Saturday, December 16, 2017

Reforma política


Pedro J. Bondaczuk


A propaganda eleitoral pelo rádio e televisão, com vistas ao segundo turno das eleições municipais de 15 de novembro próximo, recomeçou e os ouvintes e telespectadores esperam que tenha um pouquinho mais de qualidade do que a que foi apresentada na primeira fase da campanha.

Ninguém mais suporta o culto à personalidade e o desfile de chavões e slogans, despidos de qualquer mensagem autenticamente política, em que esse horário, execrado pela maioria absoluta da população, se transformou.

É contestável se esse tipo de apresentação tem algum efeito real na formação da opinião do eleitorado. Falta um estudo a respeito, embora pesquisas informais revelem que a maioria sequer assiste a tais programas, os trocando pelo aluguel de vídeos ou por outro tipo de lazer que substitui esse espaço de tempo indevidamente ocupado no rádio e na TV. E os que os assistem, não conseguem levar a sério o que ali se diz ou se mostra.

A crítica não se destina, evidentemente, às agências de publicidade que os produzem. Estas até que fazem milagres para "vender seu produto", no caso a imagem dos políticos. Estes é que na maioria das vezes não têm ideologia, programa ou alguma ideia minimamente criativa para solucionar os problemas da comunidade a que se propõem a administrar.

Aliás, há muito que o País requer uma reforma nessa atividade nobre, mas que entre nós se tornou sinônimo de oportunismo e falsa esperteza. Não se pode generalizar, é evidente. Mas a maioria é assim. Os poucos bons políticos acabam pagando pelos maus. É preciso, sobretudo, valorizar os partidos, mas que sejam autênticos e não essa confusão de siglas, que salvo raras exceções, pouco ou nada significam.

É indispensável a instituição do voto distrital, para que o eleitor se identifique com as pessoas que elege e tenha condições de cobrar serviço delas. É necessária uma ampla e bem planejada reforma política, que deveria preceder as demais que estão em andamento no Congresso (previdenciária, administrativa, fiscal, etc).

A fidelidade partidária tem que ser restituída com urgência. Os partidos precisam de regras fixas que normatizem seu funcionamento e até mesmo sua existência. Ou seja, os que não obtiverem 5% de votos em eleições de âmbito nacional devem ser automaticamente extintos, por falta de representatividade, como ocorre na maioria dos países de Primeiro Mundo.

A crise brasileira, em decorrência de 37 anos de ditadura neste século (15 anos com Getúlio Vargas e 22 anos com os militares) é, na verdade, política. Daí o desinteresse da população em relação à escolha de seus representantes e administradores, seja qual for a instância (municipal, estadual ou federal). É esta a reforma que as pessoas esclarecidas podem e devem cobrar em primeiro lugar, por ser hoje inadiável.

(Artigo escrito em 27 de outubro de 1996)


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