Tuesday, October 09, 2012

Príncipe que não perde a majestade

Pedro J. Bondaczuk

A apresentação do escritor Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac faz-se desnecessária. Trata-se de um do clássico. Mesmo a pessoa mais leiga em Literatura, notadamente a brasileira, mas que seja um tantinho só bem-informada, conhece-o de alguma forma. Ou já leu algum dos seus tantos poemas, ou ouviu falar de seu nome, ou mesmo conhece rua, praça ou avenida de alguma cidade com essa denominação. Além do que, ele não marcou seu nome na História do Brasil “apenas” como escritor (o que, convenhamos, não é pouca coisa). Atuou, também, em jornais (pode ser considerado, portanto, jornalista) e teve considerável atividade política.

A nós, claro, interessam suas ações no campo das letras. Há pessoas que apreciam sua poesia sem nenhuma restrição e que o colocam, até, em um patamar superior entre os nossos tantos (e excelentes) poetas. Embora eu deteste a utilização dessa metáfora indiscriminadamente, concordo, todavia, com os que o consideram “ícone” das letras tupiniquins. Há, também, os que não o apreciam, claro, em geral, por terem lido, somente, um ou dois de seus poemas que, por mera coincidência, não gostaram. Essa, todavia, é uma forma para lá de equivocada e, sobretudo, injusta, de formar juízo sobre alguém ou sobre a sua obra. Como também não é correto o outro extremo, ou seja, o de considerá-lo “gênio”, baseado, apenas, em um ou dois de seus textos que eventualmente conheçam.

Não costumo julgar – e discordo dos que julgam – escritores e suas produções literárias, e muito menos por escrito e em público. Por mais capacitado que alguém seja, com pleno conhecimento de causa, não vejo ninguém habilitado a assumir esse papel de árbitro do bom gosto e da correção e em atividade alguma. Respeito tanto a opinião de quem goste quanto a de quem deteste homens de letra “x”, ou “y” ou “z”, mas com uma condição. Desde que não a manifestem publicamente e não tentem influenciar ninguém. Gosto não de discute e ainda mais em um terreno tão subjetivo, como o da Literatura.

Olavo Bilac, entre tantos e tantos feitos (nas letras e fora delas) foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. É o autor da letra do Hino à Bandeira, o que, por si só, já seria suficiente para torná-lo lembrado enquanto existir Brasil (espero que seja “eternamente”), com seus símbolos e instituições. Foi denodado cultor, autêntico guardião, do idioma pátrio, que classificou, num célebre e grandioso poema, de “última flor do Lácio, inculta e bela”. Uma das suas afirmações mais conhecidas, pelo tanto de verdade que contém (com a qual concordo entusiasticamente), é esta: “A pátria não é a raça, não é o meio, não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos: é o idioma criado ou herdado pelo povo”. E não é?

Olavo Bilac foi popularíssimo em fins do século XIX e início do século XX, até a sua morte, ocorrida em 28 de dezembro de 1918, doze dias depois de completar 53 anos de idade. Viveu, como se observa, relativamente pouco para os padrões de longevidade atuais, mas foi uma vida exemplar e ativa, comprovada pela obra que nos legou. Foi dos escritores de “primeiro escalão” de seu tempo que deu a maior atenção à literatura infantil, que considerava essencial para formar nas pessoas o hábito da leitura desde tenra idade e, portanto, como preciosa ferramenta pedagógica.

Selecionei, de Olavo Bilac, para partilhar com vocês, exatamente um poema alusivo à Primavera destinado, especificamente, às crianças, que consta do seu livro “Poesias infantis” (Livraria Francisco Alves, 1949, Rio de Janeiro):

A Primavera

“Coro das quatro estações:

Cantemos! Fora a tristeza !
Saudemos a luz do dia:
Saudemos a Natureza !
Já nos voltou a alegria !

A Primavera:

Eu sou a Primavera !
Está limpa a atmosfera,
E o sol brilha sem véu !
Todos os passarinhos
Já saem dos seus ninhos,
Voando pelo céu.
Há risos na cascata,
Nos lagos e na mata,
Na serra e no vergel:
Andam os beija-flores
Pousando sobre as flores,
Sugando-lhes o mel.
Dou vida aos verdes ramos,
Dou voz aos gaturamos
E paz aos corações;
Cubro as paredes de hera;
Eu sou a Primavera,
A flor das estações !

Coro das quatro estações:

Cantemos! Fora a tristeza !
Saudemos a luz do dia:
Saudemos a Natureza !
Já nos voltou a alegria !”

Pelo seu comprometimento com a literatura de boa qualidade, por sua atividade política caracterizada pelo nacionalismo e, principalmente, pela beleza e majestade da sua poesia, Olavo Bilac foi eleito, em 1907, numa eleição popular promovida pela revista “Fon-Fon”, “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, título a que faz jus ainda, 96 anos após sua morte. Através da sua obra, não perdeu, e jamais perderá, a majestade dos mitos da pátria.

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