Reformas atropeladas
Pedro J. Bondaczuk
As reformas constitucionais,
indispensáveis para que o País tenha um Estado enxuto e eficiente e
sobrem, dessa forma, recursos para investimentos em áreas
essenciais, como educação, saúde e segurança pública (nesta
ordem de prioridades), avançam aos "trancos e barrancos",
ao sabor dos acontecimentos.
Ora parecem que vão
finalmente sair do papel, ora empacam de novo, ora as negociações
voltam quase que à estaca zero, como se os congressistas tivessem
todo o tempo do mundo para modernizar a nossa arcaica legislação e
pôr ordem no caos estatal. Mas não têm, obviamente.
Crise sobre crise --- muitas
das quais forjadas ou no mínimo forçadas para desviar a atenção
da sociedade da morosidade dos trabalhos do Congresso --- têm
interrompido as votações de emendas de grande relevância, que
precisam ser negociadas, renegociadas, discutidas, barganhadas, tendo
como pano de fundo a máxima franciscana --- deformada de maneira
cínica na vida política brasileira --- do "é dando que se
recebe".
O ano começou com as
discussões, um tanto quanto fora de propósito, da reeleição.
Depois de um enorme dramalhão, com ameaças de partidos que compõem
a base de sustentação política do governo de fazer espetaculosas
rupturas (que não se configuraram), a emenda foi finalmente votada e
aprovada. Sabe-se lá às custas de quantas e quais concessões.
Decidida essa questão, que
não merecia o espaço que ganhou na imprensa, pela sua irrelevância,
nem o tempo que consumiu no Congresso, eleitas as mesas da Câmara e
do Senado, após um suspense digno do mestre nesse tipo de história,
Alfred Hitchcok, pensava-se que o caminho estivesse finalmente livre
para o debate sério, equilibrado e sobretudo técnico das reformas:
previdenciária, administrativa, fiscal, política...
Pensava-se...mas não era bem assim.
Eis que veio a lume, como que
tirado da cartola de um sádico mágico, o escândalo dos
precatórios. Foram semanas e mais semanas de pirotecnia verbal, de
denúncias bombásticas sem as competentes provas, de ameaças a
políticos, banqueiros, "laranjas" e "bananas" e
sabe-se lá que frutas mais, e de lances até circenses que ocuparam
as manchetes, concentrando as atenções gerais.
A população assistiu a tudo
entre atônita, revoltada e céptica quanto a se a Comissão
Parlamentar de Inquérito, criada para investigar o caso, iria
redundar em punição a quem quer que fosse, por parte do Judiciário,
que é a quem compete punir, ou não. E apostava na negativa. Hoje já
há quase certeza de que a CPI vai "terminar em pizza, com
sobremesa de marmelada". Desconfia-se que tudo não tenha
passado de um jogo de cena de potenciais candidatos, com vistas às
eleições de 1998.
Quanto às reformas? Vão
mal. O acordo para a elevação do teto dos deputados e ministros,
que gozem de aposentadorias (prematuríssimas e descabidas) de R$
10.800 (já alto demais) para R$ 21.600 (absolutamente imoral), se
não inviabiliza o projeto --- e até apressa, provavelmente, sua
aprovação --- decepciona, irrita, revolta e desencanta o cidadão.
O primeiro limite já
representava quase cem salários mínimos. O segundo... A emenda da
previdência está para ser reformulada pelo Senado, devendo retornar
à Câmara para começar tudo de novo...Da fiscal, nem se falou
ainda. Sobre a política, fantasia-se, mas não existe nada concreto.
Em suma, em três anos, pouquíssimo foi feito em termos de reforma,
embora tenha se falado demais sobre o assunto. Infelizmente, este é
o Brasil...
(Texto escrito em 13 de abril
de 1997, publicado como editorial na Folha do Taquaral).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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