Sunday, December 17, 2017

Violência insana

Pedro J. Bondaczuk

A humanidade vive momentos dramáticos e decisivos, em decorrência da insólita, ousada e estúpida série de atentados terroristas que atingiu o coração do poder econômico (Nova York) e político-militar (Washington) do mundo, com consequências absolutamente imprevisíveis.

O governo norte-americano (certamente) vai revidar a esses atos de guerra, tão logo seus autores sejam identificados. Esses incidentes, dependendo do poderio empregado pelos Estados Unidos em suas ações retaliatórias (se com armas nucleares ou não) e da sua extensão, pode significar a semente maldita da temida (e até impensável, por suas implicações para o Planeta), Terceira Guerra Mundial! Exagero? Tomara que sim! Assistimos, surpresos e aterrorizados, a um incidente até pior do que o ataque japonês ao porto de Pearl Harbor, no Hawaí, em 7 de dezembro de 1941, que precipitou a entrada norte-americana na Segunda Guerra Mundial.

O caso, logicamente, é de enorme, imensa, extrema gravidade. Quanta? Depende da intensidade da resposta a ser dada pela superpotência mundial. Os destinos de toda a humanidade estão, pois, nas mãos dos líderes da única e verdadeira potência do nosso tempo, notadamente do seu presidente, George W. Bush, cujo equilíbrio emocional e tirocínio para administrar crises, convenhamos, não inspira confiança nem mesmo na população do seu país. A forma como foi eleito, mediante controvertida decisão da Corte Suprema dos EUA, após haver sido derrotado nas urnas pelo democrata Al Gore, é um indicativo de que não se trata do governante dos sonhos de ninguém.

Nós, campineiros, no entanto, posto que em menores proporções em termos de consequências, também estamos em estado de choque. A população sente-se desorientada e até mesmo incrédula, tomada por um sentimento amargo, misto de revolta, medo, impotência e incerteza, diante da tragédia que ontem se abateu sobre as nossas cabeças.

Acabamos de pagar pesadíssimo tributo à violência e à criminalidade, que continua sua escalada maldita, de sangue e de destruição, acumulando recordes sobre recordes, culminando com o chocante e irracional assassinato (homicídios sempre o são) do jovem e promissor prefeito petista, Antônio da Costa Santos, o popular e querido "Toninho do PT".

Essa morte, que abalou a nossa sociedade até suas raízes e repercutiu dolorosamente em todo o País (e no Exterior), veio, desgraçadamente, confirmar o que há muito já sabemos, embora estejamos impotentes para mudar. Ou seja, que estamos totalmente à mercê de bandidos impiedosos e selvagens que, usando como pretexto as dificuldades econômicas e sociais que todos enfrentamos em variáveis medidas, impõem, a ferro e fogo, a impiedosa lei das selvas, o código implacável do predador, escarnecendo da lei, certos da impunidade.

Já está mais do que na hora da sociedade se mobilizar, unir esforços, passar por cima de picuinhas ideológicas e tolas vaidades pessoais, e dar um basta a esses malfeitores desalmados, expulsando-os da nossa comunidade. Temos o dever e a tarefa de resgatar nossa cidade, nosso berço natal e dos nossos filhos e terra sagrada onde repousam nossos ancestrais. Ela nos pertence! É fruto do nosso talento e trabalho. Não pode, pois, permanecer em mãos sanguinárias e destruidoras. A violência na cidade atinge as raias do intolerável. É mister que se dê um basta definitivo a tão insólita situação.

Campinas tem que recuperar o status que ostentou em passado recente, conquistado a duras penas, de centro de cultura, de progresso e de saber. Tem que se livrar, urgentemente e de uma vez por todas, da lamentável e terrível pecha de "capital nacional do crime organizado", de entreposto das quadrilhas de tráfico de drogas e de centro de comando por excelência do roubo de caminhões e de cargas.

A cidade não merece tão terrível destino. E essa é uma tarefa inadiável. Compete não apenas aos responsáveis nominais pela segurança pública (que hoje não passa de uma piada). Ninguém se sente seguro em lugar algum.. Raros são os campineiros, por exemplo, que nunca estiveram, impotentes e humilhados, sob a mira de um revólver, no recesso do próprio lar, vendo seus entes queridos sob iminente ameaça à integridade física e à vida. Chega de conversa mole! Basta de planos mirabolantes que nunca saem do papel ou de promessas repetidas "ad nauseam", mas que jamais são cumpridas!

A cidade foi ferida não mais apenas no bolso, como vem ocorrendo há tempos, com as crescentes ondas de roubos, furtos e assaltos. Foi atingida na carne. Foi alvejada no coração. Recebeu covarde e contundente golpe na própria cabeça. Criminosos cínicos e asquerosos, inúteis parasitas, feras perigosas e predadoras, atentaram, e ceifaram prematuramente, a vida da nossa autoridade maior: o prefeito. É hora de reagir. E sobretudo de orar, para que nas próximas horas, o ódio, a intolerância, o fanatismo e a violência não levem o mundo todo pelos ares. Que Deus nos proteja!



(Texto escrito em 11 de setembro de 2001, publicado, como editorial, na Folha do Taquaral).



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