Pedro J. Bondaczuk
A China está com tudo e não está prosa. De uns anos para cá, vem tendo miraculoso desenvolvimento econômico, com assombrosas taxas de crescimento do seu Produto Interno Bruto, ao redor da média de 10% ao ano e está prestes a arrebatar dos Estados Unidos a condição, há não muito incontestável, do país mais rico do mundo. No terreno esportivo, seu crescimento é igualmente notável, desbancando a ainda única superpotência (também nos esportes), ou seja, “Tio Sam”, no quadro de medalhas, em 2008, na Olimpíada que promoveu e ficando em segundo lugar em 2012, em Londres. Agora, acaba de obter novo feito. Um dos seus escritores mais populares, Mo Yan, de 57 anos de idade, conquistou o mais cobiçado prêmio literário mundial, o Nobel de Literatura, confirmando o favoritismo que tinha nas bolsas de apostas.
Confesso que não conheço nada a respeito desse agora astro do mundo das letras, a não ser uma ou outra referência biográfica divulgada pelas agências de notícias internacionais. Procurei internet afora algum texto seu, para ter uma idéia, por mais escassa que fosse, de seu estilo, sua temática e suas características, em vão. Não localizei rigorosamente nada do que escreveu. Dessa forma, sou forçado a acreditar no que os que o conhecem melhor dizem a seu respeito. Claro que por esse meio não posso formar qualquer juízo pessoal sobre Mo Yan (que na verdade é um pseudônimo que, no idioma mandarim, significa “não falar”, já que seu nome verdadeiro é Guan Moye). Essa opinião abalizada (e fundamentada) pode sequer ser importante para os outros, mas é importantíssima para mim.
Certamente agora, com a conquista do Nobel (e quando digo “agora” estou pensando em cinco ou seis meses), teremos um ou vários de seus livros traduzidos e lançados no Brasil. Quando isso acontecer (e não tenho dúvidas que acontecerá), poderei me inteirar como esse agora “astro mundial das letras” escreve, o que pensa e quais os ensinamentos que poderei extrair dos seus textos.
Confesso que fiquei frustrado com a atribuição do Nobel de Literatura a Mo Yan. Não que questione seus méritos, pois, reitero, não conheço nada do que escreveu e não tenho motivos para duvidar (e nem para acreditar, frise-se) na avaliação dos especialistas em literatura que até já previam que ele seria o ganhador. Não se trata disso. A frustração deve-se ao fato de nesta edição haver um postulante brasileiro, o pernambucano Ariano Suassuna na parada. Não era, é verdade, favorito, longe disso. Mas eu nutria vaga (remotíssima) esperança de que ocorreria o que em linguagem futebolística se classifica de “zebra”, que é quando um time tido e havido como mais fraco derrota o grande favorito, contrariando todos os prognósticos. Mas...Ainda não foi desta vez que o Nobel de Literatura veio para o Brasil. Será que não virá nunca? Como saber?
Vendo a idade de Mo Yan, 57 anos (nasceu em 17 de fevereiro de 1955), fica-me uma sensação um tanto esquisita e desagradável, misto de inveja e de impressão de tempo perdido. Explico: quando o escritor nasceu, eu mal havia completado doze anos de idade. Todavia, já rabiscava meus canhestros textos, poemas de pés quebrados, croniquetas ingênuas e mal alinhavadas e até embrionários contos. Sonhava, e sonhava muito, em um dia ser escritor. Conscientizo-me, porém, à revelia, que estou envelhecendo e que, comigo, os grandiosos sonhos que me embalaram a infância envelhecem também. Mas... esta não é a ocasião propícia para este tipo de nostalgia e muito menos este é o espaço adequado para esta espécie de autoflagelação.
Os cinéfilos, provavelmente, já conhecem há muito Mo Yan (o tal sujeito que se auto-intitula de “Não Falar”, mas que em seu suposto mutismo opta por se comunicar escrevendo), pois alguns dos seus livros já foram adaptados para o cinema e fizeram relativo sucesso em termos de bilheteria (não seria pelo exotismo?). A mais conhecida das suas obras é “Red Sorghum”, publicada em 1987, que serviu de roteiro para a produção cinematográfica do mesmo nome (não sei se foi exibida no Brasil, presumo que não), dirigida por Zhang Yimou e estrelada por Gong Li e Jian Wen. O filme deve ser muito bom, já que conquistou o Urso de Ouro do Festival Internacional de Berlim, em 1988.
Os experts em literatura que conhecem as obras de Mo Yan asseguram que elas lembram muito o estilo de Gabriel Garcia Marquez e seu realismo mágico, notadamente o de “Cem anos de solidão”. Prometo, tão logo tenha acesso aos seus livros, conferir isso e partilhar o que achei com vocês. Na matéria da Agência Brasil sobre o Nobel de Literatura, se diz que, “nos seus textos, o chinês se dedica a detalhar imagens, cores e micro-histórias. Ele costuma falar de sua região, o Nordeste da China, e do interior do país”. Mais adiante informa que Mo Yan utiliza, para escrever seus livros, não um computador, mas apenas pincel e papel.
O ora consagrado escritor certamente tem seus méritos, até pela concorrência que enfrenta. Em um país com o nível de desenvolvimento econômico, cultural e artístico, como a China, com população girando ao redor do 1,4 bilhão de habitantes (de cada sete pessoas no Planeta, pelo menos uma, com certeza, é chinesa), provavelmente há milhões de escritores. É muito diferente, por exemplo, de exercer essa atividade, digamos, em San Marino, habitada por no máximo 30 mil indivíduos (menos do que o Cambuí, um dos bairros nobres de Campinas). Afinal, Mo Yan conseguiu a façanha de colocar a China, caracterizada pela grandiosidade em todos os aspectos, no “mapa” da Literatura mundial contemporânea. E esse é, pois, um feito e tanto, convenhamos. Honra ao mérito.
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