Pedro J. Bondaczuk
A informação é um bem essencial a qualquer pessoa, seja qual for sua atividade ou profissão. Dependendo de sua natureza, tem relevância até para quem não atue em área alguma, que não faça nada, mas que (obviamente) esteja vivo. Trata-se da fonte de conhecimento, do acervo de descobertas e comprovações, além de idéias e experiências, de gerações e mais gerações. Creio que não restem dúvidas a esse propósito. Todavia, as informações só têm utilidade quando “conhecidas”. Ou seja, quando são comunicadas, com clareza e com precisão, aos potenciais consumidores.
Machado de Assis observou, com argúcia e clarividência, no conto "O segredo do bonzo": "Se puserdes as mais sublimes virtudes e os mais profundos conhecimentos em um sujeito solitário, remoto em todo contato com outros homens, é como se eles não existissem. Os frutos de uma laranjeira, se ninguém as gostar, valem tanto como as urzes e as plantas bravias, e, se ninguém as vir, não valem nada; ou, por outras palavras mais enérgicas, não há espetáculo sem espectador". E não é verdade?
Reitero: a informação apenas tem valor e ganha utilidade quando conhecida por seus potenciais usuários. E para que isso aconteça, tem que ser comunicada. De dois séculos para cá, não faltam instrumentos para que se faça essa comunicação. Talvez faltem, isso sim, “comunicadores”, quer em quantidade, quer em qualidade. Ou seja, provavelmente faltam pessoas que tenham noções, mesmo que elementares, do que irão comunicar e que “decodifiquem” essas informações. Ou seja, que as divulguem com clareza, esclarecendo os tecnicismos via de regra utilizados pelos especialistas de cada área e as apresentem em linguagem clara e inteligível para a maioria, já que julgo improvável, se não impossível, que as esclareça para “todas” as pessoas.
Uma das principais dificuldades de comunicação começou a ser superada com a invenção do telefone, por Alexander Graham Bell. O escritor britânico Arthur C. Clarke, no artigo “O futuro no mundo das comunicações” – publicado, no Brasil, no “Suplemento Literário” do jornal “O Estado de São Paulo”, em 3 de setembro de 1978 – que serve de base para esta série de reflexões, assim se referiu a esse fato: "Durante toda a história da humanidade, até o momento, há cem anos, em que o telefone foi inventado, era impossível para duas pessoas a mais de alguns metros de distância entre si, interagirem em tempo real. A abolição dessa barreira aparentemente fundamental foi um dos supremos triunfos da tecnologia".
O advento de outras “ferramentas” de comunicação – como, primeiro, a invenção da imprensa, por parte de Johann Guttemberg, seguida do rádio, da televisão, do computador pessoal, da internet, do celular etc. – veio facilitar ainda mais a tarefa dos difusores da informação. Se houver problemas, portanto (e, convenhamos, há, e muitos) nesse sentido, estes não se devem aos meios de difusão, mas aos que os utilizam e nem sempre de maneira adequada. Requer-se comunicadores de vasta cultura geral e, sobretudo, ecléticos, que saibam um pouco de tudo, mesmo que não saibam tudo de nada. Essa é, pois, competência característica dos jornalistas. E, suplementarmente, dos escritores, por que não.
Lembro-me de uma observação que ouvi, há cerca de 50 anos, de um dos meus professores, sobre a profissão que então eu pretendia abraçar (e que, de fato, abracei). O mestre disse-me, em tom de brincadeira, algo que é sumamente sério e verdadeiro: “O jornalista é especialista em generalidades. Sabe um pouco de tudo, embora não saiba tudo de nada”. Ou seja, tem noções elementares de praticamente todas as áreas do conhecimento, como ciências, artes, filosofia, política, economia, história, geografia, filosofia, antropologia e vai por aí afora. Não é, todavia, especializado em nenhuma dessas disciplinas. Nem precisa ser. Basta cultivar fontes confiáveis para, quando precisar de informação mais completa e abalizada, entrevistar experts dessas áreas. Sua única especialidade (e dessa não pode abrir mão) é a arte de “comunicar”.
O conhecimento, como enfatizei, é fundamental em qualquer atividade, não importa sua natureza. É ele que nos aguça a sensibilidade e nos predispõe à criatividade. Mas tem que ser o autêntico, o "bebido em fonte pura". Paul Cézanne (1839-1906), pintor francês, considerado ao lado de Paul Gauguin e Vincent Van Gogh o maior dos pós-impressionistas, quando indagado porque tinha tanta vontade de aprender, exclamou: "Sim, eu quero saber! Saber para melhor sentir, sentir para melhor saber!". Mas Hipócrates, tido como o "pai da Medicina" na Grécia, advertiu: "Há, verdadeiramente, duas coisas diferentes: saber e crer que se sabe. A ciência consiste em saber; em crer que se sabe reside a ignorância". O inquisidor criado por Dostoievsky no romance “Os irmãos Karamazov” enquadra-se, certamente, no segundo caso. Apenas “cria que sabia”, embora pouco ou nada soubesse.
Informações existem, hoje, em quantidade e variedade tão grandes que são até impossíveis de se quantificar. São tantas, que não há quem consiga absorver ínfimo percentual delas. É imenso o conhecimento ao dispor, hoje, da humanidade. Não é exagerada a afirmação de que são geradas e colhidas mais informações, atualmente, em um único dia do que em toda a história do Homo Sapiens. O desafio é o de armazená-las, torná-las acessíveis, processá-las, decodificá-las e divulgá-las, com clareza e precisão, ao mundo, a quem precise ou queira utilizá-las.
Robert M. Hayes, professor emérito da Universidade de Harvard, observou a esse propósito: "Os conhecimentos têm sido registrados através dos tempos e há muito que se dispõem de métodos e técnicas para o armazenamento e recuperação. Entretanto, nos últimos anos, algumas tarefas de recuperação de informações tornaram-se superiores às possibilidades das antigas técnicas. Os instrumentos para novas técnicas parecem estar nos modernos equipamentos de processamento de dados. Os computadores, os processos fotográficos e a gravação magnética aperfeiçoados nos últimos anos, fornecem os meios para a solução dos problemas de recuperação de informações: meios comparáveis aos propiciados aos cientistas para resolver seus problemas de cálculos e ao homem de negócios para solucionar questões do processamento dos dados".
Neil Postman, um dos mais importantes teóricos da comunicação (falecido em 2002), observou, em um dos tantos textos que nos legou a propósito: "Somos impelidos a encher nossas vidas com a busca do 'acesso' à informação. Não perguntamos com que objetivo porque não estamos mais acostumados a perguntar, posto que o problema não tem precedentes". E ele foi mais do que credenciado para abordar a questão da necessidade e da ânsia pela busca de informações, mesmo que, desacostumados a questionar, sequer saibamos porque ou para quê. Professor da Universidade de Nova York, escreveu mais de duas dezenas de livros, traduzidos e publicados em mais de 30 países.
Neil Postman, em outro dos seus tantos textos, alertou para os riscos das pessoas serem privadas do acesso a esse imenso acervo informativo: "Quando o suprimento de informação já não é controlável, ocorre um colapso geral da tranqüilidade psíquica e do propósito social. Sem defesas, o povo não tem como encontrar sentido em suas experiências, perde sua capacidade de memória e tem dificuldades para imaginar futuros razoáveis". Queremos isso? Claro que não!
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