Talento e empenho
Pedro J. Bondaczuk
O talento, ou seja, aquela aptidão especial que algumas pessoas têm
para determinadas artes, ou tarefas, ou para certos tipos de
trabalho, é algo inato ou pode vir a ser desenvolvido com o tempo,
com aplicação, disciplina e genuíno interesse? Essa é uma
discussão que se arrasta por séculos, sem que ninguém chegue a uma
conclusão incontestável.
Minha opinião de leigo, mas de alguém dotado de alguma experiência,
pelos tantos anos já vividos, é que as duas correntes têm lá a
sua dose de razão. Há pessoas que já nascem talentosas – ou para
a música, ou para a pintura, ou para a literatura – e manifestam,
inclusive, essa vocação de maneira precoce. Amadeus Wolfgang
Mozart, por exemplo, aos quatro anos de idade já compunha peças
musicais de fazer inveja a compositores sessentões.
Todavia, apenas essa aptidão natural não basta para fazer de quem
quer que seja um artista consagrado, um cientista criativo ou um
trabalhador altamente produtivo. Requer-se estudo, treinamento,
disciplina, constância, capacidade de observação e, sobretudo,
amor, muito amor por aquilo que se faz. Sem isso, em questão de
dias, qualquer talento em potencial desaparece e resulta em coisa
nenhuma.
No outro extremo tomemos alguém que não conte com vocação
especial para coisíssima alguma. Todavia, se essa pessoa se
interessar por determinada atividade, se procurar aprender tudo o que
diga respeito a ela, se for observadora, disciplinada, determinada e
praticá-la exaustivamente, sempre buscando performance melhor, em
determinado ponto de suas tentativas (caso não desanime antes,
claro) haverá de compor magnífica sinfonia (se sua paixão for a
música), pintar uma tela de fazer inveja a Vermeer (se for pintura),
esculpir uma estátua que rivalize com o David de Michelângelo,
escrever um poema que não fique nada a dever a Victor Hugo e assim
por diante.
Caso seu interesse seja pela ciência, desvendará mistérios tidos
como insondáveis a exemplo de Copérnico, descobrirá como curar
doenças consideradas incuráveis como fez Louis Pasteur, criará
vacinas que erradicarão terríveis moléstias da face da Terra como
Albert Sabin, formulará princípios que expliquem o macro e o micro
universo tal qual a Teoria da Relatividade de Albert Einstein e assim
por diante. Mas a condição sine qua non para que isso aconteça é
que ame, ame louca e profundamente, sem a mínima restrição, a
atividade a que dedicará sua vida.
Talento é ponto de partida e não reta de chegada das grandes
realizações. O Mestre dos Mestres deixou isso claro, claríssimo na
inigualável parábola a respeito que nos legou. Quem enterrar suas
aptidões, por medo de fracasso, as perderá inexoravelmente. Nenhuma
obra que realmente valha a pena nasce espontaneamente, e já
prontinha, na cabeça de quem quer que seja, por mais talentosa que
essa pessoa possa ser. É sempre fruto de trabalho, de muito
trabalho, além de disciplina, inteligência, vontade e infinito
amor. Em contrapartida, os que buscarem desenvolver aptidões com
dedicação e método e contarem com as características que citei,
haverão de adquirir outras tantas, com as quais sequer atinavam. É
pura questão de lógica.
Raros são os que não conhecem algum indivíduo tido e havido como
extremamente talentoso, mas que fracassou fragorosamente na vida,
dada sua indolência e falta de amor ao trabalho. Há muita gente
assim mundo afora: fracassada, ressentida, despeitada, viciada até,
lançando, invariavelmente, a culpa de seus fracassos nos outros,
quando estes resultaram, exclusivamente, da sua arrogância e,
principalmente, da sua inércia.
O escritor Máximo Gorky deixou isso bastante claro em sua “Carta
aos jovens escritores”, ao constatar, do alto da sua vasta
experiência: “O talento desenvolve-se no amor que pomos no que
fazemos. Talvez até a essência da arte seja o amor pelo que se faz,
o amor pelo próprio trabalho”.
Muitos, certamente, irão discordar das minhas colocações e é bom
que assim aconteça. Mas discordem com argumentos, sólidos e
inquestionáveis, contudo jamais com impropérios e ataques pessoais,
modo de ação dos medíocres e dogmáticos. Toda discussão em alto
nível traz algum tipo de esclarecimento, mesmo que não se trate do
definitivo.
O principal conselho que posso oferecer aos aspirantes a escritores
(atividade pela qual sou apaixonado e que polariza toda a minha
atenção na maior parte do meu tempo), mas que vale para quem aspire
o sucesso em outras artes (ou em ciência) é que ame sem restrições
o que faz. Se não lhe for possível dedicar esse amor irrestrito,
escolha, pois, alguma coisa de que realmente venha a gostar de fazer.
E esqueça essa história de talento.
Leia, pesquise, observe, pratique, exponha, aceite críticas
pertinentes, ignore as impertinentes e siga em frente. Estou certo de
que lerei, um dia, seus livros, com empatia e satisfação, todos
alçados à condição de best-sellers. Você será um vencedor! Por
isso, reitero: Siga sempre em frente, sem vacilar!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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