Devagar também é pressa
Pedro
J. Bondaczuk
O
presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, enviou um recado,
direto de Moscou – onde está acompanhando a esposa, dona Ruth, que
participa de um evento na capital russa – aos “apressadinhos”,
que defendem uma reforma constitucional ainda nos dois meses e dez
dias que restam deste ano.
Alertou
que a pressa, nesse caso, pode resultar em desastre. Até porque, o
atual Congresso perdeu a oportunidade de entrar para a História com
um perfil modernizador, ao se omitir da tarefa da Revisão
Constitucional. Não faz sentido, portanto, que os mesmos
parlamentares que fugiram dessa responsabilidade – quando havia
tempo hábil para mudanças inteligentes e indispensáveis –
pretendam agora, em fim de mandato, alterar uma Constituição que
não souberam valorizar.
É
verdade que o País tem urgência na modernização do Estado, e o
futuro presidente admitiu isso. Mas ponderou que não há razão
objetiva para imaginar que, se as reformas não forem feitas já –
por exemplo, amanhã – vá ocorrer uma catástrofe nacional.
A
situação, inclusive, não é desesperadora. Já foi muito pior.
Como esperar de uma Câmara e de um Senado, que não conseguiram
sequer votar o Orçamento de 1994 e nem debater as dezenas de Medidas
Provisórias das mais relevantes – principalmente a que instituiu a
nova moeda – faça uma revisão coerente, equilibrada e competente?
É
possível que sequer os parlamentares viessem a dar quorum para uma
pauta mínima, que não é aquilo que o País precisa. Desde que as
eleições terminaram, não se falou mais do Congresso. E não por
eventual má vontade dos meios de comunicação.
Ocorre
que os plenários das duas casas permanecem literalmente vazios, às
moscas e, por isso, não há o que noticiar. Deputados e senadores
simplesmente decidiram antecipar o recesso de fim de ano. Se voltarem
a se reunir, será para debater um eventual reajuste dos próprios
salários. Tivessem um mínimo de consciência cívica, debateriam,
isto sim, a devolução do dinheiro que receberam sem trabalhar.
Houve
até quem propusesse que as remunerações fossem simplesmente
triplicadas e passassem para R$ 12 mil mensais – fora as mordomias
e ajudas de custo – numa época em que os trabalhadores dão, mais
uma vez, sua contribuição – sempre eles – para a estabilização
econômica.
O
bom senso diz que por maior que seja a urgência de modernização do
Estado, entregar a tarefa a um Congresso, com o retrospecto do atual,
seria uma temeridade, senão uma sandice.
As
reformas que se impõem são, basicamente, quatro: a administrativa,
a tributária, a previdenciária e a mais sensível e urgente de
todas, a política. E por tudo que mostraram, nos últimos quatro
anos, honestamente, os atuais congressistas não estão habilitados
para encarar essa responsabilidade.
Passarão,
isto sim, para a História, com uma imagem bastante desgastada,
marcada por escândalos, corrupções, corporativismo e sobretudo
omissão, nos momentos agudos em que foram convocados a se
manifestar.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de
outubro de 1994).
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