Pedro J. Bondaczuk
As informações, até para efeito didático, podem ser classificadas em duas grandes categorias: genéricas e específicas. Estão no primeiro caso as notícias do dia a dia, divulgadas pelos meios de comunicação (jornais, rádio, televisão, internet etc.) dando conta dos acontecimentos locais, nacionais e internacionais, como crimes, desastres etc. etc. etc., sem distinção de área. Já as segundas, embora possam ser (e quase sempre são) divulgadas pelos mesmos veículos, restringem-se a determinados setores de atividades, com as respectivas subdivisões, como política, artes, esportes, ciências e vai por aí afora. Por serem mais detalhadas, seus meios preferenciais de difusão são revistas, livros etc. Mas as duas categorias são, no frigir dos ovos, informações.
Os jornais que divulgam as que são classificadas como específicas, as separam por editorias, até para a facilidade dos leitores. Buscam, dessa forma, satisfazer a todos os gostos e interesses. Não é inteligente e nem prático misturar “alhos com bugalhos”. O mesmo ocorre com o rádio e a televisão, que dedicam programas próprios para esportes, artes, ciências etc., ou mediante notícias curtas, novas, de cada dia, alusivas a esses temas, ou por entrevistas com especialistas, ou por documentários a respeito, entre outras tantas maneiras. À exceção dos jornais e revistas, que são um fenômeno um pouco mais antigo, os demais meios de comunicação são todos bastante recentes, do século XX, sendo que a internet tem algumas poucas décadas somente de criação e já se tornou veículo de tanta relevância em termos de informação (quer para veiculá-la, quer para recebê-la e quer para “consumi-la”).
Essa facilidade de se saber, praticamente em tempo real, tudo o que ocorre no mundo, em quase todas as áreas de atividade e todos os ramos do conhecimento, alterou, sem dúvida (suponho que para melhor, embora não possa garantir) o comportamento das pessoas face à vida e aos semelhantes. Derrubou mitos, impôs gostos, esclareceu dúvidas, nos trouxe à baila culturas diversas da nossa e promoveu (e vem, promovendo) relativa (e para mim indesejável) padronização cultural. Quando esta ocorre em caráter suplementar, é bem vinda. Todavia, se para “padronizar” for necessário sepultar culturas tradicionais, acho o processo danoso.
Um aspecto merece ser enfatizado, por favorecer, de certa forma, a difusão de informações. Trata-se do incrível avanço ocorrido, mormente no século XX, nos meios de transporte de pessoas e de mercadorias. Isso favoreceu não apenas a circulação de jornais, revistas, livros entre regiões distantes, mas até entre países. E sem esses veículos rápidos, eficientes e razoavelmente seguros que há atualmente, ficariam inviabilizados competições esportivas, show musicais, intercâmbios culturais, etc. e as transações comerciais não seriam nem sombra do que são. E, sem essas manifestações esportivas, artísticas e culturais, escasseariam informações a propósito, até por não se realizarem eventos dessa natureza. Mesmo que realizados (o que é duvidoso), notícias sobre eles levariam semanas, se não meses, paras chegar até nós.
Lembrem-se, por exemplo, que a eletricidade, bem que hoje é imprescindível à vida moderna, é muito recente. Até boa parte do século XIX, as pessoas não dispunham dela para iluminar suas casas e as ruas das cidades em que viviam. Claro que, por essa razão, não existiam as tantas máquinas que hoje são coisas super triviais, como geladeiras, lavadoras, torradeiras, microondas etc. etc. etc. Rádio, então, nem pensar! E muito menos televisão. Não havia como, já que não existiam tanto receptores quanto, e principalmente, transmissores para viabilizar esses dois veículos de difusão. O computador ainda não havia sido inventado e muito menos o “pessoal”, o tal do PC. Portanto, não havia internet, fenômeno, aliás, recentíssimo.
Não existissem os veículos automotores – os ônibus, caminhões, vans e principalmente automóveis –, não houvesse aviões, que fazem em horas trajetos antes percorridos em meses, não teríamos eventos esportivos como a Copa da UEFA, como a Copa do Mundo ou como as Olimpíadas. Nem mesmo campeonatos regionais de futebol (ou de basquete, vôlei, beisebol e futebol americano como queiram), seriam viáveis. Já imaginaram o esforço que representaria transportar um time todo de uma cidade a outra, mesmo que a distância fosse qualquer coisa de irrisórios 100 quilômetros, em diligências?!!! Fico imaginando como seria, caso alguém tentasse fazê-lo.
