Monday, December 25, 2017

Balanço favorável



Pedro J. Bondaczuk


O ano, que está prestes a terminar, se não foi aquela maravilha das maravilhas que todos esperavam – e sempre devemos esperar e, sobretudo, trabalhar pelo melhor – em muitos aspectos pode ser considerado positivo, em especial no que diz respeito à melhoria da segurança dos campineiros. A violência urbana, por exemplo, que vinha batendo recordes sobre recordes, em especial de homicídios, recrudesceu.

Parte considerável dessa redução, das intoleráveis taxas de mortalidade por causas violentas (incluindo acidentes, principalmente de trânsito) –, que têm como vítimas notadamente pessoas jovens, na faixa dos 16 aos 30 anos –, se deveu, sem dúvida, a uma ampla mobilização da sociedade, que não somente cobrou mais ações das autoridades, mas também agiu, promovendo campanhas de esclarecimento e criando importantes mecanismos preventivos, como o serviço “Disque-Denúncia”, por exemplo.

Isto não quer dizer, é claro, que a “guerra” já esteja vencida. Pelo contrário. A população tem que continuar mobilizada, atenta, participativa e alerta, pois o que está em jogo é precioso demais para ser desprezado: a vida e o patrimônio de cada cidadão. É certo que 2002 começou de forma assustadora, no que diz respeito à violência urbana.

Sequestros, dos mais ousados e em quantidades absurdamente altas, sucediam-se, um após o outro, dia após dia, levando, em determinado momento, pânico aos lares campineiros. Os moradores sentiam-se cada vez mais inseguros, mais vulneráveis e mais temerosos diante desses acontecimentos.

Esta sucessão de crimes culminou com um caso de repercussão nacional, que horrorizou as famílias, não apenas de Campinas, mas de todo o País, que foi o brutal assassinato da comerciante Rosana Rangel Mellotti, de 52 anos, sequestrada em 4 de janeiro e executada, seis dias depois, na porta da sua casa, no bairro do Taquaral, com três tiros de fuzil. A execução ocorreu, ao que se sabe, porque o marido da vítima não conseguiu os R$ 300 mil pedidos pelos sequestradores, a título de resgate.

Tudo indicava, àquela altura dos acontecimentos, que 2002 superaria, até com facilidade, os trágicos recordes de homicídios registrados no ano anterior. Um estudo, publicado pela imprensa da cidade, revelou, na época, por exemplo, que o índice de assassinatos ocorridos em Campinas, em 2001 (62,8 por grupo de cem mil habitantes), superava, com absurda folga, (era quase oito vezes maior), proporcionalmente, o registrado na cidade de Nova York, a terceira maior metrópole do mundo.

Chacinas sucediam-se, em especial na periferia, para o desespero de seus apavorados moradores, literalmente reféns, principalmente de traficantes de drogas. O primeiro mês do ano terminou com o registro de 49 homicídios em Campinas, cifra 58% superior à que havia sido registrada no mesmo período do ano passado. Os meses seguintes mantiveram elevadas médias de ocorrências. E os campineiros, atormentados, perguntavam a todo o instante: “Onde tudo isso vai parar?”.

Na noite de 30 de março, por exemplo, ocorreu a maior chacina na história da cidade, quando cinco pessoas foram bárbara e covardemente assassinadas a tiros, no Jardim Campo Belo, a somente cem metros de onde estava sendo realizado o Baile Popular do Sábado de Aleluia, promovido pela Prefeitura, em parceria com a Associação de Moradores.

Felizmente, a partir daí, intensificou-se a campanha para a utilização do “Disque-Denúncia”. As cobranças às autoridades também aumentaram. Polícia e sociedade passaram a colaborar mais estreitamente. E o clima de pânico e violência começou a se distender, a princípio lentamente, e depois de forma mais intensa.

Dessa forma, Campinas chega a dezembro com 115 homicídios a menos do que em 2001 (até o dia 17), revertendo uma perversa tendência crescente, que vinha se mantendo já por quatro ou cinco anos consecutivos. É o ideal? Claro que não! Melhor seria, obviamente, que a taxa de mortes violentas chegasse a zero. Ou, na pior das hipóteses, que não passasse do índice de Nova York, de 7,9 casos por cem mil habitantes.

Note-se que a metrópole norte-americana tem 12 milhões de moradores, contra o 1 milhão (se tanto) de Campinas. Como isso não é possível, pelo menos no curto prazo, é preciso que autoridades e sociedade continuem trabalhando em conjunto, obtendo melhorias na segurança de mês para mês. Que medidas preventivas sejam rapidamente adotadas e não se limitem a meros discursos.

E que todos os cidadãos, indistintamente, participem, de uma maneira ou de outra, nesta meritória cruzada pela segurança e pela paz social. Porque os omissos, os individualistas, os que pensam apenas neles mesmos, sem se preocupar com o que ocorre sequer com o vizinho ao lado, têm que se conscientizar que nada impede que eles sejam a próxima vítima.


(Texto publicado como editorial na Folha do Taquaral em fevereiro de 2002).



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