Balanço favorável
Pedro
J. Bondaczuk
O ano, que
está prestes a terminar, se não foi aquela maravilha das maravilhas
que todos esperavam – e sempre devemos esperar e, sobretudo,
trabalhar pelo melhor – em muitos aspectos pode ser considerado
positivo, em especial no que diz respeito à melhoria da segurança
dos campineiros. A violência urbana, por exemplo, que vinha batendo
recordes sobre recordes, em especial de homicídios, recrudesceu.
Parte
considerável dessa redução, das intoleráveis taxas de mortalidade
por causas violentas (incluindo acidentes, principalmente de
trânsito) –, que têm como vítimas notadamente pessoas jovens, na
faixa dos 16 aos 30 anos –, se deveu, sem dúvida, a uma ampla
mobilização da sociedade, que não somente cobrou mais ações das
autoridades, mas também agiu, promovendo campanhas de esclarecimento
e criando importantes mecanismos preventivos, como o serviço
“Disque-Denúncia”, por exemplo.
Isto
não quer dizer, é claro, que a “guerra” já esteja vencida.
Pelo contrário. A população tem que continuar mobilizada, atenta,
participativa e alerta, pois o que está em jogo é precioso demais
para ser desprezado: a vida e o patrimônio de cada cidadão. É
certo que 2002 começou de forma assustadora, no que diz respeito à
violência urbana.
Sequestros,
dos mais ousados e em quantidades absurdamente altas, sucediam-se, um
após o outro, dia após dia, levando, em determinado momento, pânico
aos lares campineiros. Os moradores sentiam-se cada vez mais
inseguros, mais vulneráveis e mais temerosos diante desses
acontecimentos.
Esta
sucessão de crimes culminou com um caso de repercussão nacional,
que horrorizou as famílias, não apenas de Campinas, mas de todo o
País, que foi o brutal assassinato da comerciante Rosana Rangel
Mellotti, de 52 anos, sequestrada em 4 de janeiro e executada, seis
dias depois, na porta da sua casa, no bairro do Taquaral, com três
tiros de fuzil. A execução ocorreu, ao que se sabe, porque o marido
da vítima não conseguiu os R$ 300 mil pedidos pelos sequestradores,
a título de resgate.
Tudo
indicava, àquela altura dos acontecimentos, que 2002 superaria, até
com facilidade, os trágicos recordes de homicídios registrados no
ano anterior. Um estudo, publicado pela imprensa da cidade, revelou,
na época, por exemplo, que o índice de assassinatos ocorridos em
Campinas, em 2001 (62,8 por grupo de cem mil habitantes), superava,
com absurda folga, (era quase oito vezes maior), proporcionalmente, o
registrado na cidade de Nova York, a terceira maior metrópole do
mundo.
Chacinas
sucediam-se, em especial na periferia, para o desespero de seus
apavorados moradores, literalmente reféns, principalmente de
traficantes de drogas. O primeiro mês do ano terminou com o registro
de 49 homicídios em Campinas, cifra 58% superior à que havia sido
registrada no mesmo período do ano passado. Os meses seguintes
mantiveram elevadas médias de ocorrências. E os campineiros,
atormentados, perguntavam a todo o instante: “Onde tudo isso vai
parar?”.
Na
noite de 30 de março, por exemplo, ocorreu a maior chacina na
história da cidade, quando cinco pessoas foram bárbara e
covardemente assassinadas a tiros, no Jardim Campo Belo, a somente
cem metros de onde estava sendo realizado o Baile Popular do Sábado
de Aleluia, promovido pela Prefeitura, em parceria com a Associação
de Moradores.
Felizmente,
a partir daí, intensificou-se a campanha para a utilização do
“Disque-Denúncia”. As cobranças às autoridades também
aumentaram. Polícia e sociedade passaram a colaborar mais
estreitamente. E o clima de pânico e violência começou a se
distender, a princípio lentamente, e depois de forma mais intensa.
Dessa
forma, Campinas chega a dezembro com 115 homicídios a menos do que
em 2001 (até o dia 17), revertendo uma perversa tendência
crescente, que vinha se mantendo já por quatro ou cinco anos
consecutivos. É o ideal? Claro que não! Melhor seria, obviamente,
que a taxa de mortes violentas chegasse a zero. Ou, na pior das
hipóteses, que não passasse do índice de Nova York, de 7,9 casos
por cem mil habitantes.
Note-se
que a metrópole norte-americana tem 12 milhões de moradores, contra
o 1 milhão (se tanto) de Campinas. Como isso não é possível, pelo
menos no curto prazo, é preciso que autoridades e sociedade
continuem trabalhando em conjunto, obtendo melhorias na segurança de
mês para mês. Que medidas preventivas sejam rapidamente adotadas e
não se limitem a meros discursos.
E
que todos os cidadãos, indistintamente, participem, de uma maneira
ou de outra, nesta meritória cruzada pela segurança e pela paz
social. Porque os omissos, os individualistas, os que pensam apenas
neles mesmos, sem se preocupar com o que ocorre sequer com o vizinho
ao lado, têm que se conscientizar que nada impede que eles sejam a
próxima vítima.
(Texto
publicado como editorial na Folha do Taquaral em fevereiro de 2002).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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