Sem esses avanços tecnológicos, provavelmente não haveria os shows musicais que atraem multidões. Sem eletricidade, não existiriam microfones para ampliar a voz dos cantores e o som dos instrumentos que os acompanham. Não haveria, por exemplo, guitarras elétricas hoje tão comuns e, sem elas, não creio que existisse o rock. Sem rádio, televisão ou internet, e com jornais sendo impressos tão artesanalmente, como eram antes do advento da energia elétrica, não haveria como divulgar os eventos, se esses fossem realizados, a despeito das dificuldades de locomoção então existentes. E estes ficariam inviabilizados também (e principalmente) por falta de público.
Não é preciso ir muito longe. Na Copa do Mundo de Futebol de 1930, disputada no Uruguai, as poucas seleções européias que se dispuseram a participar, vieram de navio para o país sede, com semanas de viagem pelo mar, bastante desgastantes e irritantemente morosas. O mesmo ocorreu com os selecionados sul-americanos (entre os quais o brasileiro) nos mundiais de 1934, na Itália e 1938, na França. Com os primeiros jogos olímpicos ocorreu a mesma coisa.
Hoje os clubes disputam, por exemplo, o Campeonato Brasileiro, das quatro séries da competição (A, B, C e D), deslocando-se por distâncias há não muito inconcebíveis de serem percorridas neste nosso país de dimensões continentais. E esses deslocamentos são coisas tão corriqueiras que sequer são mencionados nos noticiários. De avião, levam poucas horas somente.
Os meios de comunicação divulgam de tal sorte esses eventos, que mesmo os que não apreciam essa modalidade esportiva, ficam sabendo de tudo o que acontece com as várias equipes e seus atletas e treinadores, antes, durante e após os jogos. Essa divulgação maciça resulta – quando os jogos têm potencial de serem bons – em enorme afluência de público aos estádios, o que também só é possível com a existência dos modernos veículos automotores que rodam pelas cidades, embora estas estejam cada vez mais abarrotadas deles.
Já imaginaram assistir a um jogo entre Santos e Corinthians, pela Copa Libertadores da América, na Vila Belmiro, tendo que ir para lá em diligências, ou, o que seria mais comum, provável e verossímil, em lombo de burro, vencendo uma Serra do Mar sem a Via Anchieta e sem a Rodovia dos Imigrantes, em incertas trilhas no meio da mata? Primeiro, não haveria esse jogo. Segundo, provavelmente, nenhum desses dois times (e outros quaisquer) existiria. E muito menos haveria uma competição continental de futebol, como a Copa Libertadores da América.
No que diz respeito aos meios de comunicação, o que virá a seguir? Com quais facilidades e maravilhas seremos surpreendidos e obsequiados pela miraculosa tecnologia do século XXI? É algo absolutamente impossível de se prever. Quem tentar fazê-lo, certamente, dará com os burros na água. Humberto Eco, romancista italiano, em entrevista publicada no caderno "Mais!", do jornal "Folha de S. Paulo", em 14 de maio de 1995, descartou, até, a possibilidade de se teorizar sobre a comunicação do amanhã, tamanha é a incerteza. Escreveu: "Ninguém pode escrever hoje uma teoria das mídias, porque é como fazer uma teoria da semana que vem. Não dá para escrever uma teoria do futuro, mesmo que você seja futurologista". E não dá mesmo!
Raramente pensamos como o mundo era há tão pouco tempo, coisa de menos de 200 anos, antes do advento da eletricidade e de todos os avanços tecnológicos que ela propiciou. Igualmente, não refletimos nas dificuldades de locomoção sem os aviões, os trens de alta velocidade, os ônibus, os caminhões, as vans e principalmente o automóvel. Eles são poluentes? São, sem dúvida, e demais! Mas é possível manter o padrão de vida atual sem eles? Responda você mesmo, caro leitor.
Pesquisas continuam sendo feitas, em várias partes do mundo, pelos mais brilhantes e engenhosos cérebros, para tornar esses meios de transporte mais eficientes e menos poluentes. Até porque, os combustíveis fósseis utilizados por eles para a locomoção, cujos resíduos são tão danosos ao meio ambiente, estão ou em vias de se esgotar ou, se ainda não estiverem, isso não tardará a acontecer, mais tempo, menos tempo. O que é impensável ao homem moderno é a hipótese, sequer remota, de ficar sem essas revolucionárias máquinas, que fizeram o milagre de “encolher” o mundo, aproximar povos e transformar, virtualmente, o Planeta em mera aldeia, posto que de mais de 7 bilhões de “aldeões”. .
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