Tuesday, October 02, 2012

Caixa de Pandora

Pedro J. Bondaczuk

O presidente Fernando Henrique Cardoso comparou, na semana passada, o Brasil com a "Caixa de Pandora". Foi quando tomou conhecimento de estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, dando conta de uma ligeira queda na taxa de desemprego no País, em pleno "pico" da crise. O recipiente, citado por FHC, era, conforme a mitologia grega, aquele que guardava todos os males da Terra, tendo bem no seu fundo a esperança. A comparação, posto que cruel, é bastante apropriada.

O Brasil tem, por exemplo, a mais baixa qualidade de ensino das Américas e uma das piores do mundo. Por isso, sua mão de obra dificilmente consegue se adequar à alta tecnologia. É, sabidamente, a sociedade mais injusta do Planeta quanto à distribuição de renda e conta com 32 milhões de pessoas abaixo da linha da miséria. Possui, ainda, em fazendas perdidas por entre os seus ínvios sertões, trabalho escravo. Conta com farta exploração de mão de obra infantil e o "turismo sexual" continua intenso, envolvendo principalmente meninas e adolescentes. Querem mais? A saúde é uma lástima, remédios são fraudados, a violência campeia, traficantes de drogas se apossam cada vez mais da nossa juventude e raramente se vence na vida por méritos pessoais, sendo indispensável o "apadrinhamento" de políticos para se conseguir um reles emprego. A propósito, a queda da taxa de desemprego, mínima, é um fenômeno sazonal, ligado às festas de fim de ano.

Mas no fundo, no fundinho, escondida bem lá embaixo dessa Caixa de Pandora, está a maior característica do brasileiro (que foi apontada, em título de uma peça teatral célebre, como sua principal "profissão"): a esperança. Até quando esse povo generoso e alegre terá que se limitar a "esperar" que as elites e, principalmente os políticos, cumpram o seu papel? Até quando o País ficará a mercê de experiências econômicas ditadas do Exterior, alheias à nossa realidade? Até quando seremos este verdadeiro "acampamento" de miseráveis, sonhando em se transformar em nação? Até quando o Brasil será meramente o "país de um futuro" que nunca chega? Falar em "modernidade", nestas circunstâncias, chega a ser uma perversidade...

 
(Artigo divulgado pela revista eletrônica "Barão Virtual", na Internet, na segunda semana de março de 1999)

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: