Baixas na campanha
Pedro J. Bondaczuk
A reforma ministerial,
promovida no início do mês, pelo presidente Fernando Henrique
Cardoso --- necessária, em virtude da exigência de
desincompatibilização de ministros que serão candidatos a governos
estaduais, Câmara e Senado nas eleições de 4 de outubro próximo
--- desgastou um pouco mais a imagem do governo, que já não andava
muito boa desde o ano passado, pela forma como ocorreu.
Passou a impressão, para a
opinião pública, de tratar-se de outra "gigantesca barganha
política", como ocorreu no caso da aprovação da emenda da
reeleição, no início de 1997. Principalmente porque, na mudança,
parece que não foi levada em conta a competência dos indicados para
os cargos que assumiram. Essa imagem pode até ser injusta e falsa.
Mas foi a que ficou. O nome mais polêmico, entre os agraciados com
ministérios, foi o de Renan Calheiros, que foi líder do governo de
Fernando Collor e um dos seus braços direitos, e que substitui a
Eliseu Resende, na pasta da Justiça.
Mas a maior disputa ocorreu no
Ministério da Agricultura, comandado até recentemente pelo
petebista Arlindo Porto, que acabou indo parar nas mãos do malufista
Francisco Turra. Por causa dessa decisão, o PTB decidiu retirar-se
da base governista, passando a uma discreta oposição. Outro
mal-estar, que se manifestou até nas hostes tucanas, foi a "fritura"
do ministro Carlos Albuquerque, na Saúde. A pasta foi entregue a uma
das mais populares figuras do PSDB, o senador José Serra, que no
entanto é um economista e que provavelmente nada entende de
medicina. Se vai dar certo, nesse problemático cargo, só o tempo
irá mostrar.
As pesquisas de opinião
revelam que a reforma ministerial comprometeu a imagem do presidente,
dando mais munição ainda aos seus adversários na corrida
presidencial. Mormente a Luís Inácio Lula da Silva, seu principal
concorrente, e com menor intensidade, a Ciro Gomes. Ademais, o
desemprego continua ascendente, o que pode ser o principal obstáculo
à reeleição de Fernando Henrique. Mas o maior perigo enfrentado
por ele, para a obtenção do segundo mandato, é um certo clima de
"já ganhou", que transparece na aliança que lhe dá
sustentação.
Eleições nunca são ganhas
na véspera. São inúmeros os casos em que favoritos disparados nas
pesquisas (como é o caso atual de FHC), tiveram amarga decepção
após a apuração dos votos. Claro que o presidente não está a
salvo desse dissabor. Até porque, embora seja inegável que o real
vai muito bem, com a inflação anual tendendo a ficar abaixo de 5%
no acumulado, o brasileiro não usufrui dessa mesma excelência. O
comércio está com dificuldades, a indústria segue demitindo e o
dinheiro é cada vez mais escasso na praça.
Para complicar, Fernando
Henrique perde, por motivo de doença, seu mais fiel "escudeiro"
para a campanha, seu amigo pessoal, interlocutor íntimo e homem da
sua mais absoluta confiança, o ministro das Comunicações, Sérgio
Motta. Suas funções na equipe governista foram divididas por três:
Juarez Quadros passa a ocupar o ministério interinamente; Luiz
Carlos Mendonça de Barros torna-se o novo coordenador das
privatizações das companhias de telecomunicações, enquanto
Eduardo Jorge irá coordenar o esforço da reeleição. Por aí, dá
para perceber a enorme importância de "Serjão" no
governo.
O presidente pode até vir a
ser reeleito, num voto de confiança da população à complementação
de sua tarefa de estabilização da moeda e de reforma do Estado. Mas
nenhum analista sério e independente pode endossar as pesquisas e
afirmar, neste momento, com certa dose de certeza, que a vitória
está assegurada e que o comparecimento às urnas não passa de mera
formalidade, como se apregoa por aí. Até outubro, "muita água
ainda vai passar por baixo da ponte"...
(Artigo escrito em 13 de abril
de 1998)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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