Wednesday, December 06, 2017

Baixas na campanha


Pedro J. Bondaczuk


A reforma ministerial, promovida no início do mês, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso --- necessária, em virtude da exigência de desincompatibilização de ministros que serão candidatos a governos estaduais, Câmara e Senado nas eleições de 4 de outubro próximo --- desgastou um pouco mais a imagem do governo, que já não andava muito boa desde o ano passado, pela forma como ocorreu.

Passou a impressão, para a opinião pública, de tratar-se de outra "gigantesca barganha política", como ocorreu no caso da aprovação da emenda da reeleição, no início de 1997. Principalmente porque, na mudança, parece que não foi levada em conta a competência dos indicados para os cargos que assumiram. Essa imagem pode até ser injusta e falsa. Mas foi a que ficou. O nome mais polêmico, entre os agraciados com ministérios, foi o de Renan Calheiros, que foi líder do governo de Fernando Collor e um dos seus braços direitos, e que substitui a Eliseu Resende, na pasta da Justiça.

Mas a maior disputa ocorreu no Ministério da Agricultura, comandado até recentemente pelo petebista Arlindo Porto, que acabou indo parar nas mãos do malufista Francisco Turra. Por causa dessa decisão, o PTB decidiu retirar-se da base governista, passando a uma discreta oposição. Outro mal-estar, que se manifestou até nas hostes tucanas, foi a "fritura" do ministro Carlos Albuquerque, na Saúde. A pasta foi entregue a uma das mais populares figuras do PSDB, o senador José Serra, que no entanto é um economista e que provavelmente nada entende de medicina. Se vai dar certo, nesse problemático cargo, só o tempo irá  mostrar.

As pesquisas de opinião revelam que a reforma ministerial comprometeu a imagem do presidente, dando mais munição ainda aos seus adversários na corrida presidencial. Mormente a Luís Inácio Lula da Silva, seu principal concorrente, e com menor intensidade, a Ciro Gomes. Ademais, o desemprego continua ascendente, o que pode ser o principal obstáculo à reeleição de Fernando Henrique. Mas o maior perigo enfrentado por ele, para a obtenção do segundo mandato, é um certo clima de "já ganhou", que transparece na aliança que lhe dá sustentação.

Eleições nunca são ganhas na véspera. São inúmeros os casos em que favoritos disparados nas pesquisas (como é o caso atual de FHC), tiveram amarga decepção após a apuração dos votos. Claro que o presidente não está a salvo desse dissabor. Até porque, embora seja inegável que o real vai muito bem, com a inflação anual tendendo a ficar abaixo de 5% no acumulado, o brasileiro não usufrui dessa mesma excelência. O comércio está com dificuldades, a indústria segue demitindo e o dinheiro é cada vez mais escasso na praça.

Para complicar, Fernando Henrique perde, por motivo de doença, seu mais fiel "escudeiro" para a campanha, seu amigo pessoal, interlocutor íntimo e homem da sua mais absoluta confiança, o ministro das Comunicações, Sérgio Motta. Suas funções na equipe governista foram divididas por três: Juarez Quadros passa a ocupar o ministério interinamente; Luiz Carlos Mendonça de Barros torna-se o novo coordenador das privatizações das companhias de telecomunicações, enquanto Eduardo Jorge irá coordenar o esforço da reeleição. Por aí, dá para perceber a enorme importância de "Serjão" no governo.

O presidente pode até vir a ser reeleito, num voto de confiança da população à complementação de sua tarefa de estabilização da moeda e de reforma do Estado. Mas nenhum analista sério e independente pode endossar as pesquisas e afirmar, neste momento, com certa dose de certeza, que a vitória está assegurada e que o comparecimento às urnas não passa de mera formalidade, como se apregoa por aí. Até outubro, "muita água ainda vai passar por baixo da ponte"...


(Artigo escrito em 13 de abril de 1998)




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