Friday, October 19, 2012

A vertiginosa descolonização da África

* Pedro J. Bondaczuk

Em um curto período de apenas 12 anos, ou seja, de 1956 a 1968, nada mais, nada menos do que trinta e sete países emergiram no continente africano, na mais rápida metamorfose política ocorrida no mundo em todos os tempos. Numa matéria que publicamos na "Folha de Barão", em 11 de fevereiro de 1978, sob o título "Da colonização à neocolonização da África", frisamos que "a presença européia no continente africano sempre foi marcada por erros, cobiça e predação dos seus recursos naturais.

Durante séculos, os colonizadores extraíram as suas riquezas, escravizaram e traficaram com a sua população e deixaram atrás de si um rastro de ódio, de desconfianças, de injustiças e de crimes. A conquista se fez de forma errada, a colonização foi um desastre e a descolonização foi irresponsável, porquanto poucos países estavam preparados para a independência.

Ao contrário do que buscam provar os responsáveis por esse rápido retrocesso do colonialismo europeu na África, isso não se deu somente como resultado de pressões políticas, mas resultou de uma grande sucessão de crimes sócio-econômicos que, a partir de 1950, afetaram (e ainda afetam) todo o "Continente da Esperança".

Na maior parte dos países recém-emancipados, ainda é completa a dominação política e econômica européia, mercê de uma hábil manobra das ex-metrópoles, que foi denominada pelo falecido ex-primeiro-ministro de Gana, Kwame Nkrumah, de "neocolonialismo".

Embora houvesse produzido líderes do porte de Kwame Nkrumah, Gamal Abdel Nasser, Patrice Lumumba, Ahmed Bem Bela, Habib Bourguiba, Leopold Sedar Senghor, Houphouet-Boigny, Jomo Kenyatta, Sekou Touré e alguns poucos outros, a grande verdade é que o continente sempre teve carência de lideranças conscientes e autênticas. Ainda hoje, poucos pontificam com condições para chefiar Estados tão pobres e desvalidos e conduzir essas sociedades nacionais a um pleno desenvolvimento social e econômico.

Durante anos, as lideranças foram desestimuladas, porquanto os colonizadores não tinham a intenção sincera de conceder a liberdade aos países africanos.

Em quase todos os jovens países do continente, os colonizadores haviam implantado, à época da sua dominação, o sistema de "plantation", que se baseava no cultivo de extensas áreas com lavouras voltadas para a exportação, confinando as populações nativas a áreas cada vez menores e menos férteis, desagregando a economia de subsistência, que antes da chegada dos europeus garantia a alimentação de muitos milhões de africanos.

As lavouras de subsistência foram substituídas pelo cultivo de vegetais com alto grau de comercialização nos mercados dos países desenvolvidos, como o algodão, que passou a ser extensamente cultivado em Angola e Moçambique, o cacau, em Gana, o café, em Angola e as videiras, no litoral da Argélia.

As conseqüências dessa política predatória se fazem sentir ainda hoje, reduzindo os jovens países africanos à mais completa dependência, tornando-os presas fáceis das superpotências, que os usam no seu jogo maquiavélico em busca do poder absoluto no mundo.

 
(Artigo publicado na página 3 da "Folha de Barão", em 3 de novembro de 1979).

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