial de mediocridade e de indigência.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 28 de novembro de 1987).
